Rogério Duarte, criador da estética do Tropicalismo, morre aos 77 anos
Artista plástico colaborou com artistas como Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil
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Rogério foi o criador da estética visual da Tropicália. Não por acaso, colaborou com - e era amigo de - artistas como Caetano Veloso, Gal Costa e Gilberto Gil. Suas capas para discos dos Novos Baianos entraram para a história, mas a associação mais famosa foi com Glauber Rocha.
Para Glauber, Rogério criou os cartazes de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", "Terra em Transe" e "A Idade da Terra". No último, foi além do aspecto gráfico. Criou também a trilha sonora, com sua rica utilização dos ruídos.
Rogério era irmão de Ronaldo Duarte e, nos anos 1960, houve um movimento da classe artística para salvar os "irmãos Duarte". Eles foram presos e torturados durante a ditadura.
Rogério foi um dos primeiros a denunciar a violência do regime. No antigo Correio da Manhã, uma carta coletiva, assinada por grandes nomes das artes no país, desencadeou o movimento de solidariedade para resgatar os irmãos.
Após a prisão e, em pleno AI-5, Rogério, como gostava de dizer, enlouqueceu completamente. Ficou introspectivo, ingressou numa fase mística. Estudou sânscrito e iniciou a tradução dos escritos de Bhagavad Gita. O livro foi lançado anos mais tarde com o título de "A Canção do Divino Mestre". Acompanhava o volume um CD.
Rogério Duarte publicou também um livro de memórias, "Tropicaos", em que reavalia tudo - sua passagem pela clandestinidade, a prisão, a tortura e o Tropicalismo. Embora citado sempre - e reverenciado - como artista visual, ele foi um homem renascentista, de múltiplos talentos. Músico, poeta, compositor, professor.
Como um dos pais intelectuais da Tropicália, colocou tudo no mesmo caldeirão - modernismo, antropofagia. Fez da sua arte uma forma de guerrilha cultural. Hoje, que tudo isso pertence à História, suas capas e pôsteres continuam belos e inovadores como há 50 anos.