Maria Bethânia escreve sua "Carta de Amor" para fãs extasiados

Maria Bethânia escreve sua "Carta de Amor" para fãs extasiados

Abelha rainha cantou 33 músicas durante 1h35min em Porto Alegre, e repete a dose nesta quinta-feira

Luiz Gonzaga Lopes/Correio do Povo

Abelha rainha cantou 33 músicas durante 1h35min no Teatro do Sesi e repete a dose nesta quinta-feira

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Depois de dois adiamentos, um deles pela grande dor da perda da mãe Dona Cano, Maria Bethânia mostrou para os gaúchos como se escreve uma “Carta de Amor”, o título do seu show a partir do disco “Oásis de Bethânia” lançado no início de 2012. Foram 33 músicas durante 1h35min, com direito a bis de improviso. Para delírio da plateia que quase lotou o Teatro do Sesi, Bethânia adentrou o palco às 21h05min desta quarta-feira, aos acordes de "Canções e Momentos", com os seus pés descalços, sua saia rodada e sua voz e pose quase míticas. Sob a batuta do maestro e pianista Wagner Tiso e diante de um cenário econômico e belo de Bia Lessa, diretora do show, com as luzes que sobem de Tomás Ribas, Bethânia entoou ainda "Sangrando" e "Salmo", esta do mais recente disco.

Aos 66 anos, a cantora está cada vez mais enfeitiçante e seguiu desfilando sucessos, não sem antes pedir desculpas pelos dois adiamentos do show. “É a vida”, disse. Do mano Caetano Veloso, cantou “Não Enche” e depois emendou com “Fogueira” e “Casablanca”, a canção de Roque Ferreira, do disco Oásis de Bethânia, com o piano do mineiro Wagner Tiso e o refrão: Era sonhar / Em preto e branco no cinema / será que Casablanca ainda vai passar? / Acho que vou chorar, numa alusão ao clássico filme de Ingmar Bergman.

Com "Calúnia", "Negue", "Olhos nos Olhos" e "Fera Ferida", novamente do mano Caetano, Bethania contagiou o público que avistou o Oásis de Bethânia com "Barulho", romântica com o piano de Tiso pontuando as frases: “tudo relevo e tolero / mas já falei que eu não quero / que me levante a voz, música sobre as desavenças de um casal. Um dos momentos mais emocionantes do show foi quando Bethânia cantou a música do português Pedro Abrunhosa: "Quem me Leva os meus Fantasmas", com uma luz suave azul e os dizeres: “Quem me leva os meus fantasmas? / Quem me salva desta espada? Quem me diz onde é a estrada?”

Bethânia saiu pela primeira vez do palco e do piso que lembra um terreiro ou um local de oração ou de celebração à vida, com tiras entrelaçadas artesanalmente, e deixou a banda com um set instrumental das músicas "Cais" e "Maria, Maria", de Milton Nascimento, com o também mineiro Wagner Tiso (piano), Gabriel Improta (violão e guitarra), Paulo Dafilin (violão e viola), Jorge Helder (baixo), Pantico Rocha (bateria), Marcelo Costa (percussão) e Marcio Mallard (cello). Bethânia voltou ao palco e executou de "Em Estado de Poesia", de Chico César a "A Nossa Casa", de Arnaldo Antunes, em ritmo de xote.

Com "Reconvexo", "O Velho Francisco", de Chico Buarque, e "Carta de Amor", a cantora mostrou toda a sua força estranha. A música que dá título ao show tem duração de quase oito minutos, um naipe percussivo que contagia, com as luzes baixando ao nível de um terreiro, com a poesia de Bethânia, entremeando a composição de Paulo César Pinheiro e a estrofe predominante: “Não mexe comigo, que eu não ando só”. Com um medley de “Salmo” e “Canções e Momentos”, Bethânia fechou o show, mas o público hipnotizado pediu bis e a baiana trouxe Fernando Pessoa para o palco com Mensagem e a poética sentença repetida pelo poeta que “todas as cartas de amor são ridículas”, pois “afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas”.

Com as cortinas fechadas, o público pediu e ela voltou para fazer um bis de improviso. Cantou “Explode Coração” com a conivência vocal da plateia, todos a capella, fechando com a clássica de Gonzaguinha, “O Que é, O Que é?. “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”. Nesta noite, fomos todos aprendizes de uma baiana que enfeitiça, hipnotiza, com a sua voz e a sua poesia, quando mergulhamos no Oásis de Bethânia.


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