Para trilhar novamente a highway dos Engenheiros do Hawaii

Para trilhar novamente a highway dos Engenheiros do Hawaii

Augusto Licks e Carlos Maltz se reúnem em apresentação histórica neste domingo, às 20h, no Opinião, em Porto Alegre

Correio do Povo

Augusto Licks se junta a Carlos Maltz e a Sandro Trindade em show que revive os Engenheiros do Hawaii

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A banda gaúcha Os Engenheiros do Hawaii nos ensinou que estamos longe demais dos capitais e que a estrada é infinita e que somos quem podemos ser. Eles foram uma referência de cultura pop no cenário nacional da música dos anos 1980 e 1990. Agora, dois terços da formação clássica do grupo volta a tocar junto. Augusto Licks (guitarra, violão e teclado) e Carlos Maltz (bateria) reúnem-se pela primeira vez desde que deixaram o conjunto em 1993 e 1996, respectivamente.

O encontro ocorre no domingo, 21, 20h, no Opinião (José do Patrocínio, 834), na Capital. Quem acompanha os músicos é Sandro Trindade (baixo e voz), fundador dos Engenheiros Sem Crea, tributo aos ídolos criado em 2016. O repertório inclui hits dos Engenheiros do Hawaii e surpresas. Criada em 1985, a banda teve a formação mais estável e de sucesso com a entrada de Licks, em 1987, para tocar com Maltz e Humberto Gessinger (baixo e voz). O time foi apelidado de GLM e durou até novembro de 1993, quando o guitarrista saiu do grupo. O afastamento de Maltz foi em 1996. Ingressos: Sympla. O CS conversou com Augusto Licks e Sandro Trindade sobre o reencontro.

Qual a importância desta reunião de 2/3 dos Engenheiros?

Augusto - A gente vai tocar junto 31 anos depois da última vez, porque em 93 aconteceu a minha saída e não foi por livre espontânea vontade. Foi muito ruidoso. Eu não dava entrevistas. Estava vivendo um choque de realidade e na época já tinha muita fake news, apesar de não ter internet. Então se espalharam versões que não eram verdadeiras. E muitos fãs embarcaram. Eu precisei de um período sabático para me reorientar. Retomei a minha veia jornalística. Fiz a cobertura da Copa do Mundo de 94, na Califórnia. Eu tinha uma coluna de um jornal em língua portuguesa para a região da Bay Area, em San Francisco, juntamente com outro jornalista gaúcho, o Pedro Haase, a Iria Pedrazzi e a Márcia Jakubiak. Fiz trabalhos musicais, trilhas para filmes, trilhas para peças de teatro, e, em 2007, minha filha disse que minha música era que nem um pássaro, “se tem asas tem que voar. Eu criei uma palestra interativa chamada “Do Quarto Para o Mundo”, para conversar sobre os aspectos do fazer musical, os dilemas pessoais, as dificuldades de convivência, o mercado, as questões técnicas. Apresentei a palestra em várias cidades brasileiras. Em Porto Alegre, foram duas vezes. De vez em quando, eu me reunia com um amigo, o Edu Prestes, para fazer um som. Em 2019, a gente começou o duo “Transz It”. Depois, comecei um duo com o meu irmão José Rogério Licks com histórias cantadas. O Maltz me ligou dizendo para a gente se reunir. Ele deu um relato aos autores da minha biografia “Contrapontos”, Fabricio Mazocco e Silvia Remaso, reavaliando a minha saída, dizendo para botar uma pedra naquilo. Avaliei aquilo como um gesto de grandeza. Passada a pandemia, a gente viu que houve uma ânsia por shows e existiam várias bandas tributo pelo país. Aqui no RS, havia os Engenheiros Sem Crea, do Sandro Trindade, que foi convidando antigos integrantes para fazer shows, como o Maltz, o Marcelo Pitz e eu. E a resposta do público foi surpreendente. As pessoas pareciam estar reencontrando um parente perdido. Neste dia 21, vamos fazer um show GLM, apresentado por Licks e Maltz com Engenheiros Sem Crea. O Humberto não manifestou interesse em participar. Então, bola pra frente.

Sandro, como foi a gênese deste reencontro?

