Show de Nei Lisboa e Gilberto Salvagni Big Band revive era de ouro do jazz

Show de Nei Lisboa e Gilberto Salvagni Big Band revive era de ouro do jazz

Apresentação em Porto Alegre ocorre nesta sexta, às 21h, no Teatro do Bourbon Country

Luiz Gonzaga Lopes

Nei Lisboa e Gilberto Salvagni Big Band apresentam repertório da era de ouro do jazz

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Num momento pelo qual passamos, no qual a palavra crise parece ser a tônica dominante, não há nada melhor do que lembrar da era de ouro do jazz, o período compreendido entre o final da década de 10 do século XX e os anos 1940. Para refrescar a memória do público e promover este embarque intersecular, o músico caxiense, residente em Porto Alegre desde a infância, Nei Lisboa se juntou ao maestro Gilberto Salvagni (ex-regente da Banda Municipal de Porto Alegre) e a sua recém-criada Gilberto Salvagni Big Band para apresentar uma celebração ao período do swing do jazz nesta sexta-feira, às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Tulio de Rose, 80). Os ingressos custam entre R$ 60 e R$ 150.

Serão 16 músicas, 12 cantadas e quatro somente com arranjos orquestrados, como "Darktown Strutters’ Ball" (Shelton Brooks), "In the mood" (Joe Garland / Andy Razaf), "Sing, Sing, Sing" (Louis Prima), "Bourbon Street Parade" (Paul Barbarin), "I’ve got you Under my Skin" e 'Night and Day" (Cole Porter); "It Don't Mean a Thing" (Duke Ellington / Irving Mills), "Someone to Watch Over Me" (George & Ira Gershwin) e "Mack the Knife" (Kurt Weill / Brecht), enfim os clássicos orquestrados da primeira metade do século XX, com arranjos escritos por Gilberto Salvagni. A big band é formada por 17 instrumentistas, na distribuição clássica das big bands: cinco saxofones, quatro trompetes, quatro trombones, bateria, contrabaixo, teclado e guitarra.

Quem explica esta união aparentemente inusitada é o próprio maestro Gilberto Salvagni, de 44 anos. "Conheci o Nei Lisboa em 2013, quando eu regia a Banda Municipal e ele era o músico convidado. Confessei a ele o meu plano de montar uma big band e fazer um projeto com um artista autoral consolidado. Três anos depois, ele tinha uma data reservada no Bourbon Country e nos juntamos para escolher o repertório e fazer este show que tem uma grande significação para a diversidade da música e para os envolvidos e, espero, que para o público presente", explica Salvagni, que atualmente rege a Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul.

"Esta parceria com o Gilberto foi uma junção de dois desejos, o dele de criar um big band para mostrar aquela era de ouro do jazz, de grandes orquestras e cantores e também o meu, de dar uma folga no meu processo como compositor para executar canções que eu gosto, de outras épocas e com outros formatos", complementa Nei.

Centenário

O show tem diversas significações possíveis. Uma delas é introduzida por Nei Lisboa. "A música mais antiga do repertório é 'Darktown Strutter´s Ball', do Shelton Brooks, cuja versão da Alberta Hunter serve de base para o nosso arranjo. A canção é de 1917 e estaremos introduzindo o seu centenário lá no Bourbon Country. É importante dizer que a maioria das músicas dos anos 1920 e 1930 mostravam toda aquele contraponto a um período de crise. São composições absolutamente geniais e que também servem para resgatar a coisa da big band pelo Brasil. Sei que atualmente temos festivais de big bands pelo país e algumas iniciativas de uns anos para cá. É um tipo de formação que deve resistir", aponta.

Salvagni observa que os arranjos seguem mais a escrita mais aberta e diversa dos anos 1960, as versões das músicas originais da era de ouro. "O arranjo que escrevi para 'Darktown Strutter´s Ball' segue a execução da Alberta Hunter, um pré-fusion, ainda dixieland. Nas três primeiras voltas, sigo com um combo de bateria, baixo, guitarra, clarinete e trombone. A partir do quarto chorus, a big band entra e temos o fraseado do dixieland, algo como fariam as bands de Duke Ellington e Glenn Miller", detalha Salvagni, lembrando, por reger atualmente uma orquestra de sopros, que o fraseado idiomático dos sopros está sempre associado ao jazz.

Sobrinhos e netos

Nei Lisboa lembra um pouco deste atual descolamento da sua própria música (no meio do ano fez um show só de clássicos do blues e músicas próprias que remetem ao gênero). "As músicas da gente são como filhos. Temos que cuidar delas a toda a hora. Agora estou cuidando dos meus sobrinhos e netos (canções dos outros). Querendo um pouco da parte boa, da diversão da música. Além do mais, este estudo para o show com a big band e com a regência e arranjos do Gilberto é um aprendizado e uma oxigenação. Estou sendo um aprendiz de crooner. Não vou chegar a ser um Frank Sinatra, mas sigo um caminho diverso", declara Nei, apaixonado por músicas em inglês, principalmente norte-americanas.

A origem desta paixão foi um intercâmbio que fez dos 16 para os 17 anos de idade em Barstow, na Califórnia. "Saca aquela cidade pequena meio cenário do filme Bagdad Café. Lá era uma coisa de solidão e de ouvir todo o tipo de músicas e tirar muitas delas no violão. Aquilo também determinou o que seria o início da minha carreira. O cancioneiro norte-americano é, inegavelmente, um dos maiores do mundo, pois sofre forte influência da raiz negra. Não sou a favor da dominação cultural dos Estados Unidos, como indústria cultural, mas a riqueza artística das músicas está acima de questões políticas ou de dominação", observa Nei, que finaliza sua fala recortando algumas bandas e expoentes gaúchos que o impressionam. "Não consigo acompanhar tanto, mas reconheço que há uma diversidade e gente boa em todas as áreas, samba, choro, rock, MPB, funk, hip hop. Tenho gostado do Apanhador Só, Dingo Bells, Filipe Catto, os Ramil mais jovens - Thiago e Ian, entre outros."

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