Poeta e ensaísta Antônio Cícero discute relações entre razão e crença na Ufrgs
Palestra integrou o ciclo "Mutações - A Invenção das Crenças", que reúne pensadores na Capital
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A partir de citação de Paul Valéry "... toda estrutura social é fundamentada sobre a crença ou sobre a confiança. Todo o poder se estabelece sobre estas propriedades psicológicas", Novaes reuniu em Porto Alegre pensadores como José Miguel Wisnik, Olgária Mattos e Luiz Alberto Oliveira para discutirem o tema.
Cícero primeiro aponta a tendência de entender a relação entre "razão e crença" como de oposição, e relaciona tal pensamento ao fato de muitas vezes a "crença" ser considerada "fé". A aproximação entre crença e fé seria justamente resultado do fato de que costumamos opor ambas ao conhecimento.
No caminho de entender a razão, o conceito de "fé" é encarado por Cícero, que fala de diferentes definições históricas sobre o termo, como o sentimento de se ter confiança em alguém. "O primeiro sentido do termo é de pacto, como no Velho Testamento, onde ter fé em Deus é ter fé no pacto e confiar que deus cumprirá sua parte no acordo", analisa. Segundo ele, a palavra adquiriu uma conotação religiosa que não é tão forte na palavra crença.
Ao relacionar razão e crença, e não razão e fé, ele entende a razão como, em primeiro lugar, uma crítica à fé, à crença, ao conhecimento e à própria razão. E destaca que a razão - e a crítica - pode ser usada como instrumentos para desenvolver, fundamentar e defender determinada crença. A razão pode, no olhar de Cícero, tanto construir como destruir uma crença, e até a confiança na razão seria uma crença.