Paulo Markun lança livro sobre ditadura e redemocratização em Porto Alegre

Paulo Markun lança livro sobre ditadura e redemocratização em Porto Alegre

Autor divulgará dois volumes de “Brado Retumbante” nesta segunda na Sala Álvaro Moreyra

Luiz Gonzaga Lopes / Correio do Povo

Markun revisita momentos importantes da história do Brasil em seu novo livro

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Nesta segunda-feira, 1º de dezembro, às 19h, o jornalista Paulo Markun lança Brado Retumbante (Benvirá), livro em dois volumes: Na Lei ou na Marra – 1964-1968 e Farol alto sobre as Diretas – 1969-1984. Cinquenta anos após o golpe militar e 30 após o movimento “Diretas Já”, as obras são resultado de mais de 70 entrevistas com personalidades que marcaram a redemocratização brasileira, compondo um abrangente painel da história política recente do País. O lançamento será Sala Álvaro Moreyra (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.

Markun, ao longo do livro, visita momentos importantíssimos da história do Brasil, desde os bastidores da reunião do Conselho de Segurança Nacional que traçou as diretrizes do Ato Institucional número AI-5, seis meses antes de o ato ser decretado pelo presidente Costa e Silva, até os momentos prévios da posse de José Sarney como presidente da República. A obra conta com documentos até então inéditos, como os do Cenimar sobre o Congresso da UNE de 1967 m na luta armada até detalhes da luta pela Anistia e a campanha das Diretas Já.

Durante a escrita do livro, Markun criou o portal Brado Retumbante. Com patrocínio da Uninove - Universidade Nove de Julho e do ICD - Instituto de Cultura Democrática, o projeto traz depoimentos, gravados em vídeo, de políticos, artistas, sindicalistas, intelectuais, jornalistas, com Fernando Henrique Cardoso, José Sarney, os senadores Eduardo Suplicy, Álvaro Dias, Cristovam Buarque, Mauro Santayanna, Ricardo Kotscho, Franklin Martins, Marcelo Tas e Carlos Nascimento, entre outros.

Com 62 anos de idade, jornalista desde 1971, já foi repórter, editor, comentarista, chefe de reportagem e diretor de redação em emissoras de televisão, jornais e revistas. Por dez anos apresentou o programa Roda Viva da TV Cultura, entrevistando mais de 500 personalidades. Presidiu o Santacine (Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de Santa Catarina) e a Fundação Padre Anchieta de São Paulo. Markun criou veículos de comunicação como o Pasquim São Paulo, Imprensa, Radar, Deadline, Jornal do Norte; escreveu 13 livros, como “Anita Garibaldi, uma heroína brasileira”, “O Sapo e o Príncipe” e “Cabeza de Vaca”, que foram finalistas do Prêmio Jabuti, além de “1961 - O Brasil entre a ditadura e a guerra civil”, escrito em parceria com Duda Hamilton.

Nesta entrevista ao Correio do Povo, ele fala sobre o projeto, o livro, os anos de chumbo, a fragilidade da democracia brasileira e a sua relação com o Rio Grande do Sul.

Correio do Povo - O que é o grande trunfo do projeto Brado Retumbante, ou melhor, o que os dois volumes do livro e o site contam ou esclarecem melhor destes fatos da história política brasileira entre 1964 e 1984?

Paulo Markun - Creio que o diferencial é o enfoque: uma história da luta pela democracia que valoriza as tentativas de reconquistar os direitos dos cidadãos pela via legal, em movimentos de frente ampla, alargando os espaços de participação. E que por isso, ressalta a ação da oposição parlamentar, da chamada imprensa alternativa, da sociedade civil, dos estudantes, trabalhadores, das igrejas e de lideranças de vários matizes. A ditadura brasileira não acabou por vontade de seus dirigentes, embora o final tenha sido imprevisível e marcado pela negociação, já que a campanha das diretas não alcançou seu intento.

CP - Os livros possuem uma contextualização com os movimentos de perpetuação de poder e os levantes e golpes contra estes governos desde o início do século passado. O que todos estes eventos das décadas de 20, 30, 40, 50 e início dos 60 sinalizam em relação ao golpe de 1964 e ao movimento das Diretas Já?

Markun - Nossa democracia é frágil e sofreu muitas interrupções. Por trás dessa fragilidade está a ideia, compartilhada por grupos de vários matizes ideológicos e políticos, de que se não podemos alcançar algo dentro das regras do jogo, vale mudá-las pela força. O conceito que Francisco Julião, o advogado que comandou as LIgas Camponesas sintetizou na frase "Reforma agrária na lei ou na marra". Muito mais gente quis impor sua vontade na marra - até o presidente John Kennedy autorizou essa via, meses antes do golpe que só prosperou porque o mundo estava cindido pela guerra fria.

CP - Quem são os grandes personagens da história política brasileira entre 1964 e 1984 e por quê?

Markun - Não se pode resumir numa lista curta, mas em qualquer uma delas estarão Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Tancredo Neves, Ernesto Geisel, Golbery do Couto e Silva, Lula, mas também Márcio Moreira Alves, Thales Ramalho, Luis Maranhão e tantos outros.

CP - Explique-nos um pouco o projeto do Brado Retumbante no site www.bradoretumbante.org.br.

Markun -
O site foi a fórmula encontrada para compartilhar o vasto material coletado durante os quatro anos de pesquisa e para oferecer parte do material captado nas entrevistas exclusivas para a obra. Ele só se viabilizou, como os livros, graças a um trabalho de equipe, sustentado pelo patrocínio do Instituto de Cultura Democrática e pela Universidade Nove de Julho - Uninove.

CP - O lançamento dos livros no Rio Grande do Sul tem qual significado para o jornalista e pesquisador Paulo Markun?

Markun - O Rio Grande do Sul é o estado com os leitores mais críticos e frequentes. E foi cenário de muitos momentos nessa história - da operação Pintassilgo e seu ar de farsa construída para justificar um dos primeiros endurecimentos, ao enterro de João Goulart, para ficar em apenas dois momentos marcantes.

CP - Qual a tua relação com o Rio Grande do Sul e os gaúchos?

Markun -
Meu avô materno era um paulista negociante de gado e dizia minha mãe, já falecida, que ele teria sido o responsável pela invenção da bota sanfona, que ajuda a compor a imagem folclórica do gaúcho. Brincadeiras à parte, tenho grandes amigos gaúchos e escrevi, com a fronteiriça (de Santana do Livramento) Duda Hamilton, o livro 1961, o Brasil entre a ditadura e a guerra civil, que reconstitui a campanha da Legalidade, inesquecível. Voltar ao Rio Grande é sempre muito bom.

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