Fabricação de cerveja artesanal vira mania

Fabricação de cerveja artesanal vira mania

Processo envolve moer o malte, cozinhar, separar o bagaço, ferver, resfriar, fermentar e degustar

Rafa Martins

A fabricação de cervejas artesanais virou mania da ala masculina

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Dedicação, concentração e paciência. Essas são apenas algumas características que precisam fazer parte da vida de quem se propõe a fabricar cervejas artesanais. Principalmente se for no conforto de sua própria cozinha. A prática, comum em diversos países, acabou pegando carona por aqui antes mesmo de toda essa onda de gourmetização, e virou uma espécie de ritual para os mais aficcionados, que dedicam boa parte do tempo livre para fabricar sua bebida.

“É um processo bem trabalhoso e demorado, contando do dia que se inicia a produção até abrir a primeira garrafa”, conta William Muller, de Taquara, que separa um dia inteiro para a fabricação e espera de um a dois meses para consumir. O consultor de varejo começou a pensar na produção própria depois de uma viagem ao Canadá, em 2005, quando conheceu, de fato, a cerveja artesanal. “Até então eu achava que todas eram iguais, mas lá existiam diversos estilos diferentes”, conta.

Hoje, Muller separa - religiosamente - um dia no calendário para a reunião com os amigos e a fabricação de 20 litros da bebida. Consumo exclusivo, é claro, e só para os mais chegados. “Passamos o dia em torno das panelas. A gente diz que é um hobby social, pois dificilmente alguém faz cerveja sozinho”, explica. Assim como Muller, Rafael Albert, de Porto Alegre, também realiza todo o processo com um amigo, no seu já tradicional “dia de fazer cerveja”. “Quando eu paro para a cerveja, eu faço só isso, pois a concentração deve estar toda ali”, revela o jornalista que passa, em média, oito horas em frente às panelas.

Achou muito tempo? Pois a duração longa para a fabricação da bebida acaba sendo a maior aliada de quem decide se arriscar na produção em casa. O esquema vira um ritual entre amigos, que criam um verdadeiro clube do bolinha enquanto acontece o processo. Os amigos Victor Pontes e Arthur Valentim, também da Capital, aproveitaram o clima favorável para colocar conversa fora e desenvolveram uma confraria, que serve a bebida feita por eles, para amigos e conhecidos.  A dupla trabalha uma vez por semana para a produção de até 60 litros por brassagem (que significa a "fornada" das cervejas). Victor chegou a atuar em um empório de cervejas antes de partir para a fabricação própria. “Tive contato com inúmeros rótulos de diferentes estilos, recebi treinamento de degustação e fiz um curso. Depois, segui melhorando as técnicas”, explica ele, que pensa em abrir um negócio, mas quer chegar no mercado já em um estágio avançado de conhecimento sobre a bebida.

Já William e Rafael começaram da maneira mais óbvia e simples que se pode imaginar: através blogs e vídeos da internet. Mas depois, para a alegria de seus degustadores, partiram para cursos especializados. “Na época em que comecei existiam poucos fornecedores de matéria-prima e poucas fontes de informação no Brasil. Cheguei a comprar apostilas, mas aprendi mesmo com outras pessoas”, revela William, que tinha o hábito de trocar ideias com os iniciantes em uma comunidade do saudoso Orkut.

Fabricação

O processo de fabricação envolve moer o malte, cozinhar, separar o bagaço, ferver, resfriar, fermentar (que leva de 7 a 10 dias) até chegar o momento mais esperado do processo: a hora de engarrafar. Nem é preciso dizer que essa é a parte mais aguardada por absolutamente todos os fabricantes caseiros,  “sem dúvida a parte mais legal é a degustação, por motivos óbvios. E a mais chata é ter que esperar para que isso aconteça”, conta o porta-voz, Victor.

Dentre os equipamentos necessários para a produção, estão baldes para fermentação, termômetro e panelas bem grandes (pelo menos 30 litros, com torneira e filtros instalados). Quanto aos ingredientes, são basicamente quatro: malte, lúpulo, água e fermento. Aliás, existe uma história a respeito desses ingredientes mágicos que compõem a bebida - e que todo cervejeiro conhece bem. “Na Alemanha, existe uma lei chamada ‘Reinheitsgebot’ (Lei da Pureza), desde 1516, que diz que a cerveja não pode ter nenhum ingrediente além desses. Se tiver qualquer outro, não pode ser chamada de cerveja por lá”, avisa William. Se depender das fabricações caseiras daqui, todos afirmam seguir à risca tal tratado e garantem toda essa originalidade, característica primordial de toda boa cerveja artesanal.

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