Sandro Trindade - Essa reunião surgiu ao natural, porque eu oficializei um tributo tocando Engenheiros a partir de 2016 com o nome Engenheiros Sem Crea, mas eu toco o Engenheiros desde 1990. O meu primeiro show foi em junho de 90, por conta de um especial na TV, era o “Alívio Imediato”. Eu já vinha acompanhando o Engenheiros nos álbuns, o longe, o branco, o longe demais, o amarelo, o revolta e o vermelho, o ouça. Aí tinha a rádio Felusp, em Canoas, que tocou um triplex do Engenheiros ao vivo. Eu nunca tinha visto isto. Meu primeiro show eu toquei “Infinita Highway”. Fiz banda de música própria, outros tributos, mas sempre tocando Engenheiros. Em 2018, eu convidei o Maltz, que veio de Brasília para tocar conosco em Porto Alegre. Depois convidei o Augusto, no pós-pandemia, convidei o Marcelo Pitz, convidei o Paulo Casarin que tocou com o Pepe Gomes. Fluiu ao natural por eles conhecerem o meu trabalho de interpretação. Sou intérprete desde sempre. Eu larguei a música autoral para tocar Engenheiros. As pessoas e me viam acabavam mostrando pra eles. Por que não convidar. A gente tem a música em comum. O Paul McCartney tocou com os seus ídolos. O Rodrigo Santos e o João Barone tocam com o Andy Summers, do Police.

Augusto, eu queria que tu comparasse o tempo do auge dos Engenheiros com o atual do virtual, do streaming?

Naqueles tempos da música romântica, os anos 1980 foram muito ricos assim, numa variedade de gêneros. A gente se identifica muito com o Rock Brasil. Em 1985, o mercado investiu no rock nacional. Uma coisa que não tinha acontecido com o rock brasileiro dos anos 70. Houve uma ressonância com o fenômeno punk, new wave, internacional, aquele espírito de do it yourself, não sei tocar muito bem, mas vou tocar assim mesmo. O espírito da organicidade, de tocar numa banda de rock. Você não precisa fazer um curso numa faculdade de música para tocar. Tu tem algo a dizer musicalmente, tu vai te valer daqueles instrumentos, vai tocar dois acordes que sejam, e vai transmitir teu recado. Isso de repente encontra ressonância, Nos anos 80 tinha uma riqueza de tecnologias. A cada semana era lançado um teclado, um sintetizador novo, pedais, efeitos, racks. Eram ferramentas para linguagens sonoras. Eu era curioso com essas possibilidades sonoras. Eu não me associava à ideia de uma banda de garagem. Quando eu entrei nos Engenheiros do Havaí, para o disco “A Revolta dos Dândis”, eu era o guitarrista que tocava com o Nei. Lisboa. Tinha algumas convicções, ainda com o Nei. a gente se propôs a fazer uma gravação do “Carecas da Jamaica”, sem usar perfumarias tecnológicas, cantos de sereia de estúdio, na ideia do menos é mais, o que nos daria uma fisionomia própria sonora. Eu era um guitarrista e guitarristas usam pedais. No “Revolta dos Dândis” eu não usei nenhum pedal. Eu só me valia dos amplificadores para tirar um som a partir da temática do disco. E a banda era o cavalo que passava encilhado. Quando eu vi a letra de “Infinita Highway” foi o elo para que eu entrasse na banda, pois tinha muito a ver comigo. A cada novo álbum, a banda evoluiu na sonoridade e na postura ao vivo.

Sandro, como é estar tocando junto com teus ídolos?

Desde pequeno eu ouço rock, mas nunca fui pretensioso de que o sentido de que ia tocar com um deles. Aí eu trabalhando numa loja de instrumento musical, quando eu tive contato com o Humberto, na época dos Engenheiros. Elele me conhecia, me chamava pelo nome. Aí, ele disse que se precisasse de um baixista iria me chamar. Como a gente é intérprete, tem que fazer bem melhor. Tem algo que as pessoas não percebem, que é um brilho no olho, a emoção de tocar a música do artista preferido. Quando eu toco nos Engenheiros Sem Crea, que é um tributo a Engenheiros, que também faz um bloquinho de Legião e Paralamas, eu passo esta identificação e este brilho.


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