Espetáculo “O Avesso da Pele” estreia no Porto Alegre em Cena

Espetáculo “O Avesso da Pele” estreia no Porto Alegre em Cena

Montagem do Coletivo Ocutá é baseada na premiada obra de Jeferson Tenório

Letícia Pasuch

"O Avesso da Pele" terá três sessões, nos dias 20, 21 e 22, no Salão de Atos da PUCRS

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As palavras do Jeferson Tenório ganham vida e corpo no palco. Seu livro homônimo “O Avesso da Pele” (2020) foi adaptado para um espetáculo idealizado pelo Coletivo Ocutá (São Paulo), integrando a segunda etapa da 30ª edição do Porto Alegre em Cena. Haverá três sessões da peça nesta quarta, quinta e sexta-feira, dias 20, 21 e 22, sempre às 20h, no Salão de Atos da PUCRS (av. Ipiranga, 6681). Nesta quarta-feira, após o espetáculo, acontece um debate com Jeferson Tenório, a diretora Beatriz Barros e o elenco, com mediação de Thiago Pirajira. Na quinta-feira, a sessão terá intérpretes de Libras e Audiodescrição. Ingressos disponíveis no site portoveraoalegre.com.br.

A obra que é base da montagem, vencedora do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Romance Literário, foi alvo de censura neste mês de março, quando foi solicitado o recolhimento em Santa Cruz do Sul e, após, em escolas do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul. O livro discute o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras.

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A história se passa na Porto Alegre dos anos oitenta, e é narrada por Pedro. Seu pai, Henrique, é um professor de literatura da rede pública de ensino que, quando voltava para casa depois de uma das melhores aulas de sua vida, foi brutalmente assassinado em uma abordagem policial. A partir das lembranças da morte do pai, Pedro decide resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos, perpassando por questões de identidade e relações raciais.

A adaptação da obra para os palcos iniciou sua circulação há um ano, mas é idealizada há mais de quatro. A peça é encenada por Alexandre Ammano, Bruno Rocha, Marcos Oli e Vitor Britto, com quatro personagens em cena, e os atores intercalam os papéis – segundo Marcos, para apresentar a versatilidade da história e poder contá-la por diferentes corpos.

Jennifer Souza, diretora de produção, acrescenta que cada ator interpreta o personagem nas suas características específicas de atuação, e valoriza a universalidade de criação dos intérpretes no espetáculo. “Eles fazem o mesmo personagem, mas são diferentes. Cada vez que entram em cena é um novo Henrique, um novo Pedro, então a gente tem essa diversidade de atuação dentro do espetáculo”, diz. A peça promete ser fiel ao livro. “O diferencial mesmo é que a gente tem muita expressão corporal dentro do espetáculo”, completa a diretora, justificando que isso trará um novo ponto de vista sobre a obra.

A escolha para “O Avesso da Pele” se tornar montagem partiu de Jennifer, que ficou arrebatada pela obra quando a leu, em 2020, recém lançada. Em conversa com a diretora do coletivo e com os demais atores, decidiu-se que esse seria o primeiro espetáculo do Ocutá. O grupo mandou uma mensagem expondo a vontade de montar o livro para Jeferson, que prontamente se colocou à disposição para a execução da montagem. A diretora destaca como as trocas com o escritor foram importantes. “Desde o início ele sempre foi muito facilitador para que essa montagem existisse”, diz. Marcos complementa: “foi um diferencial ter ele com a gente, isso ajudou muito no desenvolvimento do espetáculo e na proporção que o ele tem hoje.”

Como homem negro, Marcos foi atravessado pela história e pelos fatos retratados. “São assuntos e temas que partem do princípio do racismo, então não tem como fazer o espetáculo e não ser atravessado por isso", diz ele, lembrando que até passou por uma situação de racismo horas antes de entrar em cena. “Tá no avesso, tá na pele. então é muito nossa história, não tem como não ser atravessado nesse sentido.”

No início do mês de março, a diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul pediu ao Ministério da Educação o recolhimento da obra por considerar que o vocabulário do livro é "de baixo nível" e que as descrições de cenas de sexo eram impróprias para os alunos. Após, escolas do Paraná, Goiás e Mato Grosso do Sul seguiram a decisão do recolhimento do livro das suas redes de ensino. Para Jennifer e Marcos, o caso reforça a importância da difusão da obra de Tenório e da história ali contada, seja por meio do teatro, da literatura ou de qualquer tipo de arte. “O fazer artístico é político”, defende Jennifer. Enquanto diretora de produção, ela busca fazer um trabalho que contribua para essas discussões. “Para mim sempre foi fazer com que esse trabalho existisse na potência que ele é, porque ele é necessário em todos os aspectos”. “Isso é um combustível para a gente continuar. A gente vai chegar pra dizer o que a gente quer dizer. E esperamos que as pessoas estejam abertas a escutar o que a gente quer dizer”, complementa Marcos.


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