Peça teatral divulga arte e cultura surdas

Centenas de pessoas lotaram o auditório do Teatro Glênio Peres, da Câmara Municipal, neste sábado, para assistir à peça "Além das Luzes da Cidade". Com o objetivo divulgar a arte e a cultura surdas, o elenco do grupo Mãos em Cena – composto por 14 integrantes surdos – apresentou uma releitura da obra de Charles Chaplin "Luzes da Cidade". Dirigidos pelas professoras Maria da Graça Casa Nova e Suzana Silva Zaffari, os atores receberam o reconhecimento da plateia pelo esforço e dedicação no palco após 50 minutos de apresentação.

Diretora da peça, Maria da Graça explica que a apresentação ajuda a divulgar a pessoas leigas que o 'surdo é capaz, não só com relação à arte, à cultura', mas toda comunicação em geral. "O objetivo do teatro é mostrar à comunidade ouvinte a capacidade dos surdos de representação, de cultura, conhecimento, capacidade de comunicação. Em geral, surdo é capaz de tudo, ele só não ouve", destaca. Ela lembra que os primeiros passos para a formação do grupo teatral foram dados em 1999, na Escola Especial Concórdia, onde lecionou até 2015, quando se aposentou. "Não existia tanta tecnologia assim que pudesse fazer com que ele ficasse realmente incluso na sociedade, sabendo o que estava acontecendo", observa.

O filme "Central do Brasil", que à época concorria ao Oscar de melhor filme estrangeiro, serviu de pontapé inicial para inclusão de um grupo de jovens surdos. "Eles estavam completamente sem saber o que estava acontecendo, e o Brasil todo naquela expectativa do Central do Brasil vencer prêmio de melhor filme estrangeiro, e eles estavam à parte. Preocupada com essa situação de estar fora, comecei a fazer um trabalho de integração, de inclusão deles, fazendo com que eles vissem o filme Central do Brasil com intérprete traduzindo todo filme", recorda a diretora, que mantém o grupo há 16 anos. 

Como a ideia de exibição do filme com tradução deu certo, Maria decidiu montar o grupo. "Já tinha feito tudo que podia ser feito, então pensei em fazer teatro da Central do Brasil e chamar tudo que é surdo", lembra. A boa receptividade da peça e a dedicação dos atores chamaram a atenção do público fora da escola, rendendo apresentações fora do Estado. "Alguns alunos se formaram, saíram da escola. Fizemos segunda versão, viajamos a São Paulo com a peça", salienta. Ela destaca que o elenco que participou da apresentação na Câmara é formado por ex-alunos. "É independente, não tem nada a ver com a escola", conclui. 

Presidente da Frente Parlamentar em Defesa das Pessoas com Deficiência da Câmara, vereador Alvoni Medina (PRB) explica que a iniciativa visa valorizar o trabalho dos jovens. "O objetivo é mostrar que são capazes, têm condições, que podem ser úteis na nossa sociedade, que têm valor. Esse trabalho, junto com a Acas-RS, faz com que seja mais valorizado", afirma. Ao destacar a importância da Frente Parlamentar, o vereador reforça que é uma chance para os jovens mostrarem seu talento também a parentes e amigos. "Me sinto feliz de poder ser útil nessa parte, ajudar esses jovens, essas pessoas, que muitas vezes, infelizmente, não têm recebido olhar mais criterioso da nossa sociedade e até do nosso poder público", conclui. 

De acordo com a presidente da Associação de Crianças e Adolescentes Surdos do Rio Grande do Sul (Acas-RS), Carla Beatriz Lopes Brum a ideia é proporcionar entretenimento e promover a inclusão social dessas pessoas. "Queremos mostrar que são realmente pessoas inteligentes e úteis para a sociedade e fazer inclusão entre ouvintes e surdos", explica.