Projeto "Quebras" percorre 15 capitais para descobrir escritores

Projeto "Quebras" percorre 15 capitais para descobrir escritores

Idealizadores Marcelino Freire e Jorge Filholini definiram ação com uma celebração à literatura

Luiz Gonzaga Lopes

Registro da oficina do projeto "Quebras" em Vitória

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Durante um ano, até agosto passado, o projeto "Quebras", do escritor e produtor de eventos pernambucano Marcelino Juvêncio Freire, percorreu 15 capitais brasileiras mapeando escritores que estavam à margem da produção editorial. Por meio de encontros, ele e o produtor e editor do site  Livre Opinião, Jorge Filholini, seu parceiro nesta jornada, conheceram os poetas, cordelistas, romancistas, contistas, artistas, dramaturgos e as pessoas aparentemente comuns que participaram de uma oficina e que foram devidamente registradas em vídeo, texto e fotos no site.

Inicialmente chamado de "Ponto BR", o projeto recebeu o nome de "Quebras" em função da pergunta "Que Brasil é este?", que foi sendo respondida enquanto os dois visitavam Rio Branco, Maceió, Macapá, Manaus, Vitória, Goiânia, São Luís, Cuiabá, Campo Grande, Belém, Teresina, Porto Velho, Boa Vista, Aracaju e Palmas. Marcelino e Jorge definiram este projeto como uma celebração à literatura, com apoio do Rumos Itaú Cultural, que lançou no início do mês o edital 2015/16, com disponibilização de R$ 15 milhões para projetos de todo o país.

Nesta entrevista ao Correio do Povo, publicada também no Caderno de Sábado, eles falam sobre o projeto "Quebras" e este descortinar da literatura brasileira ainda não nem tão badalada. 

CP - Como surgiu a ideia do projeto "Quebras"? 
Marcelino -
 Vontade de estreitar distâncias, quebrar fronteiras. De trocar parágrafos, juntar os pontos. Estivemos em 15 capitais brasileiras. E só nos interessavam as cidades foram do eixo Rio/São Paulo. Nossa intenção não foi a de mapear o que acontecia literária e culturalmente no país. Não gostamos do verbo “mapear”. Nossa intenção sempre foi conhecer, encontrar, naturalmente, teimosos autores, gente guerreira espalhada pelo Brasil. Uma viagem aberta de possibilidades...
Jorge - Nunca tivemos um roteiro definido quando chegávamos nas cidades. Fomos conversando e conhecendo, no calor do momento, a pulsação de cada lugar – quais poetas, contistas, quais espaços agitavam a cena...

CP - Como foi a chegada e a receptividade nestas cidades?
Marcelino -
 Sempre fomos recebidos de braços e portas abertas. Esses espaços viraram nossos cúmplices, parceiros de história. Logo no início, em Teresina, estivemos no Galpão do Dirceu, localizado na periferia da cidade. Lá, no Galpão, é onde se concentram atores, bailarinos, poetas. Todo mundo unido para transformar a comunidade por meio da arte. Outro espaço incrível é a Pequena Companhia de Teatro, em São Luís, que fez da arquitetura de uma casa um excelente palco para as apresentações de espetáculos, um canto intimista, inovador. 
Jorge - Em Campo Grande ficamos encantados com a Casa de Ensaio, que a duras penas é administrada pelo casal Lais e Artur, que ministram aulas de teatro, dança e literatura a adolescentes carentes. Jovens que hoje viajam pelo Brasil mostrando o que aprenderam. Até ficamos sabendo que, depois da oficina do "Quebras", o pessoal que participou da oficina na Casa de Ensaios está organizando uma vez ao mês um sarau para continuar soltando o verbo. Isso para nós já valeu ter estado lá. 

CP - Que atividades e/ou ações dentro do projeto foram tomando outro rumo após a chegada às cidades?
Marcelino -
 Em João Pessoa já tivemos notícias de que o pessoal que fez a oficina está organizando a primeira revista literária com textos que trocaram entre eles durante a nossa passagem pela cidade. O pessoal de Teresina também já está organizando saraus no espaço do Galpão do Dirceu, na intenção de promover o local. Sem contar os poetas que nos avisam do lançamento do primeiro livro deles. E agradecem, sempre, o fôlego que a gente deu.
Jorge - De passagem por Cuiabá, instigamos um escritor local, o amigo Santiago Santos, a promover um festival na cidade, pois encontramos uma pulsação cultural muito forte por lá. E tem mais: sabemos que, via o nosso portal, os autores têm trocado figurinhas. O pessoal de Aracaju, por exemplo, tem conversado com o pessoal de São Luís. Os editores de Vitória com os editores de Goiânia, etc. 

CP - Após concluir a fase de visitação do projeto, o que é possível se dizer sobre a literatura e eventos literários que estão sendo feitos neste Brasil um pouco à margem dos grandes centros?
Marcelino - 
Devemos parar com esse pensamento preguiçoso de que quem faz literatura é só quem está no eixo Sul-Sudeste. Com o Quebras encontramos diversos autores que contribuem e muito para a cultura do país. Cada um com sua poesia, sua palavra, sua guerrilha. O Brasil precisa voltar seus olhos para dentro do Brasil profundo. E poder saber, assim, de um poeta fenomenal como Antônio Moura, de Belém. Ou do talento musical e performático de um poeta como Eliakin Rufino, de Boa Vista. Sem contar a força à margem que têm as poesias de Waldo Motta, de Vitória, e de Diego Moraes, de Manaus.
Jorge - É muita gente na ativa com saraus e zines pelas ruas e espaços culturais. Vitória, no Espírito Santo, pulsa fortemente. Muitos grupos criando selos para divulgar os próprios textos. Muitas publicações alternativas. 

CP - Qual a importância do apoio de um projeto como o Rumos Itaú Cultural?
Marcelino -
Primeiro, quero dizer que o que me chamou a atenção, de cara, no edital foi a forma descomplicada de se fazer a inscrição. Tudo muito desburocratizado. Isso me animou a participar. Depois, a equipe toda do Itaú Cultural foi superparceria durante todo o tempo, dando suporte, nos enchendo de energia, sinalizando sugestões. A gente se sentiu muito livre e muito respeitado o tempo todo. E adoro essa coisa de o artista, via edital, dizer o que quer, como quer fazer, qual projeto quer realizar. Isso é um sonho para qualquer artista. O Rumos realizou um antigo sonho nosso – redescobrir o Brasil. E fazer amigos, assim, na arte e na vida. 

CP - O que vem daqui para frente? 
Marcelino - Estou escrevendo meu próximo romance. Inclusive, o "Quebras" me ajudou nisso. Quando me deparei com a cidade de Vitória, meu personagem do romance me disse ao pé do ouvido: eu moro aqui, eu quero vir morar aqui. Pois farei a vontade de meu personagem. O romance vai se passar em Vitória. Voltarei à cidade para avançar em alguns parágrafos. No mais, penso, mais à frente, em fazer um "Quebras" latino. Quero saber dos artistas teimosos que estão vivendo, e se mexendo, nas capitais da América Latina.
Jorge - Neste exato momento, estamos preparando o livro sobre o "Quebras", em que contaremos o processo de encontro com os autores, a nossa participação nas oficinas e sobre os espaços que nos acolheram em cada cidade. Eu continuarei administrando o site em que sou um dos fundadores e editores, o Livre Opinião – Ideias em Debate, assim como na produção cultural de eventos e festivais. Com curador, o "Quebras" me possibilitou conhecer diversos autores pelo Brasil que, se possível, quero trazê-los para debaterem suas literaturas com os leitores com quem tenho contato.

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