Pomada que promete remoção de tatuagem ainda é ilusão

Remover uma tatuagem sem dor e com baixo custo utilizando um creme barato vendido em farmácias. A novidade, que gerou burburinho nas redes sociais no final do mês passado, é a promessa de um estudante da Universidade de Dalhousie, no Canadá, que anunciou, inclusive, que esse tal produto já está em fase de testes. O Bisphosphonate Liposomal Tattoo Removal, como foi batizado, consiste em liberar uma droga no organismo que elimina apenas as células coloridas pela tinta, sem danificar o tecido ao redor.

No entanto, a ideia é mais uma em meio às opções que tentam, ainda sem sucesso, desviar o processo do laser. Para especialistas, faltam dados concretos e científicos que comprovem a eficácia dessas pomadas. “O princípio ativo deste produto precisaria atravessar a barreira da epiderme, a camada mais superficial da pele e, então, estimular a eliminação do pigmento, sem irritação. Isso seria ótimo, mas na prática é bastante difícil de conceber”, afirma o dermatologista Felipe Aguinaga, que explica que outros cremes com mesmo propósito disponíveis no mercado carregam substâncias irritantes, que podem provocar graves reações ou, simplesmente, não apresentar nenhum resultado.

Por enquanto, a maneira mais eficaz de apagar aquela tattoo causadora de constrangimento continua sendo o laser que, apesar do alto custo (de R$ 350 a mil reais por sessão), ainda é o método que alcança os melhores resultados. Apesar da possibilidade de efeitos colaterais como bolhas, cicatrizes e despigmentação da pele em casos isolados e a dor na hora da aplicação, a técnica é considerada segura pelos médicos.

Geralmente o resultado é mais satisfatório quando a tatuagem em questão é antiga ou possui poucas cores. Como não existe uma padronização da tinta utilizada pelos tatuadores, cada caso deve ser avaliado individualmente. “O sucesso do tratamento depende de muitos fatores, e nunca é possível garantir uma remoção completa”, afirma Aguinaga.

Em geral, são necessárias de cinco a dez sessões com intervalos de quatro a oito semanas entre uma e outra para a remoção. A dor é semelhante a uma leve picada como a batida de um elástico na pele, seguida por uma sensação de queimadura de sol que geralmente é amenizada pelo uso de analgésicos ou gelo na região. “As primeiras quatro sessões doem muito, mas as seguintes, por não haver mais tanto pigmento na pele, já são totalmente suportáveis”, relata Sabrina Crivellaro, que se submeteu a dez sessões de laser para a retirada de um anjinho com cerca de sete centímetros que cobria parte do seu peito. A decisão veio graças a mudança no seu estilo de vida. Aos 31 anos e mãe de três filhos, ela conta que dos 15 aos 22 se tatuou sete vezes. “Nesta época eu tinha a cabeça mais aberta e outras prioridades. Hoje eu preferi assumir o papel de mulher mais clássica e as tatuagens não fazem mais parte do que sou”, explica.

Apesar de ter ficado satisfeita com o resultado final, Sabrina espera ansiosamente por técnicas mais evoluídas para que possa apagar as restantes. “É um processo longo, demorou mais de um ano e como tenho duas tatuagens grandes, levaria muito mais tempo”, afirma.

Evitando arrependimentos

Parece meio óbvio que a escolha de um símbolo significativo e um bom profissional são dois fatores fundamentais para evitar o arrependimento no futuro. No entanto, há quem ainda procure os estúdios de tatuagem por impulso ou simplesmente por querer seguir um modismo. Segundo Heráclito Mizerski, tatuador há 14 anos em Porto Alegre, é aí que entra o bom senso do profissional, que tem a obrigação de alertar o cliente. “Normalmente oriento as pessoas baseado nas experiências que já passei. Nomes de namorados, tatuagens manjadas, de famosos ou aquelas que possam causar constrangimento no futuro são alvos fáceis”, aponta.

Ainda assim, ele se demostra bem otimista frente ao cenário atual. Com o aumento da procura por tatuagens nos últimos anos, as pessoas estão muito mais conscientes na hora de escolher o tatuador. “Como existem diversos profissionais bons no mercado e também muitas pessoas tatuadas, o acesso à informação faz com que as escolhas sejam mais criteriosas, e assim o arrependimento dificilmente irá surgir”, conclui.