Oscar de "Uma Mulher Fantástica" acelera projeto de identidade de gênero no Chile

Oscar de "Uma Mulher Fantástica" acelera projeto de identidade de gênero no Chile

Presidente Michelle Bachellet recebeu equipe do filme no Palácio de La Moneda nesta terça

AFP e Correio do Povo

Daniela Vega tornou-se a primeira pessoa transgênero a apresentar uma categoria no Oscar

publicidade

A presidente do Chile, Michelle Bachelet, classificou nesta terça-feira como "muito urgente" o projeto de lei para garantir o reconhecimento legal de pessoas transexuais, um assunto que veio à tona após o triunfo de "Uma Mulher Fantástica" no Oscar. O longa estrelado por Daniela Vega e dirigido por Sebástian Lelo foi eleito o melhor filme estrangeiro na cerimônia do último domingo. O projeto de identidade de gênero, que entrou Congresso em 2013 e foi aprovado pela Câmara dos Deputados em janeiro deve, portanto, ser julgado nesta última semana do governo Bachelet antes de entregar o controle para o conservador Sebastian Piñera.

Após sua passagem na Câmara Alta e com as modificações feitas na Câmara dos Deputados, o projeto deve ser revisado em uma Comissão Mista para se tornar lei antes da mudança de comando, no próximo domingo. "O crescente consenso de que o Chile tenha uma lei de identidade de gênero deve ser transformado em fatos concretos, então eu decidi dar ao projeto, que está em sua última etapa no Congresso, suma urgência. As pessoas transgênero não podem aguardar!, escreveu a presidente em sua conta no Twitter.

O regulamento estabelece o direito de corrigir o nome e o sexo no registro quando estes não coincidem com a identidade de gênero, embora exclua crianças e adolescentes. No entanto, o governo pretende adicionar uma indicação que esclarece que os menores de idade também estão incluídos no padrão, conforme solicitado por organizações que defendem os direitos da comunidade LGBT. A medida ocorreu horas depois de Michelle receber o elenco do filme no Palácio de La Moneda. 'Não viemos pedir autorização para sermos quem somos, sejamos trans ou não, simplesmente somos como somos", diz a atriz Daniela Vega, que se transformou no novo símbolo de uma ascendente sociedade chilena aberta e inclusiva.

"É uma estranha coincidência que uma mostra de arte maior, tal como o cinema, instale na agenda pública um debate que tem sido tremendamente anônimo de pessoas trans por muito tempo", frisou a porta-voz do Executivo, Paula Narvaez. Para Rolando Jimenez, representante do Movimento integração homossexual e Libertação, o triunfo do filme "significou um impulso muito importante, já que colocou na discussão pública o problema e a necessidade de inclusão de transgêneros". "Estamos satisfeitos com a decisão do governo, porque mostra que eles estão determinados a avançar rapidamente tratar a norma", disse.

Daniela Vega, o símbolo transgênero que conquista Hollywood

Tudo parece sorrir para Daniela Vega. Sua mudança de gênero contou com o apoio de sua família e sua transformação de cabeleireira em atriz recebeu o respaldo do cineasta chileno Sebastián Lelio. Sua interpretação de Marina em "Uma Mulher Fantástica", quinta obra do diretor, uma transgênero que diante da morte de seu companheiro enfrenta a discriminação e a rejeição da família dele, a lançou no ano passado à cena internacional e pôs Hollywood a seus pés. Não por acaso, foi a primeira transexual a apresentar um prêmio em uma cerimônia do Oscar.

Ninguém ficou indiferente diante do fenômeno. Jornais como The New York Times, The Guardian, El País e as revistas Vanity Fair, The Hollywood Reporter e IndieWire se renderam diante da personalidade, elegância, dignidade e atuação da atriz chilena, de 28 anos. A revista americana W a incluiu em uma seleção do melhor de 2017, na qual aparece fotografada com o ator Robert Pattison. O jornal nova-iorquino destaca o "carisma que desafia a pena e um porte que pode ser tanto intimidante como doloroso" de Daniela Vega. Para o The Guardian, a atuação de Vega é "apaixonada, inteligente e com discreta dignidade". Os que a conhecem a descrevem como uma mulher ambiciosa, determinada a chegar longe em sua carreira e que se envolve profundamente com o que faz.

Autodidata nascida em Santiago em uma família de classe média, ela começou sua carreira no teatro, com obras como "Migrantes" e "A mulher borboleta", e aulas de canto. Suas aptidões para a lírica, estimuladas desde o colégio, a levaram pelo mundo das artes. Em 2014, participou no videoclipe da canção "María", do músico chileno Manuel García, e estreou no cinema com "A visita", um filme de Mauricio López Fernández. Antes de Lelio, nascido na Argentina e criado no Chile, contratá-la como "assessora cultural" para preparar o roteiro de "Uma mulher fantástica" e depois lhe oferecer o papel de Marina, Daniela ganhava a vida como cabeleireira em um salão de beleza.

Em entrevista ao jornal chileno El Mercurio, sua mãe, Sandra Hernández, contou que durante a gravidez, os médicos lhe disseram que teria uma menina, e por isso já tinham preparado os brincos e a roupinha rosa quando nasceu. Há 13 anos, Daniela foi vítima de assédio no colégio por sua condição e, pressionada por sua mãe, definiu, após buscas na internet, o que sentia em seu corpo de adolescente gótico, atraído pelos homens, e que não se encaixava com a homossexualidade. Era transexual. Protegida por seus pais e seu irmão caçula, Nicolás, ela iniciou seu processo para sua nova sexualidade, que levou três anos. "Eu conheci o amor familiar, o romântico e estive rodeada de muito carinho", disse a atriz em uma entrevista.

Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895