Imigração é o tema de ‘Io, Capitano’

Imigração é o tema de ‘Io, Capitano’

Premiado no Festival de Veneza, cineasta Matteo Garrone apresenta drama inspirado em fatos reais

Adriana Androvandi

Filme retrata imigrantes africanos que atravessam parte do deserto do Saara a pé para chegar ao Mediterrâneo

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Dois jovens têm sonhos de melhorar de vida. A princípio, isso é natural. Mas para atingir seus objetivos, serem reconhecidos por sua música ou por seu esporte, os adolescentes Seydou e Moussa desejam sair do país em que nasceram, o Senegal, para tentar a sorte na Europa.

Eles são os protagonistas do filme “Io, Capitano” (Eu, Capitão), um dos cinco indicados ao Oscar de Melhor Filme Internacional, representando a Itália.

O longa-metragem tem pré-estreia na Cinemateca Paulo Amorim da Casa de Cultura Mario Quintana (Andradas, 736) e entra em cartaz nos cinemas na quinta-feira. Premiado no Festival de Veneza como melhor diretor, Matteo Garrone construiu seu filme a partir dos relatos de imigrantes que chegaram à Itália. Ele divulgou em entrevistas que conhecia as histórias pelos jornais, que costumam narrar apenas os últimos momentos dessas jornadas.

A ele, interessava também saber o que acontece antes das pessoas chegarem na Europa. E este é o ponto de partida de seu filme. Um dos garotos fala de seu sonho para a sua mãe, que não aprova a ideia, destacando o que é de conhecimento público: muitos morrem nos trajetos terrestres ou marítimos nas tentativas.

Mas os dois adolescentes estão decididos e partem de Dacar mesmo assim. Uma primeira parte, feita de ônibus, os leva ao país vizinho, Mali. Mas as dificuldades se mostram maiores do que eles poderiam imaginar. Eles se vêem obrigados a fazerem documentos falsos, caem em armadilhas de atravessadores e mafiosos, são agredidos, chantageados e até escravizados de diversas formas.

Nessa odisseia, parte do percurso tem de ser feito a pé pelo deserto do Saara. E os jovens confirmam que muitos ficam, realmente, pelo caminho. Em certas sequências, o cineasta se permite momentos de alento e fantasia, que podem ser entendidos como sonhos ou delírios.

Garrone revelou um dos depoimentos que lhe inspiraram a fazer o filme: “Ao visitar um centro de acolhimento para menores em Catânia, Itália, ouvi a história convincente de um jovem africano que, ainda com 15 anos, conduziu um barco durante todo o caminho para a costa italiana, salvando assim a vida de todos os seus passageiros”, conta o cineasta. Um menor de idade se tornou, por coação, um capitão, e este é o tema que dá título ao filme.

O cineasta tem em sua biografia filmes que abordam a violência de que o homem é capaz por dinheiro, ganância ou poder. É o caso de “Gomorra” (2008), sobre o submundo de gângsteres, adaptado do livro de Roberto Saviano.

Agora ele foca suas lentes sobre os imigrantes. Mostra o quanto é difícil controlá-los, pois toda a rota é feita de maneira clandestina. Quem paga pela travessia, não tem para quem reclamar caso algo dê errado. É, literalmente, uma jornada de vida ou morte. E, além de sofrer individualmente, estas pessoas se tornam testemunhas do sofrimento alheio, dos companheiros de travessia. “Io, Capitano” não é um filme fácil de se assistir, mas é uma denúncia sobre um dos dramas de nosso tempo.

Confira o trailer:


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