Em show de despedida, Milton Nascimento chora, canta com amigos e homenageia Gal

Em show de despedida, Milton Nascimento chora, canta com amigos e homenageia Gal

Apresentação no estádio do Mineirão com a presença de mais de 60 mil pessoas

AE

Milton Nascimento coloca um ponto final em suas apresentações ao vivo, depois de uma carreira de seis décadas

publicidade

Visivelmente emocionado, Milton Nascimento dedicou sua última apresentação nos palcos à cantora Gal Costa, que morreu no último dia 9 de novembro. No domingo, 13  de novembro, no estádio do Mineirão lotado - a produção divulgou um público de 60 mil pessoas - Bituca colocou um ponto final em suas apresentações ao vivo, depois de uma carreira de seis décadas.

O ato derradeiro de "A Última Sessão de Música", a turnê que percorreu cidades do Brasil, Estados Unidos e Europa durante todo este ano, reuniu os principais sucessos da longa discografia do cantor e compositor carioca/mineiro. Estiveram no roteiro canções como "Morro Velho", "Travessia", "Encontros e Despedidas", "Cais", "Coração de Estudante", "Cálix Bento", "Tudo O que Você Podia Ser" e "Canção da América".

No meio da apresentação que durou mais de duas horas, Milton chamou ao palco companheiros de tempos de Clube da Esquina - neste ano, o volume um do Clube, de 1972, foi eleito o melhor disco da música brasileira por um júri convidado pelo projeto Discoteca Básica.

Os músicos Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes e Toninho Horta dividiram com Bituca as músicas "Para Lennon e McCartney" e "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo". Ausências sentidas, entre os convidados, foram Joyce Moreno e Alaíde Costa, duas vozes femininas que têm histórias marcantes com o Clube da Esquina e, sobretudo, com Milton.

Outro convidado de Bituca foi Samuel Rosa. Juntos, eles relembraram mais uma do Clube, "Trem Azul", composição assinada por Lô Borges e Ronaldo Bastos, este último letrista importante dentro da obra de Milton, assim como Fernando Brant (1946/2015). Para o último, Bituca soltou um caloroso "Eu te amo!".

Isso porque a saída definitiva de cena de Gal Costa, aos 77 anos e o afastamento de Milton dos palcos, aos 80 anos - o artista promete não deixar de compor e nem de cantar, mas as marcas do tempo já se tornam evidentes em seu corpo físico - colocam em marcha uma mudança de cenário inédita no que se convencionou chamar de MPB - a música popular brasileira.

A MPB e as novas gerações

A geração pós-bossa nova, da qual Gal e Milton fazem parte, não está acostumada às despedidas. As últimas que causaram impacto foram de Elis Regina (1982) e Clara Nunes (1983). Já se passaram 40 anos. Elza Soares, morta em 2021, foi conectada injusta e tardiamente como referência para a geração atual.

Milton e Gal, assim como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Edu Lobo, Nana e Dori Caymmi, Ney Matogrosso e tantos outros têm carreiras mais longevas que a geração do rádio ou da própria bossa.

Dalva de Oliveira e Angela Maria, divas que influenciaram Gal, Bethânia, Elis e até Milton, não ressoam diretamente na geração atual. Gal e Milton ficarão por muito tempo na cabeça dos futuros músicos e cantores.

No último show de Milton, o jovem Zé Ibarra, um dos vocalistas da banda Bala Desejo, é um dos seus discípulos. Ele esteve presente na maioria dos shows de Milton como músico e vocal de apoio. Ibarra e seu grupo também se espelham claramente em Gal, Gil, Caetano e Bethânia.

No velório de Gal, o cantor e compositor Silva, gravado pela baiana no disco "A Pele do Futuro" (2018), rendia homenagem a uma de suas influências musicais. Maria Gadu, que gravou vocais em "Cuidando de Longe", canção lançada por Gal também em 2018, sabia do caminho que a cantora baiana abriu para que sua geração pudesse se mostrar livre e inteiramente.

No Mineirão, o público e a equipe de Milton colocaram em prática o mantra das redes sociais: ninguém solta a mão de ninguém. Na despedida de Gal, faltou isso, sobretudo de seus pares da classe artística.

As histórias musicais de Gal e Milton se cruzaram tardiamente, em 1978, quando a cantora gravou "Paula e Bebeto", parceria de Bituca e Caetano Veloso. Era a primeira vez que ela gravava Milton, depois de mais de dez anos de carreira. A música é uma celebração ao amor. "Eles partiram por outros assuntos, muitos/ Mas no meu canto estarão sempre juntos, muito", diz a letra. A mais pura tradução deste momento.


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895