Maior festival de roteiro audiovisual da América Latina começa nesta terça, em Porto Alegre

Maior festival de roteiro audiovisual da América Latina começa nesta terça, em Porto Alegre

Em sua 10ª edição, FRAPA volta a ser realizado presencialmente, desta vez na Casa de Cultura Mario Quintana

Henrique Massaro

Mariana Mêmis Müller e Leo Garcia são os idealizadores do evento

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Henrique dos Santos se graduou em Cinema pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) em 2016 com uma certeza: diferentemente do que imaginava quando ingressou na faculdade, e do que boa parte de seus colegas tinha como aspiração, não queria trabalhar como diretor. Não tinha aptidão para estar no set e acompanhar a rotina puxada de uma produção. Sua vocação era escrever as histórias que seriam filmadas. Foi com seu primeiro roteiro de longa-metragem e primeiro trabalho após a graduação que chegou, em 2017, ao Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre (FRAPA). Na Capital, teve não só a oportunidade de apresentar o trabalho diante de uma banca e de uma plateia, como de participar do maior evento voltado para roteiristas na América Latina, que, a partir da próxima terça-feira, chega à sua 10ª edição, a maior até aqui. 

O roteiro em questão apresentado por Santos era de “Deserto Particular”, escrito em parceria com o cineasta Aly Muritiba, que posteriormente dirigiu a obra, lançada em 2021, amplamente elogiada pela crítica e vencedora do prêmio do público de melhor filme no Festival de Veneza. Anos antes, o texto, já em seu quarto tratamento, chegou ao FRAPA como finalista do concurso de roteiros de longa-metragem, uma das atrações do festival. “Deserto Particular” ficou com o terceiro lugar, e a apresentação, conta o roteirista, foi fundamental para que o filme tivesse o resultado que teve. Houve também produtoras que o procuraram para realizar este e outros projetos graças a apresentação e a toda uma rede de contatos construída durante o evento. “Para quem procura ser somente roteirista, o FRAPA é a vitrine”, conta Santos. 

O FRAPA é não só o maior, mas também o primeiro festival de roteiros da América Latina. Sua primeira edição, em 2013, surgiu justamente da necessidade de haver um evento voltado para estes profissionais, conta o roteirista Leo Garcia. “Existiam alguns eventos de mercado, mas que o roteirista acabava nem sendo convidado”, lembra. Foi assim que Garcia, sócio da Coelho Voador, idealizou o evento, ao lado da produtora Mariana Mêmis Müller e do roteirista e diretor Pedro Guindani, que permaneceu somente nos primeiros anos de FRAPA. 

Garcia e Mêmis estreitaram uma relação de parceria após realizarem um trabalho em 2010, uma série roteirizada por ele e produzida por ela, que recorda que era frequente a reclamação do colega sobre a necessidade de envolvimento do roteirista em questões burocráticas. “O ideal era que os roteiristas só escrevessem, mas isso não acontecia, porque não tinha uma união da classe”, lembra Mariana. “O roteirista recebia para escrever o roteiro, depois, saía tentando botar em edital e, se fosse produzido, recebia pelo trabalho dele.” 

As conversas sempre levavam à conclusão de que a superação dessas dificuldades passava pela profissionalização da área. Junto de Guindani, começaram a desenhar um modelo de festival, que, nas duas primeiras edições, funcionou dentro da Feira do Livro. O sucesso da primeira edição fez que a segunda aumentasse um pouco de tamanho, que distribuidoras de filmes e representantes do mercado começassem a se interessar, assim como o público. “O FRAPA não nasceu de um empresário que produz eventos, nasceu de roteiristas que precisavam se encontrar”, explica Mariana. 

Já na terceira edição, o evento cresceu, ganhou autonomia, e ocorreu na Cinemateca Capitólio. Em 2020, quase todas as credenciais já haviam sido vendidas para a realização do festival, pela primeira vez, na Casa de Cultura Mario Quintana. Mas, em função da pandemia, foi necessário aderir ao formato on-line, que se manteve em 2021. Agora, de 6 a 9 de setembro de 2022, o evento volta a reunir o público presencialmente no mesmo espaço previsto dois anos atrás. As credenciais para esta edição foram vendidas até a última quarta-feira, mas quem não chegou a adquirir poderá também conferir as mostras de curtas-metragens que serão disponibilizados gratuitamente no site do FRAPA e os longas que serão exibidos na Cinemateca Paulo Amorim. 

Diversos convidados de destaque no mercado estão confirmados para esta edição do festival. Entre as mesas de debates, apresentações e workshops, haverá uma diversidade de assuntos sendo abordados dentro da temática, como, por exemplo, narrativa para documentário, construção de personagem, venda de projetos, indústria de games e roteiro de podcasts. 

O concurso de roteiros em duas categorias – longa-metragem e piloto de série de TV – teve as inscrições abertas previamente. Durante o evento, cinco finalistas de cada categoria e outros dois profissionais selecionados pelo Laboratório Negras Narrativas participam do FRAPA [LAB], no qual ficam imersos durante o evento com consultores para aprimorarem os projetos de sua autoria. Eles ainda têm a oportunidade de realizarem pitchings – momento de apresentação e “venda” do roteiro – para players do mercado. Ainda existem diversos prêmios, como bolsas de estudos e R$ 5 mil para os vencedores. Também são destaque no festival as rodadas de negócios, reuniões de 20 minutos agendadas pela equipe do FRAPA entre roteiristas e players do mercado que se interessarem pelos projetos. 400 destes encontros ocorreram em formato on-line, entre 24 e 26 de agosto, e 200 presenciais serão realizados durante o evento. 

Além de todas as atrações e atividades, o FRAPA é, segundo os organizadores, um grande ponto de encontro para os profissionais que se ocupam de uma atividade, geralmente, solitária. De acordo com Leo Garcia, apesar das dificuldades e crises no setor cultural, vive-se um novo momento com o crescimento das plataformas de streaming. E o festival, ainda segundo ele, é o espaço ideal para fazer uma rede de contatos que pode gerar oportunidades. “O FRAPA é super aberto a pessoas que estão começando, tem muitas atividades de formação, que a pessoa vai aprender, vai ganhar um conhecimento bom, vai poder botar um projeto ali e ser selecionado, trocar ideia com algum player. Tem muita história de gente que se conheceu dentro do festival.”


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