Projeto pensa o social na arte

Projeto pensa o social na arte

Com lançamento nesta terça-feira, o "Arte Como Ciência" trará uma série de entrevistas com artistas e pesquisadores de várias partes do mundo

Vera Pinto

Viviane Juguero (E) é coordenadora pedagógica do projeto "Arte Como Ciência". idealizado conjuntamente com Daniela Israel, que assina a parte técnica e de produção

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Viviane Juguero assina a coordenação pedagógica de “Arte Como Ciência”, que idealizou junto com Daniela Israel, na parte técnica e de produção, que visa pensar o papel social da arte por meio de entrevistas com artistas e pesquisadores. Com participantes do Brasil, EUA, Cuba, Espanha, Alemanha, Ruanda e Portugal, os encontros serão na primeira terça de cada mês, das 18h30min às 20h, pelo YouTube, em português, inglês e espanhol. E na terceira terça-feira está prevista uma edição resumida, com legendas, que será disponibilizada para TV’s comunitárias e educativas de todo Brasil.

O lançamento será dia 1o de setembro, com Viviane discorrendo sobre as ideias que fundamentam a proposta; Daniela, da parte operacional; Cali Troian, divulgação; e Cleiton Echeveste, tradução solidária. Também participarão alguns membros do conselho consultivo e entrevistados, além do público, enviando comentários e perguntas pelo chat. “É um projeto super colaborativo, feito com muitas mãos, de muitos lugares, envolvendo muita paixão, arte e ciência. Focamos em como um conteúdo pesado e difícil de ser entendido por vezes, possa ser leve, divertido e interessante, agregando e transformando a sociedade.  Levando em conta o momento em que vivemos, de pandemia, fomos testando formatos, pra falar de arte de uma forma diferente”, diz Daniela, que é sócia da Bactéria Filmes.

Integrante de redes nacionais e internacionais de dramaturgia negra e teatro para infância e juventude, Viviane, na medida em que a pandemia atingiu em cheio o setor cultural, viu surgir um discurso, no Brasil e fora dele, de minimizar a arte, como se fosse algo supérfluo ou dispensável. As políticas culturais já sofriam graves agressões, e com o isolamento social cresceram os encontros virtuais, o que deu um panorama do ambiente cultural no mundo. Neste cenário,  os sérios problemas na área acabaram ficando restritos aos seus trabalhadores, porque a sociedade não os reconhecia como seus. “Eu, como artista, sempre trabalhei com o teatro como algo fundamental na constituição social. Desde q comecei a fazer teatro de rua, em 1994, teatro infantil, fui pra faculdade, até chegar à tese de Doutorado (Ufrgs/UW-Madison, 2019), em que penso nos meus 25 anos de trabalho, e desenvolvo o conceito de Dramaturgia Radical. Com base na radicalidade de Paulo Freire, nas coordenações de ações e emoções de Humberto Maturana em conjunto com Verden-Zöller e nos estudos de linguagem de Bakhtin, busco entender a raiz da dramaturgia no ambiente social, como um conhecimento interligado aos demais saberes da sociedade. E as especificidades dos discursos artísticos, parte fundamental da construção das estruturas sociais, seja para buscar transformações, propor reflexões, desenvolver o pensamento crítico, mas também respaldar o status quo e cultura hegemônica. Percebi que precisamos combater a ignorância com o conhecimento”, declara.

Do latim, Ciência significa conhecimento e é dividida em diversos campos do saber, sendo a arte, uma das ciências humanas. O projeto vai abarcar quais são suas particularidades em colaboração com outros campos do saber, mas não em subordinação. Desvendar qual seu papel social vai na raiz do pensamento artístico, e esta questão será respondida no primeiro encontro, com base nos estudos de Viviane baseado na Dramaturgia Radical. “A ciência parte de conhecimentos universais, que servem às reflexões nos distintos contextos. Não são dogmáticos e sim dialéticos: não trazem respostas prontas, mas apontam caminhos de reflexão com base em percepções universais, em diálogo sempre com os distintos fatores de cada contexto”, diz a atriz, pesquisadora e dramaturga. Para Viviane, que em breve partirá para a Noruega, no Pós-doutorado em Artes Cênicas para a Primeira Infância na Universidade de Stavanger, “o projeto, ao refletir sobre o papel social da arte, coloca a arte em pé de igualdade com todos os outros setores da sociedade, no sentido de que os discursos artísticos são fundamentais: compõe as coordenações emocionais que embasam valores e desejos, e resultam nas escolhas de cada um e estão conectados ao que o psicanalista Winnicott chama de espaços transicionais, onde a subjetividade se encontra com a objetividade, o que vai na contramão das ideias de talento, gênio da arte e que a arte é supérflua ou para entreter”.

O convidado da primeira entrevista, em 6 de outubro, será o diretor e autor Jessé Oliveira, em “Teatro Negro no RS”; no dia 3 de novembro, o músico Richard Serraria, em “Tamboralitura” e dia 1o de dezembro, a iluminadora e pesquisadora Kathy Perkins (EUA), que é professora emérita da Universidade de Illinois e da Universidade da Carolina do Norte, e cujo trabalho a levou a mais de 40 países, falará de “Antologias de Peças Africanas e da Diáspora Africana Criadas por Mulheres”. A iniciativa envolve no total, cerca de 23 pessoas, como Luvel Garcia Leyva (Relações Entre Teatro e Infância), Quanda Johnson (Busca da Terra Negra), Hope Azeda (A Arte Pode Curar uma Sociedade Corrompida), Licko Turle (Teatro Negro, do Oprimido e de Rua: Poéticas da Liberdade), Aldri Anunciação, (Dramaturgia do Debate e a Poética da Discordância), Dione Carlos (Dramaturgia de Ialodês) e Eugênio Lima (Negras Representações: Entre a Necropolítica e a Afrotopia). Sem financiamento ou apoio financeiro, conta com parceria da TVE e FM Cultura, Feevale, Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e Juventude (Cbtij) e CNPq, entre outros.

 


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