"Mudanças em Cuba são lentas, mas significativas", afirma Leonardo Padura

"Mudanças em Cuba são lentas, mas significativas", afirma Leonardo Padura

Autor da tetralogia "Estações Havana" comentou recentemente o momento político da ilha

AFP

Para o cubano, faltam mudanças econômicas mais radicais

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O escritor Leonardo Paduro, ícone da literatura cubana, afirma que as mudanças na ilha socialista nos últimos 10 anos foram lentas, mas significativas, e que o presidente Raúl Castro "abriu espaços que na época de Fidel Castro não existiam". Entre essas tranformações, estão desde a possibilidade de viajar muito mais livremente até a possibilidade de ter um telefone celular, que antes de 2006, nenhum cubano podia ter. "A Cuba de Fidel era uma Cuba em que todas as decisões tinham um caráter político. Com Raúl chega um pouco mais de pragmatismo porque começa a se ter consciência da gravíssima situação econômica do país que continua se deteriorando", conta à AFP, depois de uma sessão de autógrafos em uma livraria de Manágua, na Nicarágua.

No ano passado, a ilha esteve em recessão e o vencedor do Prêmio Princesa das Astúrias de Letras 2015 não sabe como superar economicamente todas as necessidades que vêm se acumulando ao longo dos anos. Para o autor, a partir do restabelecimento das relações entre Cuba e Estados Unidos praticamente não aconteceu nada. "Nesse momento, muitos americanos viajam para Cuba com vistos especiais, ainda não podem viajar como turistas, (mas) o embargo continua existindo, portanto não pode haver um comércio normal e uma relação normal entre Cuba e Estados Unidos e isso realmente influenciou muito pouco na realidade cubana", explica.

Padura, conhecido internacionalmente por seus romances policiais como "Máscaras", "Paisagem de Outono","Ventos de Quaresma" e "O Rabo da Serpente", protagonizados por seu popular detetive Mario Conde, se mostra cauteloso com a eleição de Donald Trump no país vizinho e diz que é preciso esperar para maiores conclusões sobre o governo do Republicano. "Trump apenas se referiu a Cuba, fez isso muito pontualmente, mas muito superficialmente e não tomou nenhuma medida específica, nem para aprofundar as medidas tomadas por Obama, nem para derrubá-las". Nascido na capital Havana, o escritor acredita que, para fazer Cuba avançar mais rapidamente até uma abertura, "faltam mudanças econômicas mais radicais, que não sei como irão organizar porque não sou economista". A chave de tudo, de acordo com o escritor, estaria na economia.

Entretanto, esta não é sua principal preocupação no mundo atualmente. Aos 61 anos e com barba grisalha, ele se diz intrigado pela "eterna estupidez humana". "Creio que temos demonstrado ao longo de toda a história da civilização que somos uma espécie com um alto sentido de estupidez, e o desenvolvimento tecnológico, científico, humanístico não nos salvou disso e continuamos sendo uns estúpidos capazes de destruir o que temos, o belo, o necessário sem o qual não podemos viver", conta, enquanto gesticula.

Em "O Homem que Amava os Cachorros", Padura reconstruiu a história de Leon Trotsky, o que era para ele "uma grande ignorância" que acabou lhe despertando curiosadade. "Em Cuba, a política sobre Trotsky foi a mesma da ex-União Soviética, (era) como se não tivesse existido, desaparecido das fotos", explica. Em sua primeira vez ao México, foi à casa onde o revolucionário russo viveu exilado, em Coyoacán no ano de 1989. "Depois soube que (seu assassino) Ramón Mercader viveu vários anos em Cuba e morreu em Cuba, e tudo isso foi pouco a pouco se acumulando até que chegou o momento em que estive em condições de poder escrever esse livro", analisa.

Sobre seu processo de escrita em uma sociedade ainda fechada, Padura relata que escreve e se atém às consequências. "Até agora as consequências não têm sido especialmente graves nem violentas, mas sofro a consequência de ser quase invisível em Cuba". O autor não aparece nunca na televisão, não sai nos jornais. "Sou quase invisível, ganho prêmios internacionais e não são mencionados. Mas bom, é o preço que pago por escrever como escrevo, é o meu espaço de liberdade e eu o pratico", avalia.

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