Sátira sobre o nazismo é aplaudida no Festival de Berlim

Sátira sobre o nazismo é aplaudida no Festival de Berlim

"My Best Enemy" é dirigido pelo austríaco Wolfgang Murnberger

AFP

Sátira sobre o nazismo é aplaudida no Festival de Berlim

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Uma sátira feita por um diretor austríaco sobre um judeu que veste o uniforme de um oficial das SS para salvar a si próprio e a mãe do Holocausto foi surpreendentemente bem recebida nesta quarta-feira no Festival de Cinema de Berlim. “My Best Enemy", estrelado por Moritz Bleibtreu, um dos atores mais populares da Alemanha, é uma comédia que assume riscos ao tratar do nazismo, mas foi aplaudida em uma sala lotada durante exibição especial para a imprensa.

O diretor Wolfgang Murnberger, de 50 anos, explicou ter consciência de que caminhava na corda bamba com a sua abordagem dos horrores da era nazista, mas disse acreditar que o público está pronto para uma nova visão da história.

"Eu achava que este tema só pudesse ser abordado da forma como foi em 'A Lista de Schindler' em um filme de ficção porque é o jeito politicamente correto", afirmou a jornalistas, em alusão ao 'oscarizado' filme de Steven Spielberg. "Mas, depois, eu vi que era possível fazer mais do que mostrar judeus atrás de cercas de arame farpado em uniformes de campo de concentração. A ideia do filme é mostrar história em que o judeu pode ser o herói", acrescentou.

Bleibtreu interpreta Victor Kaufmann, o descendente dos donos ricos de uma galeria vienense que ainda acreditam que podem usar sua influência para escapar da máquina de matar nazista. Mas um amigo de infância, Rudi Smekal, que cresceu em uma vila da família Kaufmann enquanto sua mãe trabalhava como governanta, vê sua chance chegar com a ascenção do Terceiro Reich. Ele entra para a SS e trai a família ao prometer entregar uma inestimável gravura de Michelângelo mantida por Kaufmann. A obra é uma exigência do governo italiano, parceiro da Alemanha no eixo.

Os nazistas se apropriam da gravura e deportam a família, mas, quando chega a hora da entrega para os italianos, um especialista determina que a peça confiscada é uma falsificação. Eles exigem que Smekal tire Kaufmann do campo de concentração e o obrigue a revelar a localização do original. Mas seu avião cai na Polônia e, no caos subsequente, Kaufmann engana Smekal e consegue que ele lhe entregue seu uniforme.

Quando as tropas alemãs chegam, Kaufmann inicia um jogo perigoso no qual ele precisa se fazer passar por um nazista para salvar a própria vida e a de sua mãe. A corrida subsequente para encontrar o desenho de Michelângelo e organizar a fuga vira uma trapalhada quando Kaufmann se vê forçado a fazer a saudação "Sieg Heil" vestindo o uniforme nazista para esconder sua verdadeira identidade.

"Foi difícil manter o equilíbrio entre a comédia e a tragédia. Eu queria mostrar relances da história real, por exemplo os prisioneiros em um campo de concentração, como o pano de fundo de uma história fictícia", disse Murnberger. "Sou um diretor austríaco, talvez por isso tenha me atrevido a fazer este filme. Estou curioso para ver como será recebido na Alemanha", acrescentou.

No cinema alemão, abordagens mais leves do período nazista demostraram ser um projeto arriscado. No ano passado, "Jud Suess", que trazia o mesmo Bleibtreu no papel do chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels, foi vaiado ao ser apresentado na mostra competitiva do Festival de Berlim, e em 2007, "My Fuehrer - the Really Truest Truth About Adolf Hitler", que apresentou o líder nazista como um bebê chorão recebeu uma saraivada de críticas.

Apesar disso, "A Vida é Bela" (1997), o comediante italiano Roberto Benini, ambientado no Holocausto, conquistou três prêmios da Academia e foi um sucesso de bilheteria. "My Best Enemy" é exibido em caráter 'hors-concours' no Festival de Berlim, que termina no próximo domingo.

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