Rubel brinca com as palavras

Rubel brinca com as palavras

O cantor e compositor fluminense reverenciou os gêneros da música brasileira com a turnê "As Palavras Vol. 1 e 2" em Porto Alegre

Leticia Pasuch*

Cantor retornou ao palco do Auditório Araújo Vianna no último sábado, 16

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Samba, malandragem, forró. Coração, coragem, cantoria. É sertão. É Carnaval. É capoeira. Um misto de palavras definiu a noite que ficará marcada na memória de Rubel e de todos que estiveram presentes no Auditório Araújo Vianna no último sábado, 16. Afinal, foi brincando com elas que o cantor-compositor fluminense elaborou seu mais recente álbum, “As Palavras vol. 1 e 2”, que formou o repertório do show da turnê de mesmo título. 

Os assentos do auditório foram sendo preenchidos pelo público, com tamanha ansiedade para a noite que começava. O fato do show ter sido adiado, em decorrência de uma cirurgia que Rubel fez no coração, só aumentou mais ainda a expectativa de rever o cantor no palco após tanto tempo – se passaram quatro anos desde a sua última vinda à Porto Alegre. Porque o amor não tem pressa, ele às vezes demora. Mas nada impediria esse reencontro – de um casal que veio de longe para ver o ídolo até a dupla de amigas que simboliza a amizade através de uma música do cantor. 

A noite abriu com o instrumental de “Forró Violento”, ao som das vozes de apoio. Com os gritos estridentes da plateia, Rubel chegou e fez uma reverência. Sob uma iluminação azul marinha, cantou “Torto Arado”, música adaptada da obra literária de Itamar Vieira Junior e interpretada em parceria com Liniker e Luedji Luna. Com o violão em mãos, ele seguiu com “Samba de Amanda e Té” e, antes da canção seguinte, cumprimentou os presentes. “Eu não sei se vocês sabem, mas eu quase morri esse ano. Mas ano que vem eu não morro”, brinca. Rubel lembrou que fez um de seus primeiros shows em Porto Alegre, e enfatizou como era especial estar de volta aos palcos após tanto tempo. “Espero contribuir para que a noite de vocês seja memorável, daquelas que vocês vão lembrar daqui a 10 anos”.
 
A pluralidade da banda, totalmente entregue ao show, personificava o que o álbum queria representar na atual fase da carreira de Rubel, unindo canções de diferentes gêneros e parcerias de diferentes gerações. O cantor acompanhava a banda composta por 12 músicos de diversas regiões do Brasil: Pedro Fonte (bateria), Larissa Umaytá e Riccardo Braga (percussão), Vinicius Sampaio (guitarra e cavaquinho), Marco (DJ), Estela Paixão e Eloiza Paixão (backing vocal), Antonio Guerra (teclado e sanfona), Pablo Arruda (baixo), Thomaz Souza (saxofone) e Arthur Rita (trombone).

Acompanhando a voz, a sonoridade da banda escolhida para a Turnê As Palavras Vol. 1 e 2. Foto: Paulo Garcia / Divulgação

No setlist, estiveram presentes também canções como “Na Mão do Palhaço”, “Toda Beleza”, “As Palavras”, “Luz de Garrafa” e “Grão de Areia”. O público, maioria de pé durante toda a noite, cantava junto em alguns momentos, e em outros apenas apreciava a voz do cantor e da banda. Durante todo o tempo, um telão projetava trechos de filmes a cada música. Em dado momento, Rubel até para de cantar e, à vontade, se senta no chão para assistir ao vídeo que passava. Inclusive, era nítido como o cantor estava confortável no palco o que, segundo ele, não era comum: o enxergava como “ameaçador”. “Eu não conseguia abrir o olho, eu não conseguia ver o que eu tô vendo agora, e é muito lindo ver vocês nesse palco”, ele confessa.

Apesar da turnê ser dedicada ao novo álbum, seria impossível não trazer outros grandes sucessos, queridos pelo público. O setlist foi equilibrado com canções do álbum "Pearl" (2013), como “Quando Bate Aquela Saudade”, “O Velho e o Mar”, em tom acústico, e “Ben”. Já de "Casas" (2018), foram cantadas a plenos pulmões “Mantra”, parceria com Emicida, e “Colégio”. As conhecidas músicas românticas embalaram a apresentação, assistida majoritariamente por casais. Em “Partilhar”, um casal cantava os versos olhando nos olhos um do outro, provando que amor tão grande tem que ser vivido a todo instante. No telão, era projetado o trecho do filme “Before Sunset” (2004), inspiração para a música, como contou Rubel em sua rede social.

 

A bancária Denise Citolin veio de Caxias do Sul com seu marido, Henrique Deon, para ouvir "Toda Beleza", sua música preferida do novo álbum, e "Partilhar", a preferida da carreira e a que, segundo ela, define o relacionamento do casal, junto há três anos. Denise acompanha o cantor desde o início. O primeiro e último show que presenciou foi em 2018. "Foi um show bem pequenininho, só ele e o violão", conta.

As músicas de Rubel não marcam apenas relacionamentos amorosos. As estudantes Alice Brittes e Martinha Munhoz definem "Quando Bate Aquela Saudade" como a música que simboliza a amizade delas. Mal podiam esperar para encontrarem o ídolo. "A gente comprou o ingresso desde quando [o show] não tinha sido adiado ainda", lembra Alice. 

Em todas as canções que continham parcerias, Rubel as respeitou, não cantando a segunda voz, assim como na gravação de estúdio. Ele também deixava o público completar muitos versos. Em “Não Vou Reclamar de Deus” as vozes das apoio ecoavam no “Hoje não, já cansei de chorar / O meu caminho é de paz / Meu destino é blue”, em meio às palmas de todos.

O cantor não conseguia conter o sorriso quando avistava a plateia. “Esse disco novo que a gente está trazendo aqui é sobre uma tentativa de inventar um Brasil, ou descobrir um Brasil, ou me reapaixonar pelo Brasil”. O Rubel conta como passou os últimos anos se reconciliando com a ideia de Brasil através de uma pesquisa cultural. “A música brasileira e os meus ídolos e mestres me ajudaram a entender o que esse lugar pode ser. Esse palco é um lugar da nossa música e identidade como país e cultura”, declara.

Partindo para o encerramento do show memorável, que durou quase 1h30min, Rubel apresentou cada integrante da banda e, com um a um saindo do palco, as luzes se apagaram, e tudo indicava que a apresentação havia terminado. O público começou a pedir “bis”, mesmo que Rubel nunca o tenha feito em shows. Mas já que o imprevisto é esperto, ele não deixa hora marcada, o cantor surpreendeu a plateia e retornou ao palco com toda a banda, os presenteando com “Forró Violento” mais uma vez.

O verdadeiro encerramento de Rubel se deu com a mesma reverência do início, desta vez junto com a banda. A turnê cumpriu com o que propôs: uma conexão com o público – que, ao final do espetáculo, ficou sem palavras. 

*Supervisão de Luiz Gonzaga Lopes


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