"O texto acabou sendo a minha própria terapia", diz autora e diretora de "Terapia de Casal"

"O texto acabou sendo a minha própria terapia", diz autora e diretora de "Terapia de Casal"

Espetáculo concebido por Juliana Barros, com direção dela e de Fernando Ochôa, entra na grade do Porto Verão Alegre de sexta a domingo, no Teatro do Ciee

Luiz Gonzaga Lopes

João Petrillo e Letícia Kleemann são os protagonistas do espetáculo "Terapia de Casal - uma Comédia em Crise"

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Depois de uma temporada de sucesso em 2022, a peça "Terapia de Casal - uma Comédia em Crise", escrita por Juliana Barros chega ao Porto Verão Alegre em sua 24ª edição. O espetáculo estreou já com um norte bem definido: qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência! O texto de Juliana Barros, com direção dela e de Fernando Ochôa, traz para a cena a história de Alice e Marcos (Leticia Kleemann e João Petrillo), um jovem casal que se conhece no início dos anos 1990 e que depois de uma década de relacionamento – com alguns conflitos, crises e muitas risadas - se vê diante de um terapeuta numa sessão de terapia de casal. Durante aproximadamente uma hora, os dois revivem e compartilham com o público a dor e a delícia de um casamento. O espetáculo estreou no ano passado com sessões lotadas e o carinho da plateia. De 27 a 29 de janeiro, de sexta a domingo, às 21h, no Teatro do Ciee (Dom Pedro, 861) e no dia 11 de fevereiro no Teatro do Sesc Canoas (Guilherme Schell, 5340), serão as apresentações no festival multicultural. A linha do tempo de Alice e Marcos vai sendo desvendada por meio da terapia dos protagonistas, com situações divertidas, mas repletas do mundo real, onde os medos, as inseguranças, as crises, os choros e os gozos fazem parte do cardápio. O público na plateia faz as vezes do terapeuta que, se esforça para dar um sentido e estabilidade para o casal em questão. A trilha sonora orginal é de Fábio Marrone. Ingressos para o espetáculo podem ser obtidos pelo site www.portoveraoalegre.com.br. O Correio do Povo conversou com Juliana Barros sobre a criação do texto, a identificação da plateia e o sucesso do espetáculo. 

 

Correio do Povo - Quem já frequentou uma sessão de terapia para casais (como é o meu caso) sabe que o mais importante é ouvir, aprender sobre si mesmo e sobre o outro. Com que intuito, criaste este texto e esta montagem?
Juliana Barros -
Acho que quando iniciei a escrita deste texto, ele acabou sendo um pouco a minha própria terapia. Foi a minha forma de falar e ouvir, de expressar o que eu sentia sobre afeto, amor, parceria, competição, casamento, sonhos, projeções... e mais um tantão de coisas que fazem parte desse pacote chamado “relacionamento a dois”. Na época eu ainda não tinha feito terapia de casal, embora fizesse terapia desde sempre, e este gancho, ou “ambiente” terapêutico, me pareceu um bom lugar pra colocar o meu casal “fictício” pra contar um pouco das minhas histórias e, quem sabe, reviver algumas delas. O teatro pra mim sempre significou transformação, a possibilidade de me transformar e de transformar através do teatro. Nesse sentido, a opção pelo tema “terapia” vai ao encontro dessa busca. Pois, pelo menos pra mim, fazer terapia, tanto individual como de casal, foi transformador.
 
CP -  Mesmo na terceira década do século XXI, alguns ainda resistem a serem analisados, a passarem por uma sessão de terapia, como se não quisesse ir ao âmago da questão. A peça em algum sentido desmistifica este medo ou esta espécie de ignorância e/ou resistência?
Juliana -
Acho que o nosso espetáculo cumpre um papel importantíssimo nesse sentido.  Já tivemos muitos relatos de vários casais (ou de pessoas “solo”) que foram fazer terapia depois que nos assistiram. Acho isso completamente sensacional! É o tal sentido transformador do teatro que eu tanto busco. Porque nós trabalhamos essencialmente com a “identificação” do público. Tanto que o riso só acontece, pq há identificação. A partir do momento que colocamos esse casal (que tem os mesmos problemas que nós, as mesmas crises, as mesmas dificuldades de comunicação, os mesmos “ranços”...) numa sessão de terapia juntos, já estamos contribuindo para essa desmistificação. A própria resistência à terapia também aparece em cena, pq isso faz parte do processo. No final feliz do nosso espetáculo não existe “foram felizes para sempre”, existe a conquista dos dois naquele momento, naquele processo, na possibilidade deles construírem juntos, em parceria, uma relação mais saudável. 
 
