Mulheres artistas no topo com a arte urbana

Mulheres artistas no topo com a arte urbana

Por meio do projeto nacional Contemporâneas Vivara, as artistas gaúchas Pati Rigon e Miti Mendonça assinam obras em espaços públicos de Porto Alegre, no Centro Histórico e bairro Bom Fim desde novembro

Letícia Pasuch

Com a temática ‘Arte, Rua e Poesia’, as produções artísticas de Mitti Mendonça e Pati Rigon (foto acima) estão localizadas no bairro Bom Fim e no Centro Histórico (foto acima), respectivamente, e são alinhavadas pela poesia da escritora Aline Bei.

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Desde novembro deste ano, é possível encontrar duas novas pinturas em espaços públicos de Porto Alegre, no Centro Histórico e no bairro Bom Fim. As artes são das profissionais Pati Rigon e Mitti Mendonça, duas gaúchas entre um grupo de 10 mulheres artistas selecionadas para participar do projeto nacional Contemporâneas Vivara, que já está na sua terceira edição com o objetivo de incentivar mulheres artistas a ocuparem espaços públicos com pinturas e poemas. Além de Porto Alegre, foram selecionadas artistas de Salvador, Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro.

“[O projeto] nasce desse desejo de ter mulheres artistas e protagonistas pintando na rua. A rua que é esse lugar é extremamente caótico das grandes cidades, um lugar masculino e muitas vezes violento para o corpo feminino. Então, colocar essas mulheres nas alturas, dar possibilidade para elas pintarem, é um ato de coragem”, diz Stefania Dzwigalska, idealizadora do projeto. A ação surgiu em 2019, mas foi executada durante a pandemia por meio da Lei Rouanet (8.313/91) de incentivo à cultura, e com patrocínio da Vivara, empresa brasileira de produção de joias.

Com a temática “Arte, Rua e Poesia”, as produções artísticas são alinhavadas pela poesia da escritora Aline Bei, autora de “O peso do pássaro morto” (Editora Nós), vencedora do prêmio São Paulo de Literatura em 2018 e finalista do Prêmio Jabuti em 2022. Em cada mural, há um verso inspirado em poéticas do feminino e em diálogo com a curadora Vivi Villanova, que esteve nas outras edições, e com a proposta de ter o sol e a lua nas obras.

O trabalho da artista visual Mitti Mendonça está na avenida Osvaldo Aranha, nº 960, no bairro Bom Fim. A partir do poema “Não esquecerá o nome de seu sonho”, a pintura se insere em um espaço de quatro décadas da boêmia gaúcha, retratando a figura feminina como uma ponte entre duas forças da natureza. “Busquei incorporar elementos relacionados à ancestralidade, proteção e cura, estabelecendo conexões com a sabedoria encontrada no conhecimento ancestral e na força das plantas", detalha. Foram três dias para a execução da arte de seis metros, com a assistência de pintura de Marília Drago.

Artista Mitti Mendonça com sua arte no mural da avenida Osvaldo Aranha. Foto: Age Productions / Divulgação / CP

Mitti escolheu a dedo o lugar onde faria sua arte. Gostaria que fosse em um bairro que tivesse uma marca importante na história negra e que fosse gentrificado, como o Bom Fim, um dos bairros em que foi localizada a Colônia Africana. “Eu tinha interesse de retomar essa história e de tomar representatividade desse bairro. Houve um apagamento e embranquecimento ao longo do tempo, então para mim era muito interessante estar no bairro e contar essa história a partir do meu trabalho”, explica. O desenho foi da figura de uma mulher negra segurando uma arruda que alastra as suas raízes.

No Centro Histórico, está a arte produzida por Pati Rigon. Ela pintou em uma empena – lado sem abertura de um prédio – de 30 metros de altura, acompanhada de uma equipe de mulheres. Por coincidência, a arte foi escolhida bem perto de onde Pati morava antes de se mudar para São Paulo, na esquina da rua Borges de Medeiros com a Fernando Machado. Enquanto a arte de Mitti foi voltada ao sol, a de Pati foi à lua. A frase escolhida para sua arte, “Encontrava, na brisa da noite, uma alegria pelo que virá”, foca no dualismo de luz e sombra, tratando do sol e da lua como um símbolos opostos, mas complementares.

Artista Pati Rigon. Foto: Age Productions / Divulgação / CP

“Eu tentei buscar essa ideia de vasculhar nossa própria sombra, nossa própria noite e encontrar essa luz dentro da gente”. Para Pati, é simbólico fazer sua arte na rua, um lugar hostil para as mulheres. Ela defende que a arte pública é também lugar de mulher: "no quesito de gênero, existe uma discrepância entre o número de homens e mulheres trabalhando com grafite. Ainda é uma área bem dominada por homens e com um olhar bem machista, de sempre tentar desmerecer um pouco o trabalho das meninas". Stefania lembra que a arte feita na rua, por estar fora de museus, torna-se democrática. “Você se depara com uma obra, um trabalho artístico, e aquilo que impacta de alguma forma e te conecta em algum lugar.”

* Com supervisão de Luiz Gonzaga Lopes


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