Inesperado sucesso de 2020, "O Poço" vai ganhar uma sequência

Inesperado sucesso de 2020, "O Poço" vai ganhar uma sequência

Roteirista do filme espanhol foi um dos convidados do Fantaspoa e falou sobre a nova produção

Carlos Corrêa

Lançado pela Netflix em 2020, o filme tornou-se um inesperado sucesso

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Lançado em 2019, o filme espanhol "O Poço" virou um fenômeno no ano seguinte. Sem muito alarde ou campanhas de marketing, a produção que misturava terror claustrofóbico e crítica social firmou posição na lista dos mais assistidos na plataforma Netflix e acabou tornando-se uma sensação em um período que o isolamento em função da Covid-19 mal estava começando no Brasil e no Mundo. Na quinta-feira, um dos roteiristas do filme, o espanhol Pedro Rivero foi uma das atrações do Fantaspoa, que termina esse final de semana em Porto Alegre, participando de uma sessão comentada sobre a produção. Ele também conversou com a reportagem do Correio do Povo e falou sobre o sucesso da produção, a sequência de "O Poço" e sobre ser presença frequente no Fantaspoa.

De onde surgiu a ideia para "O Poço"?

A ideia original é de David Desola, que concebeu inicialmente o argumento para uma peça de teatro. David e eu nos conhecemos há mais de 20 anos e em função desta nossa amizade trocamos os textos que estamos trabalhando. Havia 15 anos que tinha me enviado as primeiras páginas que havia escrito sobre essa peça, e o material me fascinou. Ali estava tudo de mais importante da história: o poço, a plataforma com comida, os níveis, Don Quixote, (os personagens) Goreng e Trimagasi. Como ele estava ocupado com outro roteiro, decidimos que eu continuaria para poder optar a uma ajuda na escrita e desse modo completar a peça, indo de um tom mais cômico no começo para algo mais dramático. Quando terminamos, pensamos que devíamos reescrever para conciliar os dois tons, masnunca o fizemos e a peça foi parar em uma gaveta até que em 2014, enviamos a meus amigos Carlos Juárez, o produtor da Basque Films, e seu sócio, que estavam buscando um roteiro para realizar o seu primeiro filme. Nós quatro decidimos então converter o que era uma peça de teatro em um filme. Sobre como surgiu aquela primeira ideia, David costuma contar que foi um sonho que teve depois de uma refeição muito farta, mas até hoje não sei se é brincadeira. Ele costuma minimizar como lhe ocorrem ideias tão brilhantes.

O filme foi um sucesso em todo o mundo, incluindo o Brasil, e foi um dos primeiros fenômenos do período de isolamento durante a Codid-19. A que você atribui tanto sucesso?

É evidente que o argumento do filme refletia muitos aspectos do que se estava vivendo em todo mundo durante o confinamento: os personagens de "O Poço" estão presos sem saber quando vão poder sair e disputam a comida que baixa pela plataforma com a mesma avareza e egoísmo com que todos nós nos lançávamos sobre produtos de primeira necessidade nos supermercados quando tínhamos a oportunidade de sair de casa. O fato de a estreia mundial na Netflix ter ocorrido justamente uma semana depois de começar o confinamento em todo o mundo fomentou essa identificação, que também se apoiava no comentário sociopolítico do filme e no final enigmático, convidando o público a querer compartilhar a experiência, tornando ela popular.

O que você pode falar sobre a sequência? Já existe uma data de lançamento para "O Poço 2"?

Não  posso falar muito, apenas que está em desenvolvimento e que espero não demore muito para estrear. Quando terminamos o roteiro do primeiro filme nunca pensamos seriamente em uma sequência, mas depois do sucesso que teve o primeiro nos Festivais de Toronto, no Canadá, e Sitges, na Espanha, e quando chegou à Netflix, percebemos que tínhamos que valorizar a produção, especialmente após ver a expectativa que havia causado e a quantidade de perguntas que o filme havia deixado abertas e que os espectadores sentiam a necessidade de serem respondidas. Uma vez que se confirmou o interesse da Netflix nem fazer a sequência, tanto David como o diretor (Galder Gaztelu-Urrutia), começamos a pensar como deveríamos abordar a sequência, o que devíamos contar e o que não. E creio que o resultado será surpreendente.

Você está envolvido com outro projeto, chamado "Rich Flu". Sobre esse, o que pode falar?

"Rich Flu" é um filme que repete a fórmula autoral de "O Poço". Será dirigida também por Galder e o roteiro escrevemos conjuntamente a partir de novo de uma ideia original de David. Mas neste caso é um filme muito maior e ambicioso, em que os protagonistas, em vez de estarem presos como em "O Poço", viajam por todo o mundo. O argumento trata de uma pandemia que ataca aparentemente apenas as pessoas que têm muito dinheiro. Começamos a escrever antes da Covid-19, a qual nos deixou todos espantados, mas graças ao confinamento pudemos terminar o roteiro mais rápido do que o esperado, já que não fosse o isolamento estaríamos bebendo até morrer graças ao sucesso de "O Poço". Ideologiamente, tem muito a ver com "O Poço" quando trata do tema da desigualdade, mas desta vez com um enfoque mais ligado a luta de classes, como em "Parasita" ou "O Triângulo da Tristeza", e com uma ação mais trepidante. Acredito que ninguém ficará indiferente.

Você já veio várias vezes como convidado do Fantaspoa, mesmo antes do sucesso de "O Poço". O que faz você voltar tantas vezes ao festival?

O Fantaspoa é um festival único no sentido de como integra todos os seus convidados como se fôssemos uma família, desestruturada e cheia de loucos, mas que se mantém muito unida com o passar dos anos, e isso é graças ao coração de seus organizadores, que acredito sabiam de antemão que os filmes do gênero fantástico e de terror são feitas e escritas por gente muito perturbada que devem ser tratadas com cainho para evitar que que levem essas extravagâncias para o mundo real. João Pedro Fleck, Nicolas Tonsho, João Pedro Teixeira e toda a equipe do festival conseguiram com que todos nós que nos conhecemos ali tenhamos virado amigos, e isso é muito difícil em uma indústria tão competitiva como o cinema. Têm muito mérito, o festival se vive com alegria e ter conhecido todos esse pessoal foi uma das surpresas mais agradáveis da minha vida. Sempre quero retornar ao Fantaspoa.


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