Os 90 anos de Ariano Suassuna

Os 90 anos de Ariano Suassuna

Autor paraíbano, radicado em Pernambuco, deixou extenso legado para a literatura brasileira

Correio do Povo

Suassuna morreu há três anos, em Recife

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* Por Roberta Fernandes Fajer, Mestre em Memória Social e Bens Culturais pela Universidade La Salle, com a dissertação “Narrativas de Memória e Cultura em Ariano Suassuna”

Quando ele nasceu no Palácio do Governo da Paraíba, onde seu pai era o então “presidente da Paraíba do Norte”, não se imaginaria aonde aquele menino iria chegar... Por influência dos cantadores do sertão da Paraíba, fez seus primeiros versos aos oito anos de idade na feira de Taperoá, para onde se mudou depois da morte do pai. E seu primeiro conto foi escrito quando tinha apenas 11 anos. Estas curiosidades pouco conhecidas me foram contadas por minha tia-avó Beta Suassuna Fernandes, sua irmã. Aos 18 anos teve um poema seu publicado pela primeira vez, e já aos 28 foi consagrado como um dos maiores dramaturgos brasileiros, com a publicação do “Auto da Compadecida”.

Nessa primeira fase de sua trajetória de escritor muita coisa lhe aconteceu. E uma delas mereceu destaque: o casamento com Zélia, a quem ele descrevia como o verde que entrou em sua vida. O antes amargurado Ariano, que só conseguia enxergar o lado cinza e espinhento do sertão, conheceu com esse amor a suavidade que se refletiu em sua obra.Ele se considerava um poeta, antes de qualquer coisa. Mas, para seguir fazendo o que gostava, além de diversificar sua escrita precisava de outra profissão que o permitisse manter a família que queria constituir.

Foi então que passou a lecionar na Universidade Federal de Pernambuco. Com isso, ele poderia escrever apenas o que quisesse, sem se preocupar em ter que atender a exigências de editoras. E se descobriu um professor que não só sabia ensinar como conseguia encantar os alunos. Foi assim em suas salas de aula e nas aulas-espetáculo com que circulou pelo Brasil, defendendo a nossa cultura e esclarecendo as pessoas sobre a cultura de massa, que ele desprezava.

Grande estudioso da cultura, desde muito cedo Ariano tomou para si uma missão que, segundo ele, ninguém lhe havia dado, mas que ele entendia como sua: defender a cultura brasileira. Foi a partir daí que ele desenvolveu um movimento que pretendia criar uma arte erudita brasileira com base no popular: o Movimento Armorial, que foi lançado oficialmente em 1970. E que atraiu vários outros artistas que compartilhavam das mesmas ideias, como Francisco Brennand, Gilvan Samico e Antônio Madureira. Esse Movimento também teve a preocupação de atrair novas gerações de artistas para levá-lo adiante, e permanece vivo até hoje.

A preocupação em defender a cultura brasileira fez com que o escritor fosse visto como xenófobo e radical. Travava uma luta ferrenha com a cultura de massa, a que ele tinha verdadeira aversão. Ele dizia que a massificação estabelecia o gosto médio, que nivelava por baixo, e que poderia descaracterizar, ou mesmo vulgarizar, a cultura nacional. E foi por essas razões que ele recusou, por tanto tempo, que suas obras fossem adaptadas para os meios de comunicação de massa. No seu entendimento, a poética armorial que existia em seu trabalho não seria ali respeitada. Com o tempo encontrou pessoas nos meios do cinema e da televisão em cujos trabalhos enxergou afinidades com o seu, e a quem conseguiu confiar as adaptações de suas obras, mediante garantias de que seu trabalho e suas recomendações seriam respeitados.

E, aos que o criticaram por isso, que fique claro: ele não se rendeu a esses meios, mas ao contrário, esses meios é que se renderam a ele. E ele ficou satisfeito com todas as adaptações realizadas. Nos oitenta e sete anos em que esteve entre nós, foram muitos poemas, peças, romances e outros textos escritos. Alguns traduzidos em vários idiomas. Além de trabalhos nas artes plásticas e na música. E quando a “moça caetana” – como ele chamava a morte – o levou, ele havia terminado poucos dias antes o que considerou o livro de sua vida, sua maior obra, a ser lançado ainda neste ano. Uma obra para encerrar em grande estilo uma carreira de êxito. Como diria Chicó, um de seus principais personagens: “Só sei que foi assim!”.

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