Gramado dá início ao seu primeiro Festival Internacional Literário

Gramado dá início ao seu primeiro Festival Internacional Literário

Gratuito, FiliGram reúne literatura na Serra gaúcha até o dia 11 de setembro

Henrique Massaro

Evento conta com cinco eixos temáticos e convidados do Brasil e do exterior

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Com o palco principal emoldurado pelo espelho d’água do Lago Joaquina Rita Bier, e se confundindo com a sombra das araucárias e com o tempo nublado e frio da Serra gaúcha, o primeiro Festival Internacional Literário de Gramado (FiliGram) foi aberto oficialmente na noite desta sexta-feira. Durante 11 dias de atividades diversificadas, como mesas de debates, sessões de autógrafos, oficinas, performances e eventos artísticos, o evento contará com a participação de escritores do Brasil e de fora.

O FiliGram tem como homenageado o escritor gaúcho Oliveira Silveira, que morreu em 2009, poeta e pesquisador da cultura afro-brasileira, além de um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra. A expectativa da prefeitura é de que, pelo menos, 80 mil pessoas passem pelo local, sede da Secretaria Municipal de Cultura, e de que o evento, gratuito, ganhe a projeção de outras atividades culturais do município.

Antes da abertura oficial, o festival já contou com atividades como mesas de debates entre escritores e uma apresentação da professora e pesquisadora Naiara Silveira Lacerda, filha do poeta Oliveira Silveira, grande homenageado da primeira edição do evento. Naiara fez um resgate histórico da trajetória do pai, desde a infância, quando encontrou o amor pelas letras durante sua alfabetização em casa, no campo, em Rosário do Sul, até a vinda para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Júlio de Castilhos e, depois, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Capital, além de ser o único negro da turma de formandos em Letras, o poeta se envolveu com os clubes e grupos negros.

“Negro no Sul não quer mais Abolição como data da raça”, diz a manchete de uma reportagem do Jornal do Brasil, de 1971, mostrada por Naiara durante a apresentação, contando como o Grupo Palmares, fundado por seu pai, passou a questionar a legitimidade de 13 de maio para a população negra. “13 de maio da traição, liberdade sem asas e fome sem pão. Liberdade de asas quebradas como esse verso”, diz um poema de Oliveira Silveira. As discussões provocadas pelo Grupo Palmares levariam à criação do Dia da Consciência Negra no 20 de novembro. Naiara ainda falou sobre o esforço de manter vivo e em contato com o público o acervo pessoal de Oliveira Silveira, onde há, por sinal, pilhas de edições do Correio do Povo, jornal que assinou até o fim da vida. “A minha vida é preservar e divulgar o acervo dele, dar continuidade ao trabalho dele”, disse.

Na curadoria de nomes a serem homenageados pelo primeiro FiliGram, o nome de Oliveira Silveira foi uma escolha unânime, disse o diretor geral do evento, Fernando Gomes, que organizou o Clube do Livro de Canela até 2011 e, até 2017, a Feira do Livro de Canela. De acordo com ele, o festival foi realizado, principalmente, via leis de incentivo – cerca de R$ 300 mil através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio Grande do Sul (LIC/RS) e R$ 400 pela Lei Rouanet. Houve, ainda, um aporte de R$ 200 mil da própria Secretaria Municipal de Cultura. A ideia surgiu do atual secretário, Ricardo Reginato, que sonhava com o evento por ser consumidor de cultura. Ele contou que, desde criança, via outras atividades culturais no município, como o Festival de Cinema e o Natal Luz, e achava que a Feira do Livro poderia ter o mesmo tamanho. 

O festival é dividido em cinco eixos temáticos que contemplam a diversidade literária e o mercado editorial atual: Polaroid Brasil – Diversidade, sustentabilidade, futuros possíveis; Orgânico – Autores e leitores: engajamento social; Mercatto – Mercado editorial; Digiteen – Lúdico, imagens e linguagens teens e Campi – Academia, teoria, alegria. Após a abertura oficial, o FiliGram teve uma mesa mediada pela escritora Vanessa Passos, da qual participaram, virtualmente, o escritor Jéferson Tenório, vencedor do Prêmio Jabuti 2021 pelo romance “O avesso da pele”, e, presencialmente, o português Afonso Cruz, autor de livros como “Vamos comprar um poeta” e “Nem todas as baleias voam”. A temática que norteou o bate-papo com os autores foi o cruzamento das narrativas de Brasil e Portugal.

A abertura do festival contou com a participação da secretária estadual da Cultura em exercício, Gabriella Meindrad, do prefeito de Gramado, Nestor Tissot, entre outras autoridades e convidados. A programação do Filigram pode ser conferida no site do evento.


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