Jaume Plensa convida ao silêncio na Bienal do Mercosul

Jaume Plensa convida ao silêncio na Bienal do Mercosul

Escultor é destaque da Bienal do Mercosul, com exposição solo no Iberê Camargo; Confira entrevista com o artista

Carolina Santos*

Jaume Plensa é o artista espanhol que ocupa, em espoxição solo, o Iberê Camargo

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Jaume Plensa é um grande destaque na Bienal do Mercosul, não só pelo tamanha de suas obras. O tema de seu trabalho convida o público a refletir sobre o silêncio e se baseia na dimensão do homem e sua relação com o meio ambiente. Suas obras conversam com o tema da 13ª edição do evento de artes visuais: "Trauma, Sonho e Fuga". 

O artista ocupa a Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000) com 12 trabalhos compostos de diferentes materiais como resina, aço, ferro, vidro e náilon. Conhecido por suas esculturas de rostos e corpos gigantes instalados em espaços públicos, como a "Awilda" – obra temporária construída em mármore e resina na praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, em 2012.

Com trabalhos expostos na Espanha, França, Japão, Inglaterra, Coreia, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Plensa é um dos escultores de maior relevância na contemporaniedade e vencedor do Prêmio Velázquez de Arte, em 2013. Nos Estados Unidos, no Millennium Park de Chicago, está a obra interativa Crown Fountain, instalada em 2004.  

 

Correio do Povo: Qual a tua expectativa para expor na Fundação Iberê?
Jaume Plensa:  Bem, o espaço é maravilhoso. Foi projetado por Álvaro Siza, o arquiteto, por quem eu tenho muito respeito.Também amo o local porque é completamente de frente para a água, o que é um dos temas principais do meu trabalho. O convite foi para criar um diálogo bem na frente da fundação.  

Correio do Povo: O teu trabalho fala muito sobre o silêncio. Pode falar mais sobre isso?
Jaume Plensa:  Sim, eu estou olhando para isso há anos, como fabricar silêncio hoje em dia. Porque a gente está em um momento muito barulhento da nossa história. Sempre as mensagens chegam ao nosso cérebro permanentemente - não só o som, é mais poético, é um desejo de silêncio. Mas, a principal razão é porque é importante manter o silêncio para escutar nossas próprias vibrações, nossas próprias ideias e nossos próprios pensamentos. Por alguma razão, nós nunca achamos que é o momento certo para falar de nós mesmos. Culturalmente nós nunca achamos que é elegante falar de nossas ideias ou descrever nosso mundo interior e eu acho isso completamente errado. Acho que todo indivíduo é um incrível “container” de informação, que, infelizmente, fica escondido dentro de si mesmo. Penso que seria encantador - graças ao silêncio ao nosso redor, o silêncio poético - tentar ouvir o silêncio de todos os indivíduos da nossa comunidade para entender a beleza da diversidade de todos os seres vivos. 

Correio do Povo: Como é o processo de fazer uma obra de arte tão grande?
Jaume Plensa: Eu fiz um projeto bem grande em Chicago, em 2004, chamado “Crown Fountain”. Era um “mix” de faces e água, provavelmente esse é um dos projetos mais icônicos que eu fiz na minha vida. Graças a esse projeto, eu entendi o quanto eu gosto de fotografar retratos de pessoas. Porém, eu decidi fotografar somente mulheres jovens, porque é um momento de transição em termos de beleza e em termos de conceitos de uma infância para uma realidade de uma mulher. Eu acredito que o feminino guarda toda a história, a tradição, a memória, mas também é um link com o futuro.  Eu sou um homem, mas eu considero que nós somos um pequeno acidente no processo, um lindo acidente, mas um acidente.
Na frente do Iberê Camargo está o retrato de um jovem mulher chamada Hortense, “Silent Hortense” nesse caso, porque com suas mãos ela está selando de alguma forma a sua boca em frente da água e isso é uma metáfora de quão importante é ouvir a profunda voz da água, que é nossa origem. Como você sabe nós somos compostos de água, 60 ou 70% dos nossos corpos é feito de água.

Quando eu visitei Porto Alegre eu fiquei muito impressionado com esse rio incrível. E os pobres, a indústria, a antiga estrutura do porto industrial, que agora está vazio, mas continua a tradição que era tão forte na cidade. Bem, eu quis fazer essa homenagem instalando a obra bem na frente do museu. Porque muitas vezes, na minha visão, parece que museus são como fortalezas protegendo eles mesmos. É mais do que convidar pessoas para entrarem, parece que eles bloqueiam a entrada para as pessoas. E eu adoro estar fora do museu eu acredito que é um jeito muito democrático de explicar arte, mesmo se você não perguntar sobre isso, eles vão estar vendo.

Essa rua está cheia de carros e eles estão passando todo dia em frente a minha obra e talvez eles não percebam que eles estão aproveitando a beleza, mas eles estão e quando perceberem já é muito tarde. Já aproveitaram. E eu acho isso muito importante, é um jeito de fazer com a arte e a beleza penetrem nas mais básicas áreas da sociedade de uma maneira muito sutil, você sabe, só instalando. Mas para isso, precisa de uma escala, porque precisa ser grande para ser vista.

Também, se liga com uma parte bem importante da nossa história da arte com os Budas, as cabeças da Ilha de Páscoa, na tradição das cabeças Olmecas, ou seja, porque todo mundo estava tão obcecado em descrever uma cabeça, eu acho que é porque a cabeça é a parte mais importante do nosso corpo onde tudo acontece quando você tem uma ideia, quando você está sonhando, quando você está pensando essas são as verdadeiras ideias, sabe? A cabeça é o palácio do saber, então, é uma homenagem para a cabeça, para a água, é muitas coisas, todas juntas. 

Correio do Povo: O que você pode dizer sobre as peças dentro do museu?
Jaume Plensa: Eu acho que o show dentro é bem bonito, porque é também, a seleção que Marcelo Dantas fez comigo. É ótima, porque ele quis mostrar a diversidade do meu trabalho, em termos de materiais e atitudes, você tem bronze, alabastro, tem outras peças que têm pequenas engrenagens, bombas de água. Porque o som da água é muito importante para a exposição também. Eu estou usando os corredores - esse tipo de corredores esquisitos que o arquiteto fez para passar entre os andares, que é um pouco claustrofóbico - para enfatizar o som da água. No átrio tem outra grande cabeça que é feita com arame. Ela enfatiza também minha obsessão de que as coisas mais importantes na vida são invisíveis e o título dessa peça é “Invisible RuiRui”, que é o nome de uma garota que morava no Canadá e agora vive no Estados Unidos. Essa obra eu fiz há muitos anos que flutua como uma nuvem com sua mão pedindo silêncio. Bem, minha reação foi: “acho que Siza fez esse espaço especialmente para minhas obras, ele teve uma intuição”.

Sob supervisão de Luis Gonzaga.

Confira imagens das obras expostas no interior da Fundação Iberê Camargo:


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