Envelhecimento no Brasil exige ações do governo, diz jornalista
Autor de "Viver Muito - Outras Ideias Sobre Envelhecer Bem no Século XXI" deu palestra na Feira
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Depois de acompanhar, como jornalista, toda a reforma da previdência no governo Fernando Henrique Cardoso, Jorge Félix resolveu voltar a estudar, mas algo não relacionado à mídia. No mestrado de economia, encontrou possibilidades de estudos na área de envelhecimento. Félix mudou o próprio enfoque. Se até então encarava o tema por um viés previdenciário, agora o trata de uma forma multidisciplinar. "Percebi que não adianta equacionar o envelhecimento apenas pela questão previdenciária, a partir da política fiscal do governo. Se uma sociedade vai ficar envelhecida, há inúmeros aspectos a serem considerados: entre eles urbanístico, educacional, de saúde e arranjos familiares", cita o autor.
A preocupação tem motivos: o segmento populacional que mais cresce no Brasil, a cada ano, são pessoas com mais de 80 anos, justamente os que requerem cuidados, e conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil vive um crescimento populacional moderado acelerado. Para o IBGE, idosos são pessoas com mais de 60 anos, o que significa atualmente 11% da população. Nos países ricos, idosos têm mais de 65, e como o Brasil está enriquecendo, muitos estudos e leis consideram idosos com mais de 65, o que seria hoje 7% da população. Porto Alegre é uma das cidades mais envelhecidas do pais, com percentual de 13%, sublinha Felix.
Ao analisar os países com altas taxas de envelhecimento, como China, Félix entendeu que não interessa se o governo é a favor de mais ou menos Estado na sociedade. "Não é isso que se discute quando se fala de envelhecimento. O que está acontecendo é que em todos os países o Estado tem sido chamado a atender a inexorável demanda", aponta o escritor. E o Brasil está, no mínimo, atrasado, avisa. "Estamos vivendo uma Copa do envelhecimento. Na metade do século teremos um índice de idosos igual ao de países europeus". Conforme ele, a ONU considera uma sociedade envelhecida quando 14% de seus indivíduos estão com mais de 50 anos.
A razão do envelhecimento é simples. Vem da balança entre os índices de expectativa de vida e fecundidade. Estamos com a expectativa de vida de 73 anos e uma fecundidade abaixo da taxa de reposição da população, que seria 2,5 filhos por mulher. Com isso, a população economicamento ativa encolhe nos próximos anos, e aumenta a taxa de dependência - diminui o número de trabalhadores para um número maior de aposentados.
"Teremos que nos convencer que o fato de envelhermos melhor significa que vamos ter que trabalhar por mais um tempo, não adianta", avisa Félix. Até, quem sabe, os 65 ou 70 anos. No entanto o trabalho não é o único fator. Até as ruas carecem de caminhos para os idosos. "A questão do transporte público é fundamental, assim como saúde e bem estar". O gasto do governo, nessa gangorra, vai mudar de coluna. Gastará menos em previdência e mais com sistema de segurança e saúde.
Segundo o autor, o governo poderia, por exemplo, acabar com o rombo previdenciário causado pela informalidade - mais da metade das empresas sonegam impostos e usar este dinheiro para aplicar políticas que possibilitem ao individuo formar uma família, ter mais filhos e cuidar de seus idosos - para isso, precisa se dedicar menos ao mercado do trabalho - ou agravará a situação de falta de mão de obra ativa. "As famílias não conseguem ter mais que um filho. O cidadão trabalha para pagar os impostos e comprar da iniciativa privada o que o governo não concede, como saúde e educação", opina. A mulher foi trabalhar fora também por uma questão econômica, e hoje, têm filhos únicos pela falta de tempo e dinheiro. "Com essas família mononucleares, vamos acentuar a taxa de dependência. Teremos um filho para cuidar de dois idosos", frisa o autor.
Pensar em ficar velho é sempre novo. Se hoje muita gente entre 55 e 65 anos vislumbra uma estrada ainda longa para frente, quando imaginariam que nesta idade estariam no final da vida, hoje a geração com 30 anos precisa ter a mesma consciência de que vai viver muito, que a chance de chegar aos 90 anos é imensa, e é preciso cuidar da saúde. "Vejo muita gente preocupado em trabalhar e juntar dinheiro para quando envelhecer mas se deixam de lado, o papel do indíviduo perante sua sociedade, aqui, é cuidar da saúde, inclusive para não onerar o Estado", diz Felix.
Para ele, as empresas também precisam rever posturas e criar vagas de qualidade em número suficiente sempre com trabalho formalizado, e não como se fosse um favor ou algo não registrado pela pessoa ser idosa. "A sociedade precisa entender que precisará do idoso, hoje responsável por grande parcela da renda familiar, já que 70% deles são chefes de domicílio", avalia.