Filme sobre comunidade indígena brasileira Krahô é apresentado em Cannes
Produção contou com os membros da comunidade interpretando eles mesmos e falando em seu próprio idioma
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O filme, que fica entre o documentário e a ficção e está em competição na seção Um Certo Olhar. A produção contou com os membros da comunidade interpretando eles mesmos e falando em seu próprio idioma, o que fez das gravações uma façanha, dado que "ambos só entendiam 5% do que diziam", contaram.
A resistência de um jovem Krahô a se tornar xamã após a morte de seu pai - que o leva a partir temporariamente para a cidade - serve como argumento e pretexto para mostrar o dia a dia destes indígenas, suas tradições e cerimônias. "Os Krahô são responsáveis por seu próprio bioma, mas estão ameaçados, principalmente pela monocultura de soja e cana e pela pecuária", explicou Nader Messora. Em sua estreia em Cannes, esta cineasta brasileira, casada com Salaviza, destacou a importância de que no maior festival de cinema do mundo "se esteja vendo um filme sobre os Krahô, falado em seu idioma".
"Ser indígena é um modo de ser"
De acordo com Salaviza, "Chuva e cantoria na aldeia dos mortos" não é um filme abertamente ativista. "Apesar de todo o respeito que temos pelos indígenas no Brasil que estão gravando filmes militantes pondo sua vida em risco", disse.
Ambos os diretores buscaram chegar a uma visão mais justa, a seu ver, para abordar a questão indígena no cinema, no Brasil e no mundo. "Em geral, o indígena é apresentado ou como um profeta, que sai da floresta para dizer duas palavras e desaparece, ou de uma forma mais política, em contraste com a cultura ocidental", disse o cineasta. Seu filme mostra com naturalidade o modo de vida familiar e social dessa população.
"Não é por usar uma calça ou ter um celular que se deixa de ser indígena. No Brasil esse discurso ocorre entre os poderosos e é muito perigoso", adverte. "Ser indígena é um modo de ser e não de aparentar", segundo a cineasta. Ambos os diretores, que vivem entre Portugal e Brasil, filmaram juntos seu primeiro longa-metragem, "Montanha".
"Chuva e cantoria na aldeia dos mortos" é o terceiro filme brasileiro selecionado nesta edição de Cannes. Também se apresentou "O grande circo místico", de Carlos Diegues, na seleção oficial fora de competição, e "Los silencios", de Beatriz Seigner, na Quinzena dos Realizadores.