Obra vencedora Prêmio Kindle de Literatura ganha edição física pelo Grupo Editorial Record

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Abordando maternidade, violência contra a mulher e racismo, a escritora cearense Vanessa Passos lança “A filha primitiva” na livraria Taverna, neste sábado, às 16h, em Porto Alegre

Correio do Povo

A cearense Vanessa Passos, que já publicou um volume de contos, reflete em seu primeiro romance sobre a ideia romantizada da maternidade

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Livro vencedor da 6ª edição do Prêmio Kindle de Literatura, concorrendo com mais de 2.400 obras, “A filha primitiva” (Ed. José Olympio | Grupo Editorial Record, 176 pág.) é uma história sobre amor e raiva, futuro e ancestralidade, violência e perdão. A cearense Vanessa Passos (@pinturadaspalavras), que já publicou um volume de contos, reflete em seu primeiro romance sobre a ideia romantizada da maternidade, mas também fala em violência contra a mulher e racismo. O livro curto, com uma linguagem crua, concisa e impactante, tem como protagonista uma mulher que não consegue acessar seu passado. 

A edição que chega agora às livrarias pela José Olympio conta com texto de orelha de Giovana Madalosso, finalista do Prêmio Biblioteca Nacional e do Prêmio São Paulo de Literatura, e posfácio de Natalia Timerman, finalista do Prêmio Jabuti. Em Porto Alegre, onde atualmente reside, a autora lança a obra neste sábado, dia 20, às 16h, na Livraria Taverna (Rua dos Andradas, 736, Centro Histórico), com mediação da escritora Irka Barrios.

“O silêncio na história das mulheres só fomenta a violência”

Ambientada em Fortaleza, A filha primitiva traz uma linhagem de mulheres sem nome unidas pelo destino, mas separadas pela dor, pelo abandono, pela fé e pelo ceticismo. Segredam entre si quem são — a avó, mulher negra, esconde de sua filha quem seria seu pai; a filha, branca, luta para sobreviver, escrever e rejeita a maternidade que lhe foi imposta; a neta recebe a raiva da mãe e já nasce sentindo a dor de ser mulher.

“O silêncio foi uma palavra-chave para a investigação do livro. Perceber que o silêncio na história das mulheres só fomenta a violência”, explica a autora. No contexto da maternidade, que é um dos temas centrais do livro, muitas mães pensam que o silêncio protege seus filhos, quando na verdade é o contrário. “O silêncio também fala sobre apagamento, racismo, ancestralidade, temas presentes no livro. A partir dessa investigação, comecei a criar as três personagens centrais do livro – avó, mãe e filha, personagens que não são nomeadas do romance”, aponta Vanessa. “Essa falta de nomes também foi uma decisão estilística para trabalhar as camadas no texto dessa violência que está presente tanto na temática e enredo quanto na linguagem do romance”, explica.

O livro é uma ficção imersa na crueza da linguagem e calcada no real que transforma a história em grande literatura. “De um modo geral, escrevo de modo simples. Uma linguagem que consegue alcançar um maior número de leitores – e isso sempre foi uma preocupação minha – mas que, justamente pela simplicidade e concisão, consegue impactar o leitor em muitos aspectos. Também gosto de trabalhar com a oralidade.”

Sobre ler e escrever sobre mulheres

As principais referências de Vanessa Passos são autoras. Ela começou com Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Virginia Woolf, Sylvia Plath e Lygia Fagundes Telles e hoje está sempre com um livro escrito por mulheres em mãos. “Leio muita literatura contemporânea. Inclusive, tive a honra de muitas dessas autoras que influenciam minha literatura contribuírem para a obra lendo e escrevendo sobre ‘A filha primitiva’, como Giovana Madalosso, Natalia Timerman, Carola Saavedra, Andrea Del Fuego, Nara Vidal e Marcela Dantés”, referencia.“Com armas sonolentas”, de Carola Saavedra, e “Uma duas”, de Eliane Brum, aliás, foram obras que influenciaram diretamente seu romance. Por essa razão, decidiu fundar o Clube de Leitura Autoras Vivas.

Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Vanessa Passos atualmente cursa pós-doutorado em Escrita Criativa na PUCRS, sob orientação do Luiz Antonio de Assis Brasil. Autora de “A mulher mais amada do mundo” (Luazul, 2020), seus contos já venceram diversos concursos literários e foram selecionados para participar de antologias. É idealizadora do Programa Formação de Escritores e do Curso 321escreva, além de produzir eventos literários. Pintura das Palavras, sua rede social de promoção de escrita criativa, alcança milhares de pessoas, desde profissionais até aspirantes a escritores. 

A escritora já trabalha em um próximo romance, que também é atravessado por atritos com a figura materna. Segundo Vanessa, trata-se de uma obra sobre loucura e sanidade, abordando também abandono, aceitação, redenção, superação e liberdade. “A personagem central é uma jovem introspectiva e paranoica que, atormentada por suas crises psicológicas, tem medo de enlouquecer e ficar como sua tia considerada louca”, revela. “Numa relação conflituosa com a mãe, busca entender o que acontece com o próprio corpo e como ele reage a estar no mundo e às pequenas tragédias cotidianas.”

Quando inicia a escrita de um romance, depois de planejar a estrutura da história (começo, meio e fim), Vanessa Passos é metódica: escreve um capítulo por dia até o término da primeira versão. “Gosto de como Rainer Maria Rilke disse em ‘Cartas a um jovem poeta’, sobre a importância de manter um relacionamento amoroso com o que escreve. É o que faço com minha história e meus personagens, manter uma convivência. Caso contrário eles me escapam, se distanciam.” Ela define seu processo de escrita como “obsessivo”. “Acordo e durmo pensando no projeto de escrita e escrevo mesmo quando não estou escrevendo. O livro vai sendo maturado e vai ruminando dentro de mim.”

 Confira um trecho de “A filha primitiva”, de Vanessa Passos

“Minha professora na quarta série pediu que cada um construísse sua árvore genealógica em cartolina, valendo nota. Não fiz e respondi à professora. Fui parar na diretoria.

Como que eu ia fazer? Enchendo de espaços em branco? Deixando lacunas para o que eu não conhecia? Acima de mim, ramos vazios? Nem foto minha mãe tinha. Achei melhor levar carão do que passar vergonha.”


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