Pela qualificação da cultura em Porto Alegre

Pela qualificação da cultura em Porto Alegre

O Correio do Povo entrevista o novo secretário de Cultura e Economia Criativa da capital gaúcha, Henry Ventura

Luiz Gonzaga Lopes

Novo titular da Cultura e Economia Criativa, Henry Ventura, é músico e professor de música, com experiência na pasta e em projetos culturais e sociais

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Desde 18 de janeiro, quando foi publicado o seu nome no Diário Oficial de Porto Alegre (Dopa), o ex-secretário adjunto e coordenador de música da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC), assumiu o posto maior da pasta. O novo secretário de Cultura do município, é o músico e professor da rede municipal, Henry Ventura. O Caderno de Sábado foi ter um dedo de prosa com este instrumentista (toca instrumentos como violão, trompete e piano), com experiência em docência e projetos sociais, que já cursou Arquitetura e que está há sete anos nos quadros da Secretaria. 

Como foi o teu primeiro envolvimento com a cultura lá no início da tua formação?
O sentimento de pertencimento à cidade está relacionado com o que a gente vive, a nossa criação, com aquilo que a gente se relaciona no ambiente que temos nossas vivências. Coloco esta ligação com a cultura em dois eixos. A minha família tem uma veia artística muito forte e a minha experiência profissional. Começo fazendo arquitetura. Tinha habilidade em desenho desde pequeno. Eu fiz um desenho aos cinco anos, tenho guardado até hoje, em perspectiva do Estádio dos Eucaliptos. O meu pai era professor de Belas Artes, mas a música veio do meu avô. Meus pais são Jayme e Rosângela. No meio do caminho, teve a influência do meu padrasto, Arlindo Schlorke, que contribuiu para a minha formação musical. Aí eu começo um trabalho voluntário na rede municipal de ensino e depois de formado fui trabalhar como professor na rede estadual e para o setor privado. A minha vida como músico foi perdendo espaço por causa das demandas da docência e pela questão econômica de estabilidade que como músico eu não teria naquela época. O professor é um agente político muito forte. Lecionar na periferia acende todas as chamas internas, de princípios de transformação de mundo. Isto te inebria. Tu ficas envolto naquilo ali. A educação artística é um encantamento. Sempre militando, sendo um agitador cultural. Os projetos de música dão um start. O projeto era de Big Bands, bandas marciais, que a Secretaria Municipal de Educação desenvolvia e estávamos na Lomba do Pinheiro, Vila Mario Quintana, Jardim Igá e Sarandi. O Arlindo já estava no projeto desde 1989.

A pasta que assumiste é intitulada Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa. Ela dá conta atualmente destas duas áreas?
A cultura precisa ser qualificada na cidade e na Secretaria. Hoje nós temos a economia criativa no nome dentro da Secretaria, mas temos que potencializá-la no sentido de que os eventos venham para cá, que Porto Alegre seja a Capital da Cultura, que não seja só a cidade dos grandes shows, mas a cidade dos grandes eventos. Nós já tivemos a redução do ISS para eventos, a cidade recebeu vários avanços em termos de infraestrutura e embelezamento, temos a Orla do Guaíba, o Aeroporto Internacional, permite voos diretos para vários lugares do mundo. Como o Porto Alegre em Cena é uma referência no mundo, temos que ser reconhecidos como a cidade de outros eventos, propostos pela Prefeitura e também aqueles em parceria com a iniciativa privada, permitindo que toda a cadeia produtiva cresça. Hoje em dia, os produtores daqui estão indo para São Paulo e Rio, por exemplo. 

Quais os desafios para os próximos dois anos na SMCEC?
É o segundo tempo do jogo. O time estava organizando a estratégia de jogo, a estruturação da Secretaria, de elencar projetos, organizar, recuperar a operação dos fundos, a retomada e a reabertura dos equipamentos na volta gradativa da pandemia. O mundo parou e a cidade parou. A SMCEC acabou focando a sua energia em auxílios para a classe. Ficou um cobertor curto na parte dos próprios municipais e nos projetos. Nestes dois anos, a marca foi a criação de uma imagem de eixo econômico, de economia criativa. Um exemplo é o Carnaval, existe toda uma cadeia, não é só o desfile, os blocos, a Descida da Borges ou o Porto Seco. Tem toda uma rede que precisa ser pensada. No Carnaval do Porto Seco, fora as pessoas que desfilam, são mais de mil pessoas envolvidas. A Prefeitura está dando um suporte ao Carnaval, tem um aporte de recursos e captação de parcerias privadas neste ano. Houve uma mudança significativa nas Ligas no sentido de parcerias com o poder público e iniciativa privada. 

