Morre Eva Sopher, presidente da Fundação Theatro São Pedro
Produtora cultural tinha 94 anos
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Dona Eva, como era conhecida no meio cultural, estava há mais de quatro décadas à frente do Theatro São Pedro. Em meados dos anos 70, assumiu a direção do icônico centro cultural gaúcho. Até 1984, também foi responsável por coordenar a restauração e reconstrução do espaço como monumento histórico-cultural, preservando-o de uma possível demolição. Um ano depois, reuniu 18 amigos e juntos fundaram a Associação Amigos do Theatro São Pedro, que atualmente tem mais de mil associados.
Amor ao Theatro São Pedro
“Eu amo o Theatro São Pedro. Amo este espaço cênico. Foi amor à primeira vista, apesar da condição precária em que o vi pela primeira vez, em 1960. Em 1975, quando fui convidada para coordenar sua restauração, primeiramente recusei – estava demasiado envolvida com outros projetos culturais. Mas meu esposo Wolf convenceu-me com o alerta de que eles então certamente demoliriam o São Pedro, assim como haviam feito com o teatro do outro lado da rua. Neste ponto eu aceitei a tarefa de adotar aquele 'templo secular' como parte de minha vida”, contou ela no prefácio do catálogo “Theatro São Pedro: 150 anos – Porto Alegre”.
Nascida em 18 de junho de 1923, em Frankfurt, na Alemanha, Eva Sopher e seus pais fugiram do nazismo para o Brasil nos anos 30. Em 1960, ela fundou em Porto Alegre uma filial da “ProArte Sociedade de Artes Letras e Ciências”, iniciativa que começou em São Paulo e organizava eventos culturais internacionais. Em pouco tempo, o resultado já apareceu e ela conseguiu promover temporadas com até 24 espetáculos do mais alto nível na capital gaúcha. Já com o Theatro São Pedro, a empreendedora cultural instituiu na região um espaço excepcional para artistas locais iniciantes e estrelas internacionais.
Ao longo de sua vida, Dona Eva recebeu diversas homenagens locais por seu trabalho, como os títulos de “Personalidade do Ano” (Porto Alegre) e “Cidadã Honorária do Estado” (Rio Grande do Sul). Mas sua atuação também foi reconhecida internacionalmente e já em 1970 ela foi condecorada pelo presidente da Alemanha por promover difusão cultural entre Brasil e Alemanha com a Bundesverdienstkreuz Erster Klasse (Cruz de Honra ao Mérito da República Federal da Alemanha, Primeira Classe).
Dentre as demais distinções que recebeu ainda estão a Ordre des Arts et des Lettres (Medalha de Letras e Artes), na França, e o Prêmio “Preservação da Memória”, no Brasil – entregues, respectivamente, em 1978 e 1995. Em 2015, ela também foi agraciada com a Medalha Goethe, concedida pelo governo alemão a personalidades que se destacaram de maneira especial na promoção do intercâmbio cultural internacional. Em função da idade avançada, que a impediu de fazer uma longa viagem, ela não pôde receber o prêmio pessoalmente.
“Exemplo”
Diretor artístico do Theatro São Pedro, Dilmar Messias exaltou o trabalho de Dona Eva: “Foi uma figura, uma pessoa muito importante para a cultura da cidade. Além da restauração do Theatro São Pedro e da construção do Multipalco, ela deixou uma marca de administração, de cuidado com o público, de cuidado com o espaço cênico. É um exemplo de mulher dedicado à cultura”, afirmou.