Patrono fala de sua escrita e de suas referências em mesa na Feira do Livro de Porto Alegre

Patrono fala de sua escrita e de suas referências em mesa na Feira do Livro de Porto Alegre

Tabajara Ruas participou de atividade no início da noite deste domingo no Auditório Barbosa Lessa e autografou seu mais recente livro na Praça de Autógrafos

Luiz Gonzaga Lopes

Patrono da Feira, Tabajara Ruas em mesa com participação do professor Sergius Gonzaga e das escritoras Hilda Simões Lopes e Leticia Wierzchowski

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O final da tarde deste domingo na 69ª Feira do Livro de Porto Alegre foi de encontrar o patrono do evento literário, o escritor, roteirista, cineasta e produtor cultural, natural de Uruguaiana, Tabajara Ruas, de 81 anos. O patrono participou da mesa que trata da sua trajetória literária e cinematográfica, no Auditório Barbosa Lessa, do Espaço Força e Luz, no Centro Histórico.

Além do patrono, a mesa teve a participação das escritoras Hilda Simões Lopes e Leticia Wierzchowski e do professor de Literatura e coordenador do Literatura e Humanidades da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa da Capital, Sergius Gonzaga.

Os debatedores teceram perguntas, mas também fizeram brilhantes análises da obra do autor, seja na literatura ou no cinema. Na análise literária, Hilda Simões Lopes abordou as características sociológicas e de individuação de algumas das obras de Tabajara, como “O Amor de Pedro por João”, “Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez” e “Minuano”. “

Em ‘O Amor de Pedro por João’ há uma abordagem simbólica que permeia um pedaço truculento da nossa história, a época da ditadura militar. Me chama a atenção o termo que mais aparece na obra, a expressão ‘Aperte o acelerador’ que diz muito sobre a forma de construção narrativa do Tabajara.

Em ‘Perseguição e Cerco a Juvêncio Gutierrez, o personagem principal é um contrabandista que volta de trem para ser preso, mas ele é sábio, afetuoso e cativa o sobrinho, tem sua rota e seu destino traçado. Tabajara nos ensina muito sobre a essência do ser, a individuação, de que cada pessoa pessoa precisa exercer o seu próprio ser, isto se aplica as questões ligadas à sociologia, à política, à democracia, às liberdades”, ressaltou Hilda.

Letícia tratou de falar do lado roteirista e cineasta de Tabajara, com quem trabalhou na criação do roteiro de “O Tempo e o Vento”, filme de Jayme Monjardim.

“Nós tínhamos 700 páginas do Erico Verissimo para adaptar e aí era utilizarmos as técnicas de roteiro de cinema para aproveitar o essencial e fazer um roteiro para um filme de 2h de duração. Me lembro quando tu, Taba, brincava com a ideia de que se o capitão Rodrigo Cambará não morresse, ele poderia envelhecer no bolicho e criar barriga, ficar palitando os dentes, aqueles hábitos de velhos gaúchos”, lembrou Letícia.

Tabajara comentou que para transformar 700 páginas de word em 2 horas de filme é preciso utilizar alguns truques do cinema. “O truque é esquecer do romance propriamente dito, pegar alguns elementos e passagens e criar a mesma história de forma a poder ser contada com estes elementos, mais com imagens e alguns diálogos e não em tantos detalhes. Uma pessoa qualquer diz que gostou mais do livro do que do filme, mas são linguagens diferentes, ambas podem ser boas”, analisou o patrono da Feira.

Sergius Gonzaga puxou Tabajara para o mundo do cinema chamando o audiovisual de uma “arte fugaz”, pois os filmes ficam mais datados do que os livros. “Um filme de 1920, do expressionismo alemão, fica relegado a cinéfilos como nós, mas um livro de 1857 como ‘Madame Bovary’, de Flaubert, ou de 1881 como ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis, acaba ficando universal e perene”, provocou Sergius.

Tabajara respondeu falando um pouco de sua formação cinematográfica, quando veio de Uruguaiana para Porto Alegre bem jovem. “Porto Alegre tinha quadras com três cinemas em cada. Quando vi ‘A Doce Vida’, de Fellini, tudo o que eu podia extrair de poesia, lirismo, sociologia, romance, espanto diante do contraste com a realidade, eu acabei criando referências muito sólidas”, recordou.

Ele lembrou também de outros dois gênios, o do faroeste, John Ford, e o de clássicos, o inglês David Lean, de “Lawrence da Arábia”. “Foram os meus mestres e fizeram com que eu me envolvesse com o cinema para tentar minimamente reproduzir as ideias e sensações que eles causaram no público que assistisse a meus filmes”, concluiu Tabajara.

Depois da mesa no Barbosa Lessa, Tabajara foi autografar na Praça de Autógrafos Gerdau a obra “Você Sabe de Onde eu Venho - a Conquista Brasileira do Monte Castelos” (AGE) sobre a atuação dos soldados brasileiros na Segunda Guerra.

O autor relata como, em 1942, a nação foi atacada em seu litoral pelos submarinos nazistas, quando o governo de Getúlio Vargas foi obrigado a criar uma Força Aérea e uma Marinha para defender a costa.

Foram afundados 33 navios brasileiros com mais de 2 mil mortos, o que levou o país a entrar no conflito e enviar para a Itália, entre 1944 e 1945, 25 mil pracinhas, que participaram de combates, enfrentando a falta de preparo e a neve nos Pirineus. É uma monumental saga da moderna história do Brasil e da identidade nacional.

*A cobertura do Correio do Povo na Feira do Livro de Porto Alegre 2023 é um oferecimento de Banrisul.


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