CP - Queria que você falasse da escolha dos atores, da leitura de mesa, dos laboratórios, dos ensaios, de onde saiu e em que ponto está a peça, dramatúrgica e cenicamente falando.
Juliana -
Quando escrevi esse texto eu imaginava que eu seria a atriz, a Alice. Cheguei a “ensaiar” algumas tentativas de montagem, mas que acabaram não acontecendo. Os anos passaram e eu comecei a achar que talvez não fizesse mais sentido eu ser a Alice. Afinal, vários anos passaram (risos), e a personagem não deveria ser, digamos assim, tão “madura”. Deixei o texto na gaveta!  A Leticia Kleemann, que é minha colega de cena no TOC (e também atriz de um outro projeto infantil meu) um belo dia no camarim me perguntou: “Jú, será que tu não tens assim nada escrito pra gente fazer?”. Eu falei sobre o texto e dei pra ela ler, confesso que totalmente sem expectativas (originalmente o texto se chamava “Que nem Andar de Bicicleta”). A Leticia amou o texto e disse: “Vamos fazer, temos que fazer, tu diriges!!!!” Decidimos tocar em frente. Chegamos ao nome do João Petrillo por afinidade, “querideza”, ele e a Letícia eram muito amigos. E daí começamos a ensaiar, despacito! A ideia era irmos trabalhando aos poucos e estrearmos o espetáculo no final do ano de 2022. Contudo, nos ofereceram algumas datas em setembro, no Teatro Renascença, e daí topamos o desafio. Montamos o espetáculo com ensaios diários durante 2 meses e meio, mais ou menos. No início do processo eles, os atores, me odiaram – porque foi muito puxado e exigi muito deles. No último mês foi tudo lindo! Estávamos com o espetáculo “na nossa mão” e tínhamos um mês para deixa-lo lindo, colorido, brilhante! O texto mexeu bastante com os dois atores, ambos trouxeram muito das suas próprias vivências para construirmos as personagens e as cenas. Eu sou muito feliz com o espetáculo e com eles, acho que eles, Letícia e João, arrebentam em cena. Sou completamente apaixonada pelos meus atores. Eles têm que me aguentar, pq ainda (e acho que pra sempre) fico inventando alguma coisa, mudando, acrescentando, tirando. Sou inquieta!

CP - Como todo dramaturgo, há algo que desencadeia a ideia do texto. Contigo se passou algo que fez com que tu achasse necessário um texto sobre terapia de casal.
Juliana -
Olha, eu adoro histórias, pessoas, vida! Quando fiz o Bailei na Curva como atriz, la na década de noventa, fiquei encantada em como a história daquelas pessoas, com tantas particularidades, acontecia no palco. Como era lindo sentir aquela plateia imensa rindo, se emocionando. Acho que ali eu meio decidi o que e como eu gostaria de me expressar no teatro. Gosto de falar de pessoas de verdade, de vida, da vida como ela é. Gosto de sentir de verdade, com intensidade... de rir muuuuuito, de chorar muuuuuuuito! Acho que foi essa necessidade que me “desencadeou”.  O material acabou sendo a minha própria vida. Embora eu não tenha vivido nenhuma das cenas do "Terapia de Casal" como elas são, de alguma forma, vivi todas elas, ou roubei de outras pessoas, misturei tudo e inventei um tantinho mais!

CP - Queria saber sobre como está até então a receptividade do público. Qual o retorno deles acerca do texto, a respeito do que a montagem provoca desde o minuto final, aplausos, até chegar na terra firme fora do teatro?
Juliana -
A receptividade do público tem sido fantástica! Todos os espetáculos que fizemos foram incríveis e com uma plateia que esteve junto conosco em cada cena. Que suspirou num “uníssono” diante de uma pisada na bola, que torceu por final feliz, que gargalhou com uma TPM descompensada.  Como dessa vez não estou no palco, fico atenta o tempo todo à plateia, que é um espetáculo à parte. Estamos muito felizes, pois certamente chegamos a um resultado que vai além do que esperávamos.  


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