Gil e Caetano celebram memória da MPB em Porto Alegre

Gil e Caetano celebram memória da MPB em Porto Alegre

Apresentação fez gaúchos vibrarem com sucessos e canção inédita

Eric Raupp

Show fez parte da turnê "Dois Amigos, Um Século de Música"

publicidade

Talvez seja necessário fazer uso de um neologismo para definir a ligação que Caetano Veloso e Gilberto Gil partilham. Com trajetórias que se cruzaram em diversos momentos da história da música do Brasil, cada um deles contribui, há 50 anos, para o desenvolvimento da cultura nacional. Juntos, cantaram versos que se tornaram perenes, atravessaram gerações e lhes garantiram o status de ícones.

Quando os artistas subiram ao palco do Auditório Araújo Vianna na noite desta sexta-feira, nem mesmo os 30 minutos de atraso conseguiram esconder a profundidade do que os une. Gil, de branco, e Caetano, de preto, pareciam se completar. E assim, em uma atmosfera intimista e de admiração, durante quase duas horas, conduziram com maestria uma legião de fãs.

Ainda ao som eufórico da plateia, bastante diversificada na faixa etária e que aplaudiu a dupla por quase um minuto na entrada, a música "Back in Bahia" deu início ao espetáculo. Na sequência, Caetano, com voz penetrante, emendou "Coração Vagabundo" e "Tropicália", hino do movimento homônimo. "Marginália II", com letra de Torquato e que retrata um panorama crítico do país durante os anos 80, veio em seguida.

Foi só depois de quatro músicas que os artistas dirigiram um rápido "boa noite, Porto Alegre" ao público. Retornaram ao cântico com "É Luxo Só", em homenagem ao cantor João Gilberto. Posteriormente, Caetano interpretou "´É de manhã", a mais antiga canção apresentada na noite. Introduzindo o que vinha a seguir, o irmão de Bethânia anunciou: "a música que vamos cantar agora é a mais nova, que fizemos antes do primeiro show em São Paulo. É a canção inédita deste show".

Ela se chama "As Camélias do Quilombo do Leblon", na qual a dupla retorna às raízes de resistência, propondo uma reflexão sobre a "segunda abolição" no Brasil. Ao final, um coro de palmas, sincronizadas pelos espectadores, ajudou a criar um espectro forte e emotivo. "Sampa", de 1978, veio na sequência, mas foi o timbre suave de "Terra" que emocionou a plateia. Incentivados por Caetano, os fãs entoaram o refrão repetidamente.

O ambiente, então, foi tomado pelos compassos de reggae de "Nine Out Of Ten". Em seguida, os músicos alternaram entre canções em português ("Odeio Você", "Eu vim da Bahia" e "Super-Homem") e músicas em espanhol ("Tonada de Luna Llena") e italiano ("Coma Prima"). Em ambos os idiomas imperou a voz suave e deleitável.

Com "Esotérico", um dos maiores sucessos de Gil, o cantor assumiu o protagonismo, arrancou aplausos e fez o auditório cantar junto. Emplacou, logo depois, "Tres palabras" em um espanhol manso. Voltou a dividir o microfone com Caetano em "Drão", música gravada em 1982.

O tom dramático de "Não tenho medo da morte" ditou o efeito da iluminação, que direcionou os holofotes para Gil. A figura do baiano contrastou com o escuro do restante do local, no que foi uma das performances mais aplaudidas e emotivas da noite. Brincando com as sensações do público, o artista logo retomou o espírito de celebração com "Expresso 2222" e, orquestrado pelas palmas da plateia, interpretou "Toda Menina Baiana". A música levou o Auditório Araújo Vianna ao delírio.

Celebrando a diversidade religiosa da Bahia, estado no qual a dupla nasceu, os amigos apresentaram "São João, Xangô Menino", gravada em 1976, quando junto a Gal Gosta e Maria Bethânia formaram o conjunto Doces Bárbaros. Na sequência, foi a vez do clássico "Nossa Gente", popularizada pelo refrão "avisa lá que eu vou". Caetano levantou-se da cadeira pela primeira vez para ensaiar um irreverente passo de samba.

Um abraço apertado entre os dois amigos e a saída do palco após "Filhos de Ghandi" encerrariam o show, mas o público não parou de gritar até que a dupla voltasse. Satisfazendo a plateia, retornaram e cantaram "Desde que o samba é samba" e "Domingo no parque". Mas foi ao som, ao brilho e ao esplendor de "A Luz de Tieta" que Gil e Caetano pretendiam finalizar o espetáculo: foram embora após dançarem e arrancarem gargalhadas e gritos de euforia dos fãs.

Com quase todos os presentes em pé, ovacionando e clamando por mais, foi preciso voltar para acalmar o público. A doce "Leãozinho" e a positiva "Three Little Birds" foram então cantadas. A despedida veio da mesma maneira que a chegada: Gil e Caetano juntos - dois amigos, duas vidas -, escrevendo mais uma partitutura na história da cultura brasileira.

Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895