Lenine apresenta turnê "Em Trânsito" em Porto Alegre

Uma das maiores referências da música brasileira, Lenine apresenta em Porto Alegre, nesta sexta-feira, o seu mais novo trabalho. Lançado em maio, "Em Trânsito" percorre um percurso inverso do que tradicionalmente é seguido na indústria fonográfica: o artista pernambucano elaborou primeiro o show, realizado em janeiro para um pequeno grupo, e a partir do registro da apresentação vieram um CD, um LP, um DVD e um documentário, além da disponibilização em plataformas digitais.

A necessidade de mudança, conforme Lenine, é algo que o acompanha durante toda a vida, como uma inqueitação. "Acho que tem a ver com um certo sentimento de repetição que toda a profissão pode ter. E, para mim, sempre teve esse exercício na minha equação, de descontruir e construir de novo. E se adequar, se adaptar", comenta, em entrevista por telefone. "Quando aconteceu de, no final do ano passado eu estar naquele momento 'eu preciso fazer uma coisa nova', eu sabia que eu não queria entrar no estúdio como eu sempre faço e ficar cinco, seis meses elaborando um CD, entende? Essa equação já não é essa mais", acrescenta.

Para o artista, o projeto, com esse característa de ser o registro já no palco, envolveu uma alteração na "mecânica do fazer" que lhe deu a possibilidade de jogar o foco em sua banda, que inclui músicos que tocam com ele há quase 30 anos. "No final das contas, Bruno Giorgi, que apesar de ser meu filho - e portanto nasceu já no meu trabalho - é o mais novo na banda, tocando comigo. Então esse sentimento familiar que eu carrego no meu trabalho, no caso do 'Em Trânsito' está muito evidente porque todo esse foco foi para essa banda que ao longo dos anos adaptou as minhas canções, que eu fiz no estúdio, para o palco", explica.

Como o título sugere, "Em Trânsito" está carregado pelo sentimento de constante (e rápida) mudança. Questionado sobre uma possível definição para o significado do novo trabalho, Lenine esclarece: "Num significado exterior a mim, tem a ver com a distopia que nós vivemos, uma desesperança desacerbada. E, por outro lado, uma situação mais interior, da minha perplexidade diante dessas mudanças todas que estão acontecendo. É, sobretudo, essa constatação de velocidade vertiginosa a qual a gente está sendo imposto a viver, é uma grande reticência".

Embora tenha esse tom cinzento e venha puxado pelo single "Intolerância", "Em Trânsito" exalta o afeto, como na canção "Leve e Suave", que diz: "Há de ser leve um levar suave / Nada que me entrave nossa vida breve / Tudo que me atreve a seguir de fato o caminho exato da delicadeza / E ter a certeza de viver no afeto". Lenine considera que, até como um contraponto, a obra procura muito pela leveza e pela suavidade que a música sugere. "O afeto permeia como solução de tudo. Acho realmente que foi a tecnologia do afeto a maior invenção da humanidade", afirma.

Agora em turnê, Lenine sobe ao palco acompanhado de Bruno Giorgi (guitarra), JR Tostoi (guitarra), Guila (baixo e synth) e Pantico Rocha (bateria) para mostrar o que define como "a versão sem corte do diretor". "Ali está a minha narrativa, o desencadear das canções", esclarece sobre o projeto que trouxe a preocupação de uma adaptação ideal para cada formato em que foi lançado, considerando a narrativa do artista e também que as músicas funcionassem randomicamente. "O CD são 10 canções. O vinil já são cinco e cinco canções, são duas histórias fragmentadas. Então tudo isso leva a uma narrativa, a uma compreensão. No fundo, no fundo, são narrativas até similares, mas cada um tem o seu relevo. Mas o show é a versão sem corte do diretor", conclui.

Além das novas canções, como as já citadas "Intolerância" e "Leve e Suave", o show desta sexta na Capital promete um bis "generoso", nas palavras do artista, incluindo sucessos da carreira que não estão no roteito do "Em Trânsito". A apresentação ocorre a partir das 20h, no bar Opinião (Rua José do Patrocínio, 834). Restam ingressos disponíveis a partir de R$ 130 (inteira) - no promocional, o valor é reduzido para R$ 70 mediante a doação de 1kg de alimento não perecível.