Quais serão as prioridades da tua gestão? 
O Centro Municipal de Cultura é uma prioridade. Estamos terminando o TR – Termo de Referência. Queremos fazer investimento pesado em reforma. Até março estamos entregando os aparelhos de ar condicionado, vamos reabrir o Bar do Lupi, ter outras experiências além da parte artística. Vamos buscar com a IPSul uma parceria para uma iluminação cênica no prédio. Estamos fazendo reuniões buscando parceiros para qualificar o espaço, mantendo sempre a administração pelo poder público. Temos a Usina do Gasômetro que vamos entregar no máximo até o fim deste ano ou início de 2024, o Teatro de Câmara Tulio Piva, que devemos entregar até o final do ano nesta PPP com o Opinião, a 6Pro. Teremos um investimento no Paço Municipal de R$ 700 mil para a recuperação da fachada. Estamos trabalhando na estruturação do Paço para virar um Museu, com painéis expositivos, climatização adequada e videomonitoramento. A gente acredita que pode ser o Museu mais visitado de Porto Alegre pela localização e pelo caminho que forma com outros museus próximos. Temos um projeto nesta área que está sendo construído junto com a Secretaria de Estado da Cultura. A Companhia Municipal de Dança. Temos projetos com captação de recurso via Banco Mundial para a Casa Godoy, Casa Torelly, por isso saímos de lá. Estamos buscando a retomada das obras da Caixa Cultural no antigo Cine Imperial, com a volta do Ministério da Cultura. O prefeito Sebastião Melo quer aumentar os recursos para a descentralização da cultura (R$ 1.877.912,00) e para o Fumproarte. Tivemos uma recuperação dos fundos com o secretario Gunter. Estamos na parte 2. Não tivemos o edital Fumproarte, só o do Carnaval e os descentralizados. O último edital foi em 2016. Vamos abrir um edital no primeiro semestre com R$ 700 mil para o Fumproarte e também destinar R$ 90 mil para o edital descentralizado. Os passivos dos Fundos foram quitados no governo anterior, na gestão do secretário Luciano Alabarse, que se esmerou em honrar todos os compromissos. Teremos R$ 11 milhões da Lei Paulo Gustavo que vamos receber do governo federal. A nossa preocupação também é com a qualificação da mão de obra na área da cultura, pois estes recursos entram maiores em SP e RJ e muitos profissionais estão indo para lá.

E outras áreas como Patrimônio Histórico, Literatura e Dança, por exemplo? 
No Patrimônio estamos resolvendo trâmites burocráticos. O orçamento para a Memória da Cidade é muito pequeno, apenas R$ 6,9 mil. O orçamento anual da Secretaria para o ano é de R$ 31.268.544,00, já temos valores definidos destinados para todas as áreas em torno de R$ 20 milhões e contingenciados em torno de R$ 1 milhão. Estamos solicitando um rearranjo para tentar que não fiquem valores aquém como o caso da Memória da Cidade. A área de Literatura e Humanidades tem apenas R$ 10 mil, não paga nem um escritor convidado. O Festival de Inverno deve retornar, pois estamos retomando também o setor de Captação e Projetos, capitaneado pela Adriana Martins. Estamos levando para a Câmara dos Vereadores um projeto de uma Lei de Incentivo municipal para ser executado já a partir de 2024. Queremos fazer um reforço na equipe do Atelier Livre, estamos fazendo parceria com a Ufrgs, há uma demanda antiga pela ampliação do Atelier. Na música, queremos retomar o Festival de Música, outros pequenos eventos no calendário da música, utilizar mais as datas da Cultura no Araújo Vianna. Vamos qualificar a Banda Municipal, que em 2025 faz 100 anos, é o grupo instrumental mais antigo da cidade. O Festival de Teatro de Rua vamos manter no calendário. O 29º Porto Alegre em Cena terá segunda parte em março e o 30º será uma grande celebração, com reconhecimento de figuras históricas importantes do festival. A Companhia Municipal de Dança está contratualizada. Queremos ampliar os recursos para as Mostras de Dança. No cinema, nós teremos o aporte da Lei Paulo Gustavo, mantendo a parceria com a Fundacine da Cinemateca Capitólio, buscando parceiros privados para melhorar o espaço. Queremos incrementar o apoio aos artistas de circo e de rua, dando visibilidade maior a eles, tendo até premiações e editais específicos para circo, que merece atenção especial. 


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