Sofia tem uma visão estratégica para o setor audiovisual

Sofia tem uma visão estratégica para o setor audiovisual

Diretora do Iecine atua no planejamento e execução de políticas públicas para a cinematografia gaúcha

Leticia Pasuch *

A diretora pensa em dar continuidade às políticas públicas audiovisuais e buscar novas formas de transversalidade

publicidade

Sofia Ferreira havia acabado de entrar na faculdade de Artes Cênicas. Sentada em uma das salas do Departamento de Artes Dramáticas da Ufrgs, cheia de viço para fazer o que tanto queria, ouviu de um professor uma citação do dramaturgo alemão Bertolt Brecht de que o teatro era uma ferramenta social para o audiovisual. Hoje, guarda com esperança esses aspectos, e enxerga o setor com essa mesma potência. E de audiovisual ela entende. Desde fevereiro deste ano, capitaneia o Instituto Estadual do Cinema (Iecine), Instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac).

Desde pequena, Sofia participava do teatro na escola, e tinha muitos anseios ligados à cultura. Filha de professora, a ligação também é forte com a educação: além da licenciatura no Teatro, fez mestrado em Educação e se especializou em Pedagogia da Arte. Sua trajetória profissional iniciou como agente cultural; carrega duas décadas de experiência em realização de projetos na área, com enfoque audiovisual e educacional.

Desse período de atuação, Sofia destaca a fundação da Reina Produções, uma realizadora cultural. Junto com Kaya Rodrigues, sua sócia, atuou na criação, desenvolvimento e execução de projetos socioculturais. No início de 2021, ela também se envolveu na direção executiva do Fade To Black Festival, primeiro festival internacional de narrativas negras que aconteceu no Rio Grande do Sul – online em função da pandemia. O festival propôs visibilizar e potencializar produções audiovisuais nacionais e internacionais com narrativas negras.

Ela também foi vice-presidente do Sindicato da Indústria do Audiovisual gaúcho no biênio 2021-22. “Foi importante para que eu chegasse no Iecine com uma visão panorâmica interessante”, revela. O Sindicato reúne produtores do audiovisual gaúcho, com desenvolvimento nas complexidades do setor.

Gestão

Sofia não pensava em trabalhar com gestão pública, mas se sentiu desafiada com o convite recebido pela diretora do Departamento de Artes e Economia Criativa, Ana Fagundes, para gerir o instituto. “Gosto de crescer, expandir e me aprofundar. Me interesso pela oportunidade de estar pensando de uma forma macro”, diz a diretora. 
O Iecine visa ao desenvolvimento de políticas públicas e a incentivar a produção, distribuição e exibição de produtos cinematográficos no estado. A instituição também realiza parcerias com instituições cinematográficas do Brasil e da América Latina, produzindo mostras, festivais e outras atividades que contribuem para o fomento da cadeia produtiva do audiovisual.

Sofia divide o escopo de atuação em três eixos. O primeiro, educativo, é voltado para formação e qualificação de novos profissionais para o fomento da cadeia audiovisual e o desenvolvimento das obras. O segundo, de pesquisa e memória, foca no resgate da história cinematográfica do Estado, que, nas suas palavras, carrega um importante legado. Adianta, inclusive, que será lançado neste ano o Portal do Cinema Gaúcho, com pesquisas e levantamento de dados sobre essa história, realizado pelo pesquisador Glênio Póvoas. O último eixo, a transversalidade, trabalha com a democratização e a descentralização da produção audiovisual, tanto relacionado aos bens de produção como à inclusão.

Sofia: “Tenho um relacionamento de longa data com esse centro cultural. Poder trabalhar aqui é um presente”. Foto: Ricardo Giusti

O Iecine tem articulação com a Cinemateca Paulo Amorim, gerida por Mônica Kanitz. Sofia define a instituição como um importante braço da gestão. “A gente tem esse ponto de contato vívido e concreto através das salas de cinema”, diz a diretora. Ela completa que a Cinemateca “está em boas mãos, e essa relação só tende a se qualificar cada vez mais”. 

Para Sofia, estar alicerçada a uma equipe tão atuante é a chave para que o trabalho de um instituto estadual se consolide. “Estou muito feliz que conto com uma equipe dedicada, com pessoas interessadas e que gostam do que fazem”, diz. A gestora também destaca, no escopo do Iecine, o Festival Cinema Negro em Ação. Fundado em 2019 por Camila de Moraes, em parceria com o então diretor do Iecine Zeca Brito, a iniciativa audiovisual da Sedac objetiva identificar e visibilizar os profissionais negros brasileiros que atuam no audiovisual e incentivar sua formação, fomentando o protagonismo e inclusão dos realizadores pretos. Sofia já havia participado como curadora e produtora do eixo Mercado & Conteúdos da 2ª edição da mostra competitiva. Na 3ª edição, em 2022, foi coordenadora e curadora geral do festival. 

Ela lembra que, dos 26 estados do Brasil, o Rio Grande do Sul é o único que tem iniciativa audiovisual afirmativa partida do próprio Governo do Estado. Para a diretora, ações como a do festival são vitais e imprescindíveis. “É para permitir que a população negra do estado se reconheça, mas também para que o Rio Grande do Sul reconheça a sua população negra e a importância dela. Não é à toa que o 20 de novembro nasceu aqui”. A edição deste ano está prevista para acontecer no segundo semestre.

Um dos desafios da gestão é também dar continuidade no Laboratório Iecine Odilon Lopez. Sofia participou do lançamento em março de 2021 em homenagem ao primeiro homem negro a dirigir um longa-metragem no Rio Grande do Sul. Localizado no 5° andar da Ala Alfândega da Casa de Cultura Mário Quintana, o espaço foi desenvolvido para ser um mecanismo de democratização de acessos aos meios de produção audiovisual. 

Desde a fundação do laboratório, ocorreram oficinas e atividades pontuais. Mas a ideia é que equipamentos de produção e edição audiovisual sejam doados a realizadores e produtores audiovisuais com interesse em realizar suas obras, mas sem meios de financiamento – tornando, assim, a produção audiovisual acessível e democrática. Sofia adverte que o projeto está finalizando a tramitação e em fase de aquisição dos materiais. Uma vez que todos os equipamentos estiverem no espaço, será lançada a atividade.
Em conjunto com o coletivo de profissionais pretos do RS Macumba LAB, Sofia também atuou na produção do curta-metragem documental “Odilon Lopez - 50 Anos”, celebrando o legado do cineasta.

O Iecine também é umas das entidades organizadoras do Festival de Cinema de Gramado. Sofia garante continuidade do Prêmio Iecine para os filmes de longa-metragem da Mostra Gaúcha do festival deste ano – entre 11 e 19 de agosto –, uma das iniciativas. Além disso, a instituição terá participação nas indicações para o júri.

Sofia ressalta que o maior desafio para a gestão deste ano é atender às demandas da Lei Paulo Gustