O som da gaita chega longe

O som da gaita chega longe

O multi-instrumentista Tales Melati tem seu trabalho registrado em curta-metragem de Juan Quintáns

Adriana Androvandi

Tales Melati toca gaita de foles e é pesquisador de instrumentos antigos

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O multi-instrumentista Tales Melati, de Dom Pedrito e radicado em Porto Alegre, tem chamado a atenção na cena artística do Estado como tocador de gaita de foles e pesquisador de instrumentos antigos. Sua especialidade são instrumentos de sopro, que incluem ainda saxofone e flauta. 

Ele passou a integrar, desde 2019, o elenco do espetáculo “Sbórnia Kontr’Atracka”, que terá temporada de inverno de 27 a 30 de julho no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. No espetáculo, ele interpreta o personagem MenThales, o tocador de gaita de foles e hipnotizador da Kashkadúnia, região montanhosa da Sbórnia. Desta forma, o artista agora faz parte da saga sborniana, que tem Hique Gomez (Kraunus) e Simone Rasslan (Nabiha) à frente do espetáculo, ao lado de Cláudio Levitan (professor Ubaldo Kanflutz) e Gabriella Castro (Pierrot Lunaire).

Além deste trabalho, o músico participa de grupos como Balaio de Palha e Avalon, entre outros projetos. Seu contato com a gaita começou a partir de um grupo folclórico, quando se interessou por música celta.

A potência do instrumento é surpreendente. “O som da gaita chega longe”, comenta. Melati conta que ela já foi usada até como estratégia de guerra. Em antigos conflitos entre Escócia e Inglaterra, tocadores de gaita escocesa iam à frente dos soldados e intimidavam os inimigos, porque mesmo sendo poucos, como três ou quatro, davam a impressão de estar em grande número pela altura e intensidade da música audível à longa distância.

Existem diferentes formatos de gaitas de foles, que integram culturas de países como Escócia, Portugal e Espanha. A gaita que Melati toca é a da Galícia, região no noroeste da Espanha que tem Santiago de Compostela como capital. Seu instrumento atual foi feito por uma luthier de lá, Patrícia Cella. O músico esteve na Espanha, onde teve aulas com professores do instrumento.

Em Porto Alegre, os ensaios estavam criando problema com os vizinhos. “Decidi ensaiar no parque da Redenção”, conta. 

Em um dos dias em que estava lá, o cineasta Juan Quintáns, espanhol que está morando em Porto Alegre, estava passeando quando ouviu a música. “Reconheci o som imediatamente, pois sou da Galícia. A música da gaita de foles é ancestral para nós. Fui caminhando até encontrar quem estava tocando”, conta. Quintans foi seguindo a música como se estivesse atrás do “flautista de Hamelin”. E foi assim que Melati e Quintans se conheceram. 

CINEASTA

Especializado em engenharia de som, na Espanha o cineasta trabalhou na equipe do filme "A Pele que Habito", de Pedro Almodóvar (2011). No Brasil, Quintans atua como desenhista e diretor de som em filmes e séries. Trabalhou no documentário "Democracia em Vertigem", de Petra Costa, que foi indicado ao Oscar (2020). Alguns de seus trabalhos foram finalistas e ganharam prêmios em festivais internacionais de cinema, destacando-se os documentários "No Amor" (2017) e "Arte Flamenca pasión Brasileira" (2016). Além disso, ele também é professor da área.

Na época da pandemia, surgiu a ideia de fazer um filme sobre Tales Melati e seu instrumento. Desta forma nasceu o curta-metragem “O Gaiteiro que Desceu da Caravela” (2021), que recebeu prêmios em festivais pelos quais passou, entre eles Melhor Direção no Festival Internacional de Cinema da Fronteira, em Bagé (RS), Melhor Roteiro do Festival de Santos (SP) e Melhor Trilha Sonora e Melhor Trilha no Offcine (MG).

“A música muda o estado mental das pessoas, não é só entretenimento. Com o som da gaita de foles, algumas pessoas se emocionam, outras choram, é como se fosse uma cura”, diz Melati no documentário. Atualmente o curta-metragem pode ser visto na plataforma Sulflix. 

Além de mostrar o cotidiano de Melati, como shows realizados no Centro Espanhol de Porto Alegre e em outros locais, o filme propõe uma tese. Citando Pero Vaz de Caminha, um relato diz que um músico desceu de uma caravela e, com um bote, chegou à praia para tocar gaita para os nativos. E a gaita de foles, também presente em Portugal, dá margem a pesquisar um elo perdido da música galega com o Brasil. 

 

Cineasta Juan Quintáns ao lado de Tales Melati em visita ao Correio do Povo. Crédito: Adriana Androvandi / Especial

 


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