Leituras que podem virar filmes tratam de criar vacinas, relatos de vida e feminismo
'História de uma Vacina', 'Todo Dia a Mesma Noite' e 'Contra o Feminismo Branco' contam um pouco sobre o contexto que vivemos
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No momento em que se aproxima o final de mais um ano, há livros que mostram um pouco do que se vive nestes tempos. Um deles é "Todo Dia a Mesma Noite", da jornalista Daniela Arbex, que retrata "a história não contada da boate Kiss". Editado pela lntrinseca, o livro traz relatos colhidos pela autora de "Holocausto Brasileiro" e "Cova 312" sobre o acontecido na noite de 27 de janeiro de 2013, no incêndio em Santa Maria, que teve 242 mortos. Em reportagem contundente do ocorrido, Daniela dá voz a envolvidos e contextualiza fatos. Sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da saúde contam, "em depoimentos dolorosamente honestos", o que se viveu durante horas de aflição na tragédia. No prefácio da obra, o jornalista Marcelo Canellas dá o tom do que se lerá: "O leitor encontrará aqui inacreditáveis exemplos de vilania e de falta de compaixão, mas também surpreendentes gestos de grandeza humana, capazes até de nos reconfortar".
Outra obra que marca parte do contexto que vivemos e que tem tudo para virar roteiro de filme tratando da pandemia de Covid-19, é "História de uma Vacina", do Selo História Real, da Intrínseca. Escrito pela médica brasileira Sue Ann Costa Clemens, que coordenou o programa de testes da vacina Oxford/AstraZeneca em mais de 10 mil voluntários brasileiros, o livro mostra como, em menos de um ano, ela levantou do zero financiamento, equipes técnicas e algumas das instalações necessárias para a "operação de guerra" que se armava.
Com narrativa fluida, sem se prender aos elementos mais técnicos da área, trata de questões científicas da pesquisa e dos desafios práticos de realizar, em tempo recorde, um estudo clínico dessa dimensão, sob o olhar atento da mídia mundial dos governos e da opinião pública. São expostas as dificuldades técnicas, a falta de vacinas, os entraves burocráticos e políticos. Mas tem também vitórias da pesquisa e a superação diária de um time de profissionais formado, sobretudo por mulheres: dos seis centros de testagem brasileiros, quatro tinham liderança feminina. "História de uma Vacina" resulta ser um claro relato sobre o real valor da pesquisa científica contemporânea, e também dos obstáculos existentes em seu caminho. Pediatra, professora e pesquisadora especializada em vacinas, Sue Ann já contribuiu também diretamente para o desenvolvimento de outras vacinas, como a do rotavírus e do HPV.
Já no campo da busca por mais diversidade do feminismo, está o livro "Contra o Feminismo Branco", da escritora, advogada e ativista dos direitos humanos Rafia Zakarias. Sua experiência vem de trabalhar por vitimas da violência doméstica do mundo todo, além de ter nascido e crescido em Carachi, além de haver trabalhado no conselho de administração da Anistia Internacional. "Contra o Feminismo Branco", tal contramanifesto, traz o termo "de cor" em português traduzido do termo ingiês "of color", retomando o uso político historicamente estabelecido por ativistas antirracistas brasileiros. A escrita da obra é direta e impactante, questionando desde pensadoras como Simone de Beauvoir a produtos culturais como "Sex and lhe City". O resultado destas escolhas acaba sendo uma obra crítica à adesão do feminismo branco ao patriarcado, à lógica colonial e à supremacia branca.