Lenda do jazz Pharoah Sanders morre aos 81 anos

Lenda do jazz Pharoah Sanders morre aos 81 anos

Artista absorveu influências da música africana e da asiática

AFP

Artista absorveu influências da música africana e da asiática

publicidade

A lenda do jazz Pharoah Sanders, saxofonista de grande criatividade que absorveu influências da música africana e da asiática, faleceu neste sábado (24), aos 81 anos - informou sua gravadora. "Estamos arrasados de compartilhar que Pharoah Sanders faleceu. Morreu em paz, cercado de sua família e amigos, em Los Angeles", afirmou a gravadora Luaka Bop, em um comunicado.

O músico começou a ganhar destaque nos primórdios do free jazz, na década de 1960. "Se você escutar os músicos daquela época, vai perceber que mudaram a música para o desgosto de muitos. Eu tentei. Talvez tenha sido extremo demais, mas não desisto, pois é o único jeito que sei fazer as coisas", contava ao Estadão em agosto de 2010, quando veio ao Brasil para fazer dois shows.

Nascido como Farrell Sanders em 13 de outubro de 1940 em Little Rock, no Estado norte-americano do Arkansas, ganhou o apelido Pharaoh (Faraó, em português) quando tocava na Arkestra de Sun Ra, grupo de estética egípcia.

Sanders estava entre os que tocaram ao lado do lendário John Coltrane. "Quando eu trabalhava com John, ele nunca dizia nada. Se eu resolvesse tocar Parabéns, não havia problema, pois era isso o que tinha dentro de mim naquele momento. Ele aceitava as pessoas pelo que elas eram. Ponto. Ele não me contratou porque eu tinha técnica ou isso e aquilo mais. Ele me contratou porque gostava de mim como pessoa. E qualquer som que eu tocasse estava bom para ele", relembrava, sobre o antigo parceiro musical.

O resultado foi uma vertente espiritualizada das inovações de Ornette Coleman, Albert Ayler, Cecil Taylor e Sun Ra. As improvisações eram longas. Alternavam entre um carnaval endoidecido de solos e meditações carregadas de uma áurea mística semelhante ao gospel. Indicavam uma volta do jazz às raízes do delta blues.

Após a morte de Coltrane, em 67, Alice Coltrane, sua mulher, e Pharoah se aprofundaram no jazz rarefeito e espiritual que o saxofonista deixara, trabalhando temas de filosofias orientais em álbuns como Journey in Sachidanada e Karma.

O outro grande do free jazz, Albert Ayler, chamou Pharoah de filho na santíssima trindade de saxofonistas da época. (Coltrane era o pai e o próprio Ayler, o espírito santo).

Em 2010, Pharaoh Sanders refletia ao Estadão: "O blues é simplesmente um sentimento. Não há como defini-lo com uma série de notas. Portanto, quando toco, não toco música. Toco o meu eu."

Exploração espiritual

Sanders, que em seus últimos anos usava uma longa barba branca, deu seus primeiros passos na música pop, começando com "Thembi", de 1971, em homenagem a sua esposa.

Mas sua incursão no mainstream foi breve. Em "Jewels of Thought", de 1969, Sanders explorou o misticismo da África, abrindo o álbum com uma meditação sufi pela paz.

Décadas depois, em "The Trance of Seven Colors", Sanders colaborou com Mahmoud Guinia, o mestre marroquino da música espiritual gnawa e do alaúde.

O álbum de 1996 de Sanders, "Message from Home", mergulhou em influências da África subsaariana, como highlife, a mistura pop de música ocidental e tradicional que se originou em Gana.

Ele também explorou a forma indiana em suas colaborações com Alice Coltrane, a segunda esposa do mestre do jazz, que se tornou iogue.

Sanders admirava músicos indianos como Bismillah Khan, que introduziu o shehnai, um tipo de oboé frequentemente tocado em procissões pelo subcontinente; e Ravi Shankar, que internacionalizou a cítara.

Acostumado a compartilhar energia em bandas de jazz, ele disse que os músicos indianos conseguiam fazer "música pura".


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895