"Retratos fantasmas", homenagem de Kleber Mendonça Filho aos cinemas antigos

"Retratos fantasmas", homenagem de Kleber Mendonça Filho aos cinemas antigos

O documentário foi exibido durante a Sessão Especial da Seleção Oficial no 76º Festival de Cinema de Cannes

AFP

Kleber Mendonca Filho e a produtora francesa Emilie Lesclaux

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Cinemas que desapareceram, ruas do centro desertas, prédios vazios... O diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho apresenta em Cannes "Retratos fantasmas", um mapa sentimental de Recife, sua cidade natal, e uma emocionante homenagem às salas escuras da sétima arte.

O documentário percorre os locais que marcaram a vida do cineasta, começando pelo bairro onde cresceu em Recife e a casa da família, presente em alguns de seus filmes.

Na primeira parte, Mendonça abre as portas da casa de sua juventude com suas lembranças, comentando imagens de arquivo pessoais, alternadas com cenas de seus filmes.

Ele também presta homenagem à mãe, uma historiadora morta precocemente em meados dos anos 1990.

"A relação dela com a nossa casa é algo que sempre me tocou muito", disse o diretor em entrevista à AFP neste sábado (20).

"Ela me passou muito uma ideia do Brasil, uma ideia de história do Brasil. Eu acho que, inevitavelmente, isso faz parte dos meus filmes", acrescentou.

 "Templos"

Estes "Retratos fantasmas", porém, são principalmente um olhar nostálgico sobre Recife e suas salas de cinema, muitas agora fechadas, frequentadas pelo cineasta durante anos.

Em um momento do documentário, Mendonça mostra seu mapa sentimental da cidade, com algumas das salas de cinema que ficavam no centro, como Art Palácio e São Luiz, a única que continua em operação.

Para ele, estes locais eram fundamentais para manter vivos os centros urbanos, e quando começaram a desaparecer, a vida foi se perdendo nas cidades, que foram tomadas por shoppings centers.

Algumas destas salas de cinema, às quais Mendonça se refere como "templos", acabaram transformadas em centros de culto evangélico.

Neste sentido, o diretor se interessou pela ideia de mostrar pessoas que se reúnem "para ouvir histórias, mesmo que de religião ou de cinema".

Também são comoventes as imagens dedicadas ao projecionista Alexandre, do Art Palácio, antes de seu fechamento, que lembram muito o Alfredo de "Cinema Paradiso".

 Um país "normal" 

Mendonça, de 54 anos, é assíduo da Croisette. Disputou a Palma de Ouro com "Aquarius", em 2016, e com "Bacurau", em 2019, com o qual ganhou o prêmio do júri. Dois anos depois, também foi um dos jurados.

Com "Retratos fantasmas", concorre ao L'Oeil D'or (Olho de Ouro), prêmio para o melhor documentário de todas as seções.

Quando decidiu fazer esta história, o cineasta admite que não tinha claro o formato.

"Eu nunca pensei no filme como um documentário ou ficção. Eu pensei como uma possibilidade de eu falar na minha voz", disse.

O diretor, abertamente de esquerda, e que durante o mandato de Jair Bolsonaro (2019-2022) não deixou de criticar sua gestão, comemora a volta de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.

"Eu estou feliz pelo Brasil simplesmente estar normal mais uma vez porque nos últimos sete anos o Brasil não estava normal, foi uma situação bem atípica e pouco natural", afirmou.

Porém, ele reforçou que quer ver esta situação atual com "naturalidade". "Não é algo anormal, anormal é o que aconteceu nos últimos sete anos", já no governo de Michel Temer (2016-2018).


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