Poesia em páginas virtuais

Poesia em páginas virtuais

Jovens autores conquistam espaço no Instagram e plataforma se torna porta de entrada para o mundo da poesia

Camila Souza*

Da esquerda para a direita: João Doederlein, Igor Pires e Rupi Kaur

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Se antes a poesia era um gênero literário presente apenas nos livros empoeirados das bibliotecas, hoje ela pode ser encontrada na tela do celular. Isso porque jovens autores, conhecidos como “instapoetas”, têm usado o Instagram para compartilhar seus sentimentos. Com estilo minimalista e pequenos textos nas publicações, páginas de poesia conquistam milhões de seguidores - e inspiram novos escritores.

A principal responsável por esse fenômeno é Rupi Kaur, 27 anos. Indiana, radicada no Canadá, ficou conhecida depois de compartilhar uma foto em que usava uma calça manchada com sangue menstrual e teve a publicação banida pelo Instagram. Kaur demonstrou sua indignação e o caso ganhou repercussão, fazendo com que ela se tornasse representante da luta feminista na Internet. Apesar de sua fama inicial não ter relação direta com a literatura, hoje ela é a principal figura dos ‘instapoetas’. A página de Kaur no Instagram reúne 4 milhões de seguidores. Ela é autora do best seller que ficou em primeiro lugar por quase um ano na lista de mais vendidos do The New York Times, “Milk and Honey”, obra publicada no Brasil como “Outros jeitos de usar a boca”.

O fenômeno de poesia na Internet também chegou ao Brasil. Uma das páginas pioneiras é a “Textos cruéis demais”, de Igor Pires. Desde 2016, o autor compartilha suas escritas com o público que hoje soma 1,3 milhão de seguidores no Facebook e Instagram. Os textos que tratam de temas como amor e autocuidado também inspiram quem tem vontade de expressar sentimentos através da escrita. “Lembro que antes da TCD (‘Textos cruéis demais’), no Brasil não tinha cultura muito forte de publicar esses textos mais poéticos. Depois dela, outras páginas surgiram e acho isso muito legal. As pessoas criaram coragem para publicar seus textos e acho que esse fenômeno só tende a crescer”, destaca Igor.

Uma vantagem de publicar nas redes sociais é a possibilidade de interação com o leitor que, muitas vezes, se identifica com o autor. “Quando escrevo e recebo feedback, me sinto curado também, é uma via de mão dupla. A experiência que os leitores me contam, a maneira como falam da página e se identificam me dá forças para continuar meu trabalho”, explica. Com o sucesso do projeto nas redes sociais, Igor também escreveu três livros: “Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente” (2017), “Onde dorme o amor” (2019) e “O fim em doses homeopáticas” (2020).

Quem também se destaca nas redes é o poeta João Doederlein, 24 anos, conhecido por ressignificar diversas palavras. Embora tenha iniciado sua página no Facebook, seu trabalho hoje é focado no Instagram, onde reúne 1,1 milhão de seguidores que acompanham os poemas no formato de dicionário. “Construir uma narrativa poética em cima do significado da palavra e ter um formato que era reconhecido pelo público ajudou muito como marca”, explica. Mas o trabalho do autor não se limita às redes sociais. Ele também é autor de “O livro dos ressignificados” (2017), “Coração-granada” (2018), “O Invisível aos Olhos” (2019) e já está trabalhando no próximo livro, que já foi confirmado, mas ainda não tem data de lançamento.

E quem mais acompanha os “instapoetas” é o público jovem. “O conteúdo é de rápido consumo, feito por pessoas da mesma idade, falando de coisas atuais da vida, então causa uma identificação”, destaca Doederlein. Ele comenta sobre o crescimento desse gênero literário na sociedade. “A poesia sempre teve um espaço elitista, era feita por poucos e para poucos. Hoje vemos livros de poesia sendo best seller no mundo inteiro.” De acordo com o autor, esse fenômeno vai atrair ainda mais público.

Não se pode prever como será o futuro da poesia no ambiente virtual. É possível que mude o formato, a linguagem e a plataforma. Mas é inegável que o fenômeno provocado pelos “instapoetas” abriu portas para o mundo literário e inspira muitas pessoas. Com um público cada vez encorajado a se expressar através da poesia, a tendência é que esse gênero esteja cada vez mais presente na estante da biblioteca, nas livrarias ou na tela do celular.

*Sob supervisão de Marcos Santuario


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