Museu da Memória e dos Direitos Humanos alerta necessidade de relembrar passado
Diretor Francisco Estévez revela temor pela democracia na América Latina
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O local, aberto em 2011, é onde a história de vítimas e familiares da ditadura do país (1973-1990) é remontada. Pela convivência com esse passado não tão distante e com o desenrolar da política atual no continente, Estévez alerta: “Na América Latina estamos vivendo um ressurgimento de posições muito negacionistas, que pretendem revisar e justificar o que aconteceu na ditadura”.
Recentemente, o museu – visitado por cerca de 150 mil pessoas em 2017 – lançou uma campanha na Internet, onde não raro sofre ataques via redes sociais. Era uma convite à reflexão, com a hashtag: #quepasasiolvido (o que acontece se esqueço). “Temos muita gente que nos ataca, mas a satisfação que outros defendem a oportunidade de ter um lugar que recorda o que nunca mais deve acontecer em um país: a violência exercida do Estado com a destruição da democracia”.
Para ele, é necessário lembrar do período ditatorial para não esquecer e incorrer nos mesmos erros, preservando, assim, a democracia. E democracia, na opinião dele, é “uma construção social, política e cultural”. Logo, é algo que corre riscos: “A democracia é uma responsabilidade comum, coletiva e cidadã. E quando isso se abandona, a democracia fica em um estado de fragilidade”, definiu. “Efetivamente se requer um compromisso permanente de educação e um envolvimento de atores sociais, jovens e a política.”
Uma das missões para a qual o museu se volta, ressalta Estévez, é a conscientização dos mais jovens. Ele cita uma estudo em que 57% dos jovens chilenos do oitavo ano da educação básica dizem que aceitariam viver em uma ditadura desde que isso lhes garantisse ordem e segurança. “É importante educar em uma nova cultura de respeito, de bom trato, da ética dos direitos humanos, recordando o que aconteceu, mas ajudando as pessoas a refletir sobre o que está acontecendo agora com esses temas, com nossos indígenas, com os temas de gênero, da migração, entre outros”, afirmou.
O conceito do que é a memória relatada no museu é questionado por parte da sociedade chilena, tanto a que nega que tenha havido uma ditadura, quanto os que cobram um contexto histórico: “Neste caso, não negam as atrocidades da ditadura e ainda menos a necessidade de um lugar de memória, mas igualam a retórica revolucionária do governo de Allende (presidente deposto) com a violência efetiva do golpe”, explicou. “Nesta lógica casualista, a resposta repressiva da ditadura se explicaria pelo medo do 'comunismo' e a ameaça de um processo revolucionário como a Cuba de Fidel Castro.”
Apesar de polêmicas, o museu tem boa aceitação, segundo o diretor. “Hoje em dia, a interpretação histórica favorece majoritariamente aqueles que sofreram as atrocidades da ditadura”, conclui. O número de visitas cresceu nos últimos anos – de 2016 para 2017 houve um incremento de 18% nas visitas. Do total, cerca de 40% é de estrangeiros, com um público crescente que chamou a atenção: “Houve um aumento significativo de venezuelanos durante os últimos três anos”.