Jornalista do Correio do Povo lança "Campereadas" na Feira do Livro
Livro terá sessão de autógrafos nesta quinta, às 18h, no estande da Record
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Sobre o livro, Paulo Mendes conta que "são vivências que tenho pretensão de dizer que transformei em literatura". Os relatos divididos em Infância, Lida e Memória falam do campo a quem não conhece e aos nostálgicos da vida campeira. "A obra tem linguagem regionalista, mas é facilmente compreendido por um urbano porto-alegrense", ressalta Mendes.
Nesta entrevista, o mestre em Literatura Brasileira pela Ufrgs e editor de Geral do Correio do Povo fala sobre o livro, sua biografia literária, suas influências, sobre a vida do campo e sobre o seu pai adotivo, José Mendes, falecido há 30 anos (em 2 de novembro de 1981): "o cara mais genuinamente gaúcho que eu conheci".
Correio do Povo - "Campereadas" é a concretização de um sonho do homem, do escritor?
Paulo Mendes - Eu podia ter escrito um livro antes, independente, mas este livro concretizou o que eu tinha planejado para a minha carreira literária. Um livro bem editado, distribuído e divulgado pela Sulina e pelo Correio do Povo, a partir de textos publicados regularmente no jornal, que chega a todos os cantos do Estado e fora dele.
Correio do Povo - Como nasceram as "Campereadas"?
Paulo Mendes - Sempre escrevi contos e poemas, mas em 2009 após escrever num jornal interno do Correio do Povo, o Direto ao Ponto, a editora de Rural, Carolina Jardine, me convidou para escrever uma coluna de ficção na volta do Correio Rural como caderno dominical. Publiquei inicialmente o texto "O Último Mate", sobre um gaúcho, velho, solitário, sem família. Recebemos centenas de manifestações de apoio. O nosso diretor de Redação, o Telmo Flor e a Carol perguntaram se eu teria fôlego para escrever semanalmente. Desde então, escrevo todos os dias, seja no silêncio ou com o marceneiro martelando no banheiro. Estou preparando uma narrativa longa, cujo personagem Julio Villa (que já apareceu em "As Caturristas Sempre Voltam") termina os dias num asilo, à espera da filha única que nunca volta. Passa a Páscoa, Natal e Dia dos Pais e nada dela voltar.
Correio do Povo - O livro assim como os textos dominicais no Correio Rural tem uma enorme capacidade de emocionar, de mexer com o nostálgico. O que tu podes dizer sobre o conteúdo dos textos?
Paulo Mendes - São vivências que tenho a pretensão de dizer que transformei em literatura. São criações a partir do imaginário. Vivi até os 18 anos no campo. Nas crônicas, trago histórias de personagens reais; nos contos, utilizo o imaginário campeiro; e nos causos, transcrevo histórias que ouvi quando era bolicheiro. Me criei no campo, mas estou na cidade. O narrador dos contos é um personagem que vive na cidade e da janela do seu apartamento recorda o campo.
Correio do Povo - Dedicas o livro a alguém?
Paulo Mendes - A meu pai adotivo José Mendes, que faleceu há 30 anos num Dia de Finados. É o gaúcho que carrego na alma. Ele foi o cara mais genuinamente gaúcho, mais campeiro, que eu conheci. Nunca tirava as pilchas e gostava de tropear.
Correio do Povo - Quais são as referências da tradição literária contidas nos textos de "Campereadas"?
Paulo Mendes - Há neste livro uma intertextualidade com textos de Jorge Luis Borges, Juan Ramón Jiménez, Aureliano de Figueiredo Pinto, Sérgio Jacaré, Gabriel García Márquez e Aparicio Silva Rillo. As vozes destes caras circulam pelos livros. Em "Charlas com Tostado" há algo de "Platero e Eu", do Juan Jiménez. Em "Para Que Nunca Sejam Esquecidos" há a ideia do "Sur", de Borges, dos gaúchos viverem o seu destino sem saber quem e o que eram. Tem também diálogos com textos de compositores como Mauro Moraes, Gujo Teixeira e Rodrigo Bauer.
Correio do Povo - Por conter termos do meio campeiro gaúcho, o livro não pode ser evitado pelos leitores urbanos?
Paulo Mendes - As humanidades independem dos locais, se estão no campo gaúcho, em São Paulo, Moscou ou Paris. O livro tem linguagem regionalista, mas é facilmente compreendido por um porto-alegrense urbano. Só posso utilizar aquilo que eu sou, meio campo, meio urbano. Deste choque de cultura, do campo e do asfalto, é que nasce o livro.
Correio do Povo - E o retorno do público que você tem com as crônicas.
Paulo Mendes - A recepção é a melhor possível. Recebo cartas e e-mails de leitores dos 8 aos 80 anos, das mais diversas profissões. Falo da infância, da memória. O ser humano é saudosista por natureza. Muitos me dizem que gostam de ler meus textos pela emoção contida nele, mas que acham ruim, pois logo começam a chorar. Eu escrevo com emoção e quero que meus leitores se emocionem, que revivam a emoção pela arte.
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