Fazenda Tafona, em Cachoeira do Sul, recebeu celebrações

Fazenda Tafona, em Cachoeira do Sul, recebeu celebrações

Patrimônio Cultural Tombado pelo Iphae, o local recebeu reconhecimento como Território Negro

Correio do Povo

Conjunto arquitetônico da Fazenda Tafona é tombado pelo Iphae

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O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), compareceu no sábado (26), à cerimônia que reconheceu a memória da comunidade negra no conjunto arquitetônico bicentenário em Cachoeira do Sul. No evento, que fez parte das celebrações do Dia Estadual do Patrimônio Cultural, foi declarado formalmente o território negro da Fazenda Tafona, localizada a aproximadamente 17 km do centro da cidade. A cerimônia foi organizada em colaboração entre o Movimento Negro de Cachoeira do Sul e a Associação de Amigos da Fazenda Tafona, com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado.

A Fazenda Tafona é um patrimônio cultural do Estado, tombado pelo Iphae desde 2016. A propriedade, remanescente de uma antiga sesmaria, preserva a memória da formação do território do Rio Grande do Sul. A casa, construída por volta de 1813, possui um rico conjunto de bens móveis. Além disso, o engenho da Tafona, um moinho utilizado para a produção de farinha de mandioca e polvilho, está em excelente estado de conservação. 

A cerimônia contou com a presença de aproximadamente setenta pessoas, incluindo descendentes dos trabalhadores escravizados da fazenda, ativistas do movimento negro e representantes do Patrimônio Cultural. Durante o evento, foi realizada uma solene procissão ecumênica, que iluminou o caminho até o coração da Tafona. No interior da casa, a atual proprietária, Maria Irtilia Vieira da Cunha Silva, proferiu uma carta pedindo perdão pelo modelo de colonização e exploração que existiu na fazenda durante o século 19, reafirmando o compromisso com uma sociedade mais livre, plural e democrática.

Vozes proeminentes do movimento negro de Cachoeira do Sul também se fizeram presentes, como a professora e poetisa Lair Vidal, a professora Maria de Lourdes Soares Machado, a ativista Vânia Oliveira e a professora Ana Lucia Falcão, presidente da Escola de Samba Unidos da Vila. Entre batuques e cânticos, suas palavras ressaltaram a importância de honrar as vidas negras que contribuíram para a história de Cachoeira do Sul.

Durante a cerimônia, Ana Lucia Falcão recitou os nomes dos trabalhadores e trabalhadoras escravizados na fazenda, compilados a partir de minuciosas pesquisas em documentos históricos. A lista inclui Jeronima, Januário, Lucas, Hortêncio, Ignacia, Ramiro, Fermina, Fortunata, Eliseo, Galdino, Lauro, Pedro, Arthur, Bernardo, Clara, Angélica, Senhorinha, Leocádia, Florinda e Joséfa.

A fazenda, além de seu valor histórico como bem cultural que evidencia o processo de formação da região, também representa a necessidade de reconhecer o passado escravocrata. Durante a cerimônia, a proprietária Maria Irtilia Vieira da Cunha Silva reconheceu essa perspectiva muitas vezes ausente nos documentos de tombamento, destacando a importância de reconhecer a história em sua totalidade, com suas glórias e agruras, e de superar os erros e equívocos do passado. 

“Reconhecemos a história tal como ela é, com suas glórias e agruras. Reconhecemos que a colonização não foi pacífica, mas uma guerra injusta, desigual e desumana. Reconhecemos as belezas e as feiuras de nossa história, sem fingimentos e maquiagens, porque queremos superar e corrigir nossos erros e equívocos. Sim, foi um erro se apossar deste território, desta América indígena, como se aqui não existissem habitantes. Foi cruel arrancar o povo africano de seu continente, da Mãe África, para escravizar e explorar seu trabalho, seus corpos e seus espíritos. (...) Cabe a nós o restabelecimento de outros marcos civilizatórios, nos quais todo o ser seja respeitado na sua existência, sua diversidade, como sujeito livre, histórico e com direitos", destacou Maria Irtília.

De acordo com o diretor do Iphae, Renato Savoldi, "a Fazenda Tafona é mais do que um simples edifício, é um Patrimônio Cultural que representa a história e os desafios que moldam nosso entendimento do passado e orientam o futuro".


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