"Moonage Daydream" faz uma imersão no processo criativo de David Bowie

"Moonage Daydream" faz uma imersão no processo criativo de David Bowie

Documentário de Brett Morgen que estreia nesta quinta nos cinemas conta com imagens inéditas do artista

Márcio Gomes

Documentário "Moonage Daydream" estreia nesta quinta-feira, dia 15

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“Moonage Daydream”, o documentário sobre David Bowie, que estreia hoje no Cinemark Wallig, em Porto Alegre, abre com as letras que formam BOWIE na tela e deixa claro que essa é uma obra que tratará muito pouco sobre David Jones, o homem, e sim sobre o rock star. Suas motivações, como faz o seu trabalho, o que entende por arte e como vê o seu papel no mundo. E nisso consiste os grandes feitos e alguns dos problemas da produção dirigida por Brett Morgen. Ela ficará em cartaz na Capital gaúcha até o próximo dia 21h, sempre com sessão às 20h. 

Ao assumir o primeiro filme que contou com total autorização da família de Bowie, o diretor teve acesso a um arquivo impressionante de imagens para contar a história de um dos principais artistas do século 20. Talvez por isso, e pela própria carreira de Bowie, decidiu narrar tudo isso de forma fragmentada, diferente do roteiro linear de "Get Back", de Peter Jackson, por exemplo.

Não é por acaso que “transitoriedade” é uma das palavras que aparece seguidamente ao longo das quase 2h30min, pontuando não apenas as sequências na tela, mas também a eterna mudança de rumo que foi a vida artística de Bowie. E a produção brilha exatamente nesses momentos, quando mostra o músico explicando seus processos criativos, o uso da técnica de cut-up para escrever suas letras, a parceria com Brian Eno para criação da sonoridade do período de Berlin, o sentido e o motivo para criação de "Ziggy Stardust", entre outros.

Um dos melhores momentos ocorre quando, após o sucesso monumental de “Let’s Dance”, Bowie admite que a escolha de optar por um caminho mais “positivo” e em sintonia com o público foi artisticamente equivocada. E lamenta tudo isso ao som de “Rock And Roll Suicide”.

Além disso, a promessa de grande experiência imersiva no documentário ocorre quando vemos as imagens dos shows nas diversas fases da carreira de Bowie. Colocados no meio do palco, e com um som explodindo nos altos falantes do cinema, se consegue ter o momento mais próximo hoje de uma apresentação de Ziggy Stardust do que é possível.  Durante o período dos anos 90, a performance de “Hallo Spaceboy”, intercalada com imagens de Matrix e declarações sobre o caos, torna o efeito bastante desconcertante.

É bom ressaltar que esse é um filme para iniciados. Que sabem contexto das imagens na tela e da narração de Bowie que costura a história. E é também uma produção que se revela nas suas omissões, quando ignora completamente Ângela Bowie, a primeira mulher do artista e quase um ícone cultural dos anos 70, mas dedica todo um segmento a Iman, a segunda esposa. Deixa de lado o vício em cocaína durante o período americano dos anos 70, que impulsionou a produção de um dos seus personagens mais emblemáticos após Ziggy – Thin White Duke –, e foi um dos motivos que também o levou a se refugiar na Alemanha. Tudo é apenas sugerido em imagens frenéticas que surgem na tela.

A principal ausência, no entanto, é mostrar muito pouco dos últimos dois álbuns da carreira do artista, que foram feitos em total mistério e poderiam elucidar um pouco de suas motivações, angústias e intenções. Blackstar serve no filme como um prólogo e um epilogo, uma referência à transcendência da vida de Bowie no documentário.

Brett Morgen fugiu das convenções de um documentário biográfico tradicional. Arriscou um pouco, se conteve outros tantos, mostrou uma faceta nem tão inédita quando prometia de David Bowie. Mas conseguiu ampliar a visão do artista e as intenções que tinha sobre sua obra. Tudo isso com imagens e sons espetaculares. Vale ser visto várias vezes. Na maior tela e no melhor sistema de som possível. Em Porto Alegre, ele está disponivel no IMAX, na sessão das 20h. 


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