Michael Haneke reúne suas marcas cinematográficas em drama "Happy End"

Michael Haneke reúne suas marcas cinematográficas em drama "Happy End"

Diretor austríaco repete parceria com Jean-Louis Trintignant e Isabelle Huppert em novo longa

Eric Raupp

Filme versa sobre a conturbada relação de uma família burguesa no norte da França

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A burguesia desumanizada, os conflitos familiares, a velhice, a vida e a morte: "Happy End", estrelado por Jean-Louis Trintignant e Isabelle Huppert, reúne as principais características da cinematografia do diretor Michael Haneke. Depois de ganhar duas Palmas de Ouro em Cannes, com "A Fita Branca" (2009) e "Amor" (2012), e um Oscar de melhor filme estrangeiro pelo último título, o austríaco de 75 anos entra na intimidade de um clã da alta sociedade que vive em Calais, no norte da França. Segundo o cineasta, "a obra é um instantâneo de uma família burguesa europeia".

Na trama, sob o mesmo teto estão Georges (Trintignant), um homem verdadeiramente arrogante, sua filha Anne (Huppert), que lida com os assuntos da família com mão de ferro e Thomas (Mathieu Kassovitz, recém-chegado no universo do cineasta), seu filho médico que é incapaz de demonstrar emoções. A chegada a este microcosmo esclerótico de Eve (Fantine Harduin), a filha de Thomas que ele não vê há anos, é o elemento disruptivo dessa calma também aparente. Além disso, há o pano de fundo da crise migratória.

"Happy End" não foi unânime em Cannes, onde ele foi apresentado em competição e poderia ter trazido um terceiro prêmio para seu diretor. A recepção pela mídia oscilou entre "Haneke no seu melhor" e "Haneke em modo menor". Desconcertante nos dois primeiros momentos, a obra cresce de repente em sua última parte. Em primeiro lugar, pela intensidade de um diálogo entre a jovem Eve seu avô, e então, pela sequência perturbadora final, que dá todo o seu significado ao título do filme.

"É uma espécie de autarquia afetiva torna seus membros cegos e surdos ao mundo que os rodeia", explica Hupper, que atua pela quarta vez sendo dirigida pelo diretor. "Uma violência maçante está emergindo dessas relações familiares", completou. Como Claude Chabrol, outro cineasta da burguesia com quem a artista está acostumada a trabalhar, Haneke também gerencia um humor frio que não se vê desde "Funny Games" (1992). Mas ele acrescenta muito desespero, em um ambiente seco que impõe distância.

Da mesma forma, o austríaco revisa nesta opus outros temas recorrentes, como as neuroses da sexualidade ("A professora de piano"), o racismo latente e a distorção da realidade por telas ("O Vídeo de Benny"). Ele até permite se referir ao seu filme anterior, "Amor", no qual o personagem de Trintignant ajudou a esposa a morrer. Poucos anos depois, encontramos o ator de 86 anos dominado pelo peso de uma vida que já não vale a pena ser vivida.

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