Museu da Memória e dos Direitos Humanos alerta necessidade de relembrar passado

Museu da Memória e dos Direitos Humanos alerta necessidade de relembrar passado

Diretor Francisco Estévez revela temor pela democracia na América Latina

Tiago Medina

Diretor aponta para necessidade de que não se esqueça do passado sob pena de reviver problemas como ditadura chilena

publicidade

Responsável por manter a lembrança de um período extremamente doloroso na vida de mais de 40 mil chilenos, Francisco Estévez revela um temor pela democracia na América Latina. Ele é o diretor do Museu da Memória e dos Direitos Humanos, em Santiago.

O local, aberto em 2011, é onde a história de vítimas e familiares da ditadura do país (1973-1990) é remontada. Pela convivência com esse passado não tão distante e com o desenrolar da política atual no continente, Estévez alerta: “Na América Latina estamos vivendo um ressurgimento de posições muito negacionistas, que pretendem revisar e justificar o que aconteceu na ditadura”.

Recentemente, o museu – visitado por cerca de 150 mil pessoas em 2017 – lançou uma campanha na Internet, onde não raro sofre ataques via redes sociais. Era uma convite à reflexão, com a hashtag: #quepasasiolvido (o que acontece se esqueço). “Temos muita gente que nos ataca, mas a satisfação que outros defendem a oportunidade de ter um lugar que recorda o que nunca mais deve acontecer em um país: a violência exercida do Estado com a destruição da democracia”.

Para ele, é necessário lembrar do período ditatorial para não esquecer e incorrer nos mesmos erros, preservando, assim, a democracia. E democracia, na opinião dele, é “uma construção social, política e cultural”. Logo, é algo que corre riscos: “A democracia é uma responsabilidade comum, coletiva e cidadã. E quando isso se abandona, a democracia fica em um estado de fragilidade”, definiu. “Efetivamente se requer um compromisso permanente de educação e um envolvimento de atores sociais, jovens e a política.” 

Uma das missões para a qual o museu se volta, ressalta Estévez, é a conscientização dos mais jovens. Ele cita uma estudo em que 57% dos jovens chilenos do oitavo ano da educação básica dizem que aceitariam viver em uma ditadura desde que isso lhes garantisse ordem e segurança. “É importante educar em uma nova cultura de respeito, de bom trato, da ética dos direitos humanos, recordando o que aconteceu, mas ajudando as pessoas a refletir sobre o que está acontecendo agora com esses temas, com nossos indígenas, com os temas de gênero, da migração, entre outros”, afirmou.

O conceito do que é a memória relatada no museu é questionado por parte da sociedade chilena, tanto a que nega que tenha havido uma ditadura, quanto os que cobram um contexto histórico: “Neste caso, não negam as atrocidades da ditadura e ainda menos a necessidade de um lugar de memória, mas igualam a retórica revolucionária do governo de Allende (presidente deposto) com a violência efetiva do golpe”, explicou. “Nesta lógica casualista, a resposta repressiva da ditadura se explicaria pelo medo do 'comunismo' e a ameaça de um processo revolucionário como a Cuba de Fidel Castro.”

Apesar de polêmicas, o museu tem boa aceitação, segundo o diretor. “Hoje em dia, a interpretação histórica favorece majoritariamente aqueles que sofreram as atrocidades da ditadura”, conclui. O número de visitas cresceu nos últimos anos – de 2016 para 2017 houve um incremento de 18% nas visitas. Do total, cerca de 40% é de estrangeiros, com um público crescente que chamou a atenção: “Houve um aumento significativo de venezuelanos durante os últimos três anos”.

Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta sexta-feira, dia 26 de abril de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895