Exposição Queermuseu reabre no Rio após polêmica em Porto Alegre
Conjunto apresenta 214 obras de 82 artistas, número menor do que as 264 da original
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A mostra foi suspensa pelos organizadores em setembro do ano passado em Porto Alegre, onde era exibida no Centro Cultural Santander, após campanha agressiva em redes sociais contra o conteúdo da exposição, e ficou fechada durante um mês, período que faltava para terminar a temporada, com fitas para isolar a área dentro do espaço cultural.
Após o fim antecipado, os produtores chegaram a negociar com o Museu de Arte do Rio (MAR), que é ligado à prefeitura, mas acabou vetada pelo prefeito Marcelo Crivella. Então, o Parque Lage, espaço do governo do estado, abriu as portas para a mostra. Szwarcwald explica que a Escola de Artes Visuais do Parque Lage sempre foi um espaço de resistência, criado durante a ditadura militar, e teve amplo apoio e financiamento da sociedade para receber a Queermuseu.
"A Secretaria de Cultura nos deu carta branca para iniciar essa campanha, muito desafiadora, contra a censura, no momento em que a gente vivia um obscurantismo muito grande nas artes. Lançamos o crowdfunding no dia 31 de janeiro desse ano e o resultado foi impressionante, já que foi a maior campanha de crowdfunding do Brasil", afirmou o diretor da Escola de Artes Visuais. No total, foram arrecadados mais de R$ 1 milhão em 58 dias, com 1.659 colaboradores na vaquinha virtual, o que possibilitou a reforma da Cavalariça do Parque Lage para receber a exposição. Além da sexualidade
A exposição apresenta 214 obras de 82 artistas, um número menor do que as 264 da exposição original. Segundo o curador, Gaudêncio Fidelis, a redução não cortou nenhum artista e não modificou a integridade conceitual da mostra, mas foi necessária para adaptar ao espaço expositivo, menor do que o de Porto Alegre. Esta é a primeira curadoria sobre a temática queer no Brasil e na América Latina e abrange obras desde o século 19 até a atualidade, com artistas como Adriana Varejão, Cândido Portinari, Alfredo Volpi, Lygia Clark, Alair Gomes, Guinard, Leonilson e Pedro Américo, reunidas de coleções públicas e particulares.
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Segundo Fidelis, o objetivo da exposição é expor as diferenças entre as pessoas, indo muito além das questões de gênero e de sexualidade, abordando todo tipo de comportamentos pensado e construído fora da perspectiva exclusivamente normativa e que se estabelece dentro da institucionalidade. "Algumas pessoas têm uma certa dificuldade de entender. Até porque a gente não pode pensar gênero e sexualidade fora do universo da cultura, no seu sentido mais amplo, contemplando o território dos costumes e do conhecimento. Inclusive porque o termo queer, uma vez que foi reapropriado de maneira positiva, ele dá a sua contribuição pela sua amplitude, por contemplar todo um campo de manifestações que a própria sigla LGBT não contemplava".
O curador explica que a teoria queer dá uma contribuição para a exposição, mas que a mostra não é uma ilustração dessa teoria. "A exposição se alimenta da teoria queer assim como outros campos teóricos, como o marxismo, o estruturalismo, formalismo". Vitória da democraia Fidelis considera que a reabertura da exposição para a sociedade brasileira "designa a vitória da democracia".
Fidelis destaca que todo o debate que se seguiu após o fechamento em Porto Alegre é um dos legados da exposição, além do combate ao fundamentalismo no país. "Ela abriu o debate de uma maneira extremamente ampla, onde setores muito remotos da sociedade passam a debater gênero e sexualidade em consonância com a arte. Setores inclusive que não tinham pensado, debatido ou dialogado sobre arte até então. O debate continua, 11 meses depois do fechamento da exposição. Tem matéria, debate, discussão, teses de mestrado e doutorado, isso é muito importante".
A exposição Queermuseu - Cartografias da diferença na arte brasileira poderá ser vista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage do dia 18 de agosto até 16 de setembro. A escola fica aberta todos os dias. Além da mostra, o público terá acesso, também gratuito, a uma grande programação de debates sobre o tema, com curadoria de Ulisses Carrilho, e atrações musicais selecionadas por Julio Barroso entre artistas que militam no movimento LGBT. A mostra recebeu classificação indicativa de 14 anos pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).