Gabriela tem o papel principal no fomento das artes cênicas

Gabriela tem o papel principal no fomento das artes cênicas

Atriz e diretora do Ieacen e Teatro de Arena, Gabriela Munhoz atua no fortalecimento da cena artística gaúcha

Leticia Pasuch *

Para o novo ano de gestão, Gabriela prevê a continuidade das políticas públicas e registros de acervo local, além do acolhimento e impulso às experiências artísticas

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Gabriela Munhoz, hoje à frente do Instituto Estadual de Artes Cênicas (Ieacen) e do Teatro de Arena, lembra com detalhes da primeira vez que subiu em um palco. Com a idade prestes a completar duas mãos cheias, deu vida a uma engraxate de sapatos em um festival infantil no interior do estado. Voltou para casa com um prêmio de Melhor Atriz Infantil e, encantada, comunicou à sua mãe, Angélica Munhoz: “Decidi minha profissão, vou ser atriz”. Angélica dançava quando jovem, dali Gabriela acredita ter surgido a “veia artística”.

Ela não economiza o amor pela família, predominantemente feminina. Tem duas irmãs, e é a primogênita da tríade. Cada uma teve, coincidentemente, um filho menino. O de Gabriela é Francisco, de cinco anos. “Sou uma babona. Sempre desejei ser mãe, e me sinto muito realizada nesse papel”, revela.

Ela nasceu e cresceu em Lajeado. Após se formar no ensino médio, cursou Psicologia na Unisinos. Mas, na metade da graduação, partiu ao Rio de Janeiro para seguir o sonho que tinha desde os nove anos. Desembarcou de mala e cuia na cidade carioca com muitas expectativas. Lá ficou por 15 anos. Fez faculdade de Artes Cênicas no Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade), atualmente fechado. “Foi uma descoberta de mundo”, diz.

Sua base profissional – a “casca grossa”, como diz, foi no teatro. O primeiro espetáculo profissional que participou foi de uma peça baseada no conto “Uma História de Borboletas”, do gaúcho Caio Fernando Abreu, com direção do gaúcho Marcelo Aquino. Ela lembra da quantidade de gaúchos que encontrou no Rio. Brinca que, lá, “o que menos tem é carioca”.

Gabriela também atuou no audiovisual e na TV. O trabalho mais significativo foi na novela “Órfãos da Terra” (2019), do diretor – também gaúcho – Gustavo Fernandes. Fez o papel da síria Mágida, que teve sua filha retirada dos braços. “Entrei na reta final da novela, mas foi um desafio imenso e adorei fazer”, declara. Seu papel mais recente foi na série da Netflix “Todo Dia a Mesma Noite – A História Não Contada da Boate Kiss”, baseado no livro de Daniela Arbex. A convite da diretora geral da série, Julia Rezende, Gabriela interpretou a capitã Idalina, chefe da Brigada Militar que atuou na noite do incêndio na boate em Santa Maria. Desejou ser a capitã desde que pôs os olhos no roteiro.

“Me proponho a me deixar afetar, me atravessar pelos personagens que vivo. Trazer, de alguma forma, a vivência da personagem pra mim. Não diferente nessa série, me dediquei muito a me aproximar desse universo, me doando o máximo possível com ela, e foi um processo muito doloroso. Contar uma história como essa é inimaginável”, diz.

Gestão

Além do trabalho como atriz, no Rio de Janeiro Gabriela construiu uma trajetória na gestão de projetos, idealizando por mais de 20 anos projetos ligados à arte, cultura, entretenimento, música e até na gastronomia. “Fui picada pelo bicho da arte muito criança. Porém eu gosto da gestão de pessoas, da observação, investigação, acho que esses elementos são muito importantes para o meu trabalho como atriz”, diz ela.

Embora gestora de projetos, Gabriela nunca havia pensado em trabalhar com a gestão pública, até que seu currículo chegou à Secretaria do Estado da Cultura (Sedac). Já de volta ao Rio Grande do Sul, em abril de 2020, em plena pandemia assumiu a diretoria do Instituto Estadual de Artes Cênicas (Ieacen) e do Teatro de Arena. “Foi um super desafio, mas sou muito grata pela oportunidade que viram em mim”, reconhece, principalmente à Secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo.

“Pesquisei o que estava acontecendo na cultura e entendi que tinha uma veia de paixão envolvida ali, que não era um trabalho burocrático, mas uma secretaria comprometida, e me atirei”. Ela define o grupo de técnicos como qualificados e apaixonados pelo que fazem. “A gente foi encontrando formas, junto à equipe, de espaços de respiro, e desenvolver ações, ganhando esses espaços na medida que a pandemia foi suavizando”. No segundo semestre de 2021, o Teatro de Arena abarcava apenas 40 lugares na plateia de máscaras e carteira de vacinação em dia. A abertura dos espaços para o público foi um processo paulatino, de acordo com a gestora. 

Por três meses, Gabriela exonerou-se do cargo para gravar a série da Netflix. Para ela, não foi uma decisão fácil. “Mas sou bem intuitiva e acho que o trabalho escolhe a gente”, analisa. “Não iria nem pensar em fazer as duas coisas ao mesmo tempo, meu compromisso com a gestão pública é muito sério”, pondera. Alexandre Vargas assumiu o posto no período. “Dei todo o suporte para essa saída, e sem saber se iria voltar”, diz. Em maio de 2021, Gabriela retornou à gestão.

Gabriela: “Pesquisei o que estava acontecendo na cultura e entendi que tinha uma veia de paixão envolvida ali, que não era um trabalho burocrático, mas uma secretaria comprometida, e me atirei”. Foto: Ricardo Giusti

O Ieacen visa mobilizar a classe artística com iniciativas de cooperação e fortalecimento dos festivais de artes cênicas e da cena artística gaúcha. O Instituto, com mais de 30 anos, atende a três segmentos: o teatro, a dança e o circo, desenvolvendo políticas públicas e “olhando para o estado como um todo”, diz a diretora. Das ações e projetos de políticas públicas, ela destaca, primeiramente, o Circuito Formativo dos Festivais de Artes Cênicas, com contratação de oficinas formativas em mais de 20 festivais que contemplaram 19 municípios. 

Gabriela também orgulha-se do projeto “Mulher Negra na Arena”, parceria do Teatro de Arena com o Instituto Estadual do Cinema (Iecine), que visa “falar e olhar para questões que acercam a mulher negra no estado dentro das artes”, explica. Também, o “Artes Cênicas: 60 anos ou +”, em que foram propostas oficinas de teatro e dança para a “melhor idade”, nas palavras da gestora.

A diretora salienta o trabalho de digitalização do acervo Sonia Duro, que abriga documentações referente às Artes Cênicas no estado e à história do Teatro de Arena, dentre textos de teatro censurados na ditadura militar, além de possibilitar o acesso do público ao acervo. Agora, no ambiente virtual, será possível “alongar” a vida dos textos e torná-los mais acessíveis, de acordo com Gabriela. 

Para a gestão que virá, ela considera o principal desafio o trabalho de continuidade das políticas públicas e registros de acervo. “A gente já vem há mais de dois anos investigando e desenvolvendo um trabalho de olhar atento para a classe artística, com muitas entregas”. O instituto prevê, no último dia deste mês, o Encontro Sonia Duro, alusivo ao mês da mulher. O momento reunirá mulheres que apresentarão seus projetos acadêmicos das artes cênicas. Além da terceira edição do “Mulher Negra na Arena”, o objetivo é também dar continuidade aos demais projetos que tiveram impacto e aceitação e aprovar novos, segundo Gabriela.

Para o Arena, salienta o trabalho de contínuo acolhimento e impulso às experiências artísticas do local, tendo o “olhar democrático que o Teatro por si só já tem”, nas suas palavras. O olhar mira também nas manutenções do espaço, com mais de 55 anos, “para diagnosticar e entender a situação da estrutura que a gente tem e que pode melhorar”, adverte.

É emocionante para a diretora ser parte da conquista coletiva das direções femininas da Sedac: "Eu amo fazer parte de grupos de mulheres. Eu acredito que as mulheres se potencializam quando juntas”. Lembra que mulheres estão em constante processo de conquista pelo seu espaço, inclusive nas artes cênicas. “A atriz mulher tem uma visceralidade que vem das entranhas femininas”, diz.

Para o futuro, Gabriela planeja realizar um monólogo que deseja há um tempo. Mas, no momento, seus esforços estarão na gestão. “Hoje estou feliz como gestora, junto com esse time e da secretaria”. Gabriela seguirá, enfim, atuando – em seus múltiplos sentidos.

* Sob supervisão de Luiz G. Lopes


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