Filmes e séries que registram a trajetória de mulheres inspiradoras

Filmes e séries que registram a trajetória de mulheres inspiradoras

Conquistas feitas por mulheres e mostradas em múltiplas telas vão além do fenômeno da ‘Barbie’ dos cinemas

Luciana Vicente

'As Leis de Lidia Poët’, série com seis episódios e gravada em Turim, conta com performance da atriz Matilda De Angelis

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Quando o filme mais comentado do momento leva a assinatura de uma mulher, a única ação a fazer é festejar. “Barbie”, de Greta Gerwig, tornou-se a melhor arrecadação para um fim de semana de estreia nos EUA em um filme dirigido por uma mulher e promete ficar em cartaz mais um bom tempo. A realizadora, ao dar vida à famosa boneca de forma bem humorada, trata de feminismo, existencialismo e da sociedade. A proposta aqui é aproveitar o “momento rosa” e apresentar uma seleção de produções que retratam mulheres que ultrapassaram limites pessoais e desafiaram as imposições da sociedade. Todas são pontos de partida para buscar mais informações sobre estas personas inspiradoras e suas conquistas determinantes. 

Em uma época na qual ainda não havia conceitos definidos para igualdade de gênero, empoderamento feminino, visibilidade, manterrupting (ato de interromper a fala de uma mulher), Lidia Poët (1855 - 1949) já enfrentava as imposições sociais e culturais. A trajetória da primeira mulher a ingressar na Ordem dos Advogados da Itália e que ficou conhecida por ter contribuído para a implementação do direito penitenciário moderno é tema da série “As Leis de Lidia Poët” (2023), do diretor e roteirista Matteo Rovere. 

A condição da mulher em 1883 é retratada, com suas injustiças e preconceitos e penalizações severas. No início da trama, Lidia Poët, interpretada por Matilda De Angelis, tem seu direito de advogar anulado. Dentre os motivos expostos pelo tribunal é que a advocacia é um ofício que as mulheres não devem exercer, por que teriam que se envolver em discussões que vão além dos limites do sexo frágil e da sua constituição orgânica. Como na série, a verdadeira Lídia Poët colaborou com o irmão Giovanni Enrico e tornou-se ativa sobretudo na defesa dos direitos dos menores, dos marginalizados e das mulheres, apoiando também a causa do sufrágio feminino. A anulação do seu registro desencadeou debates, não apenas na Itália, e o assunto recebeu ampla cobertura de jornais italianos apoiando os papéis públicos das mulheres.

O longa “Destemida” (2023) traz a aventura de Jessica Watson, interpretada por Teagan Croft, que aos 16 anos de idade zarpou da costa de Sidney, na Austrália, com seu veleiro, determinada a se tornar a pessoa mais jovem a velejar ao redor do mundo sozinha. Além dos preparativos, o filme conta a aventura que foi a navegação, realizada de outubro de 2009 a maio de 2010. Ao desembarcar em Sidney, ela foi recebida por uma multidão que celebrou sua conquista. 

“Antonia: uma sinfonia” (2018) traz a trajetória de Antonia Louisa Brico (1902 - 1989), uma das primeiras mulheres a obter reconhecimento como regente. A produção dirigida por Maria Peters e com a atriz Christanne de Bruijn no papel principal, ficcionaliza a trajetória da pianista e maestrina, nascida na Holanda e naturalizada nos Estados Unidos. O principal objetivo de Maria Peters foi o de dar visibilidade à história de Antonia, até então sem conhecimento do grande público. 

A cinebiografia “Radioactive” (2020), dirigida por Marjane Satrapi e com a premiada atriz Rosamund Pike, recupera trajetória da lendária química Marie Curie, uma das pessoas que mudou o mundo através da ciência. As descobertas de Marie Curie permitiram avanços tecnológicos importantíssimos para a humanidade, salvaram incontáveis vidas e ainda lhe renderam dois prêmios Nobel. O filme acompanha a pesquisadora científica desacreditada na França cuja vida muda com uma inesperada parceria com Pierre Curie (Sam Riley), com quem ela se casa e depois mudaria os rumos da ciência, com a descoberta da radioatividade. 

A talentosa atriz Keira Knightley dá vida a escritora Sidonie-Gabrielle Colette (1873 - 1954) em “Colette” ( 2018), com direção de Wash Westmoreland. Colette foi uma romancista francesa que sofreu com um casamento abusivo, no qual o marido tentava ganhar créditos com seus escritos. Ela chegou a ser trancada em casa pelo parceiro, Henry Gauthier-Villars, para que escrevesse sem parar por mais de dez horas. 

Em 1909, eles se divorciaram e a escritora empreendeu uma batalha legal para recuperar a autoria de seus textos. Colette também foi importante no mundo da moda feminina. Além de trabalhar como colunista de moda em um jornal, ela influenciou o setor. O seu nome foi associado a acessórios, como chapéus, colares e perfumes. Ela também foi uma das primeiras mulheres a usar calças em público. 

Outra escritora que também desafiou as imposições sociais de seu tempo é Mary Shelley (1797 - 1851). O filme de 2018, com a atriz Elle Fanning, retrata um período da vida da autora do clássico da literatura “Frankenstein ou o Prometeu Moderno” e seu relacionamento com o poeta Percy Shelley, que serviu de inspiração para sua obra-prima – cuja autoria só foi reconhecida na segunda edição. Mary se recusava viver a configuração social e política de sua época, bem como o papel atribuído às mulheres, e sua obra reflete os ideais liberais e reformistas nos quais acreditava. A direção é de Haifaa al-Mansour, primeira mulher a dirigir na um filme na Arábia Saudita. 

Para encerrar, o brasileiro “Nise: O Coração da Loucura” (2016), com atuação de Glória Pires e direção de Roberto Berliner, que traz um recorte do tratamento aplicado por Nise Magalhães da Silveira (1905 - 1999), médica brasileira e reconhecida mundialmente por sua contribuição à psiquiatria. O longa-metragem mostra a médica em um hospital psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro e sua nova forma de tratamento aos pacientes que sofrem da esquizofrenia, eliminando o eletrochoque e a lobotomia. Seus colegas de trabalho discordam do seu meio de tratamento e a isolam, restando a ela assumir o Setor de Terapia Ocupacional, onde dá início a uma nova forma de lidar com os pacientes, através do amor e da arte.


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