Olhar poético sobre o cinema

Olhar poético sobre o cinema

O documentário ‘Caminhos para Redenção’ fala da importância da Sala Redenção na vida da diretora Paula Solaris

Adriana Androvandi

A Sala Redenção da Ufrgs se tornou tema de um filme, que está disponível no YouTube

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O documentário “Caminhos para Redenção” foi realizado durante o primeiro semestre de 2021 em Porto Alegre. Idealizado e dirigido por Paula Solaris, o filme apresenta a relação da cineasta com a Sala Redenção - Cinema Universitário, localizada no Campus Central da Ufrgs. Estreou em 9 de setembro no canal do grupo criativo Manifestantes do YouTube.
A pandemia fechou os cinemas em 2020. A Sala Redenção seguiu o mesmo caminho. Paula, que é formada em Jornalismo, concluiu que, para ela, a sala não era apenas um cinema, mas um lugar de formação, por apresentar filmes clássicos, ciclos temáticos e promover debates com entrada gratuita. “Percebi que aquele sentimento que eu tinha em relação à sala não era só meu”, contou. 
A primeira vez que Paula foi à Sala foi em 2013. A partir de 2015, ela começou a ir diariamente. Um documentário dirigido por Wim Wenders foi definitivo para que ela definisse que queria seguir o caminho da arte, partindo para experiências no teatro e no cinema. 
Em um primeiro momento, ela pensou em fazer um curta-metragem sobre sua experiência com a Sala Redenção, mas percebeu que 15 ou 20 minutos não seriam suficientes para mostrar tudo o que gostaria. Nasceu o projeto do longa-metragem, que foi selecionado pelo edital da Lei Aldir Blanc e administrado pela Fundação Marcopolo. O filme se tornou realidade. A diretora explica que seu objetivo nunca foi o de fazer um documentário cronológico, mas trazer o seu olhar sobre o espaço. O resultado é um ensaio poético. Em cena, estão as suas memórias e as reflexões feitas após as sessões, quando ela caminhava pelo parque da Redenção. E este é um dos pontos altos do filme: resgatar o poder transformador do cinema para aqueles que se dispõem a aprender com os grandes mestres da sétima arte. "Desde o início do projeto, o foco da produção foi trazer para a narrativa fílmica memórias vivas e inseparáveis com a Sala Redenção, fugindo dos habituais documentários voltados para a historicidade – que são quase sempre carregados de falas institucionais engessadas", conta Paula.
Além da própria experiência, a produção lançou uma chamada em redes sociais para ouvir os relatos de outros frequentadores. A partir daí, foram feitas entrevistas com alguns deles. É o caso de Rose Milene. Ela contou que descobriu nas sessões diárias um refúgio onde, através dos filmes, ganhou forças para se reconectar com o mundo após uma depressão. O filme também conversa com alguns dos profissionais que tornaram este espaço uma referência cinéfila. Entre eles, Tânia Cardoso de Cardoso, que foi curadora durante o período em que Paula começou a frequentá-lo. “A Tânia foi fundamental na construção da sala que eu conheci, de livre acesso, um lugar onde pudéssemos nos sentir acolhidos”, conta Paula. A programação contava com filmes formadores que resgatavam a memória do cinema, além de festivais em parcerias com outra instituições. Tânia assumiu a coordenação da Sala Redenção em 2009 e ficou por dez anos trabalhando no espaço. “Uma das minhas inspirações foi a programação do cinema Bristol, uma referência em Porto Alegre”, conta Tânia sobre o seu trabalho à frente da Sala.
O plano inicial do grupo era que o filme ficasse disponível até o final de setembro na Internet. Após mais de 20 dias de lançamento, Paula comenta que a recepção do filme está surpreendendo, inclusive com espectadores de outros países. E a exibição foi postergada até o final de outubro no canal. O título também participa do “Festival First-Time Filmmaker Online Sessions”, organizado pela Lift-Off Global Network Pinewood Studios, que é uma mostra on-line para novos realizadores do mundo todo. “O filme é sobre minha relação com a Sala Redenção, mas acredito que todas as pessoas que sentem o cinema atravessando suas vidas de várias formas se identificam”, comenta Paula. 
O filme traz, ao lado de sua simplicidade, uma série de questões profundas para reflexão. Entre elas, o acesso à cultura no país e o cinema como instrumento de conhecimento e não apenas de entretenimento. 
O administrador do espaço, Edgar Heldwein, conta que a sala fechou desde o início da pandemia, em março de 2020, e atualmente funciona com o projeto Tela Virtual. Também entrevistado no filme, ele considera que a obra é um recorte temporal da trajetória da sala. “O cinema foi criado em 1987 e faz parte da pró-reitoria de Extensão, que tem a incumbência de trazer o público externo para dentro da universidade”, diz. O retorno presencial deve ocorrer só no ano que vem, quando a Sala vai completar 35 anos.


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