"O Hobbit", obra que apresentou a Terra-Média à literatura, completa 80 anos

"O Hobbit", obra que apresentou a Terra-Média à literatura, completa 80 anos

Clássico de J.R.R. Tolkien demorou quatro anos para ser escrito e foi lançado em 1937

Correio do Povo

Livro foi editado pela George Allen & Unwin

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Há oitenta anos, quando o fascismo ganhava forças na Europa e o mundo se aproximava da guerra mais devastadora da história, nascia um novo herói, num universo diferente. Ele tinha meio século de vida, orelhas ligeiramente pontudas e pés tão peludos que precisavam ser escovados. O nome dele era Bilbo Bolseiro e ele pertencia a uma raça de criaturas ainda desconhecida pela humanidade. “Numa toca no chão vivia um hobbit”. É com esta frase que J.R.R. Tolkien inicia seu livro "O Hobbit", publicado em 1937, que apresenta aos leitores o continente da Terra-Média e serve como prequel para "O Senhor dos Aneis", uma das mais prolíficas sagas já escritas.

Tolkien era professor na Universidade de Oxford, na Inglaterra, fascinado por línguas inventadas, mitos nórdicos e lendas épicas de dragões, anões e guerreiros espadachins como o príncipe anglo saxão Beowulf. Em 1928, durante uma sessão de correção de provas de seus alunos, ele anotou as sete palavras que iniciariam seu mundo mágico, num romance de fantasia sobre as aventuras de Bilbo com um mago chamado Gandalf e um grupo de anões para recuperar seu ouro, roubado e mantido guardado pelo dragão Smaug. A história foi completada em 1932 e é aclamada como um dos melhores e mais amados clássicos da literatura infantil inglesa.

A finalização da obra, contudo, ocorreu somente após o autor entregar o rascunho para alguns dos seus colegas eminentes no ramo para correção e crítica. Um dos escolhidos foi ninguém menos que C.S. Lewis, cujas próprias "Crônicas de Narnia" (1950-56) também lançariam seus protagonistas inocentes em uma luta entre as forças do bem e do mal em um reino mágico e compartilhavam os sentimentos cristãos profundamente sentidos por Tolkien. Os homens eram amigos íntimos e colegas do exclusivo clube Inklings, um grupo conhecido por se encontrar no pub "Eagle and Child" em St.Giles todas as terças-feiras durante o período para discutir questões literárias.

Tolkien também apresentou uma cópia de seu manuscrito para um de seus alunos, Elaine Griffiths, que por sua vez mostrou a Susan Dagnall, uma amiga que trabalhava para a editora George Allen & Unwin. Os chefes, num primeiro momento, não ficaram muito impressionados com a história, mas Stanley Unwin decidiu imprimir 1.500 cópias do romance em 21 de setembro de 1937, após críticas favoráveis de seu filho, Rayner, de apenas 10 anos, que era encubido de avaliar qualquer ficção infantil que a editora fosse publicar. "Este livro, com a ajuda de mapas, não precisa de nenhuma ilustração. Ele é bom e deveria chamar a atenção de todas as crianças com idade entre 5 e 9 anos", avaliou o menino. Desde então, "O Hobbit" nunca deixou de ser reeditado.

A ideia central de Tolkien do icônico e famos precioso anel de ouro parece resultar de uma anedota com a qual ele foi regalado durante uma visita a uma escavação arqueológica em Gloucestershire em 1929 sobre a descoberta de tal relíquia em 1785 em um campo, uma vez que estava em local que era um antigo Templo romano. Os nomes dos personagens e dos lugares mencionados no livro são derivados das tradições linguísticas islandesas e ecoam em sagas norueguesas antigas, como a "Edda Poética". O dragão Smaug foi comparado com o da lenda de Beowulf, um texto que Tolkien lecionou durante seu mandato no Pembroke College, enquanto as hordas anãs do romance foram comparadas às descritas pelos Irmãos Grimm .

Com sua obra, o escritor, que morreu em 1973, tornou-se uma espécie de herói de contracultura na década de 60. Black Sabbath, Genesis e Rush escreveram canções pagando tributo ao mundo dos hobbits. Na ruas de Londres, o trabalho resultou em camisas com os slogans como "Frodo Lives!", "Gandalf for President!". Alguns acreditavam que os hobbits eram análogos a "pessoas pequenas", tentando se revoltar contra o complexo industrial militar. Outros insistiram que a paixão pelo tabagismo nos livros era para um tipo de apologia ao fumo.

Em menos de 400 páginas, Tolkien apresenta uma aventura ágil, repleta de suspense e com o tradicional e ácido humor britânico. Há aqueles que critiquem o cenário cheio de canções folclóricas e poemas, o classificando como uma "literatura infantilizada". Trata-se, realmente de uma publicação diferente da exploração da guerra, da morte e da corrupção na Terra Média, relatadas nas obras-primas que compôem a trilogia "O Senhor dos Anéis" . Foi justamente inspirado no sucesso de "O Hobbit" que o escritor acabou desenvolvendo a continuação da história. Ainda que o livro que iniciou tudo nunca tenha tido sua popularidade esvairada, ela aumentou nos últimos anos graças a uma série de filmes: "Uma Jornada Inesperada" (2012), "A Desolação de Smaug" (2013) e "A Batalha dos Cinco Exércitos" (2014), com Martin Freeman, Ian McKellen e Richard Armitage no elenco.

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