Embate entre gerações move relacionamentos em "Rasga Coração"

Embate entre gerações move relacionamentos em "Rasga Coração"

Adaptação da obra do escritor Oduvaldo Vianna Filho estreia na próxima quinta-feira

Adriana Androvandi

Drica Moraes e Marco Ricca formam um casal de classe média na história de "Rasga Coração"

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O novo filme de Jorge Furtado, trabalho em equipe da Casa de Cinema de Porto Alegre, chega aos cinemas na próxima quinta-feira. Com o título “Rasga Coração”, trata-se de uma adaptação da última peça escrita por Oduvaldo Vianna Filho, conhecido como Vianinha, em 1974. O autor brasileiro morreu no mesmo ano, sem assistir ao texto levado aos palcos.

Em entrevista ao Correio do Povo, Furtado conta que assistiu à peça em uma montagem realizada por José Renato em São Paulo em 1980. A dramaturgia o marcou e há um longo período o cineasta pensava em transformá-la em filme. O incentivo para que o trabalho efetivamente começasse ocorreu nos protestos ocorridos no Brasil em 2013. Ali, Furtado se deu conta de que uma nova geração saia às ruas, reclamando de forma diversa do que a sua tinha feito. E o conflito sobre visões de mundo é sempre recorrente. “O filme trata dessa política que anda em ciclos”, diz o diretor, observando que cada geração se rebela à sua maneira.

A narrativa acompanha um casal de classe média, formado por Manguari (Marco Ricca) e Nena (Drica Moraes), que lida com problemas financeiros e com a adolescência do filho Luca (Chay Suede). No livro, a trama se desenrola nos anos 70. Furtado adaptou-a para os dias de hoje. Por isso, fez algumas modificações, mas não foram tantas quanto se possa pensar. “Considero o texto de ‘Rasga Coração’ muito atual”, opina Furtado. No original, o filho era um hippie. Agora, entram em cena outras questões comportamentais, como as de gênero.





A história é ambientada no Rio de Janeiro, mas foi rodada em Porto Alegre, com apenas algumas cenas aéreas, feitas com drones, e poucos takes nas ruas de Copacabana. O ambiente familiar demonstra perspectivas de mundo das diferentes gerações, inclusive na maneira como acreditam ser necessário engajar-se para “melhorar o mundo”.

No filme, Manguari é um funcionário público que guarda os ideais comunistas de quando protestava contra o regime militar brasileiro. Seu filho, Luca, estudante de Medicina, mostra outro tipo de preocupação, voltada a uma alimentação natural, ecologia e a quebra de padrões estabelecidos na maneira de se vestir. Os conflitos em casa fazem com que Manguari relembre seu passado e a relação com seu pai (Nelson Diniz), bastante rígido.

Apesar de tentar ser parceiro do filho, Manguari percebe que precisa lhe dar limites, o que gera discussões. Passado e presente se alternam e por vezes se fundem, costurados por canções. A parte musical e tragicômica conta com Lorde Bundinha (George Sauma), um amigo do protagonista. “Lorde Bundinha é um anarquista, cuja figura se torna um fantasma para Manguari”, observa Furtado. “O melhor do texto de Vianinha é que ele construiu oito personagens e todos eles têm a sua razão. É muito rico”, elogia. A seu modo, cada um luta pelo que acredita.

Com o título emprestado de uma canção de Anacleto de Medeiros, o livro sobre o qual o cineasta se debruçou é de uma edição mais antiga, que trazia na mesma publicação a peça e o dossiê com material de pesquisa reunido pelo autor. Uma nova edição foi lançada pela editora Temporal, o que permite que a obra seja revisitada. “Rasga Coração” e “Dossiê de pesquisa” estão agora em dois volumes separados. Dos pensamentos do autor, se pode refletir que o verdadeiro ato revolucionário “é a luta contra o cotidiano, feita de cotidiano”. Dele ninguém escapa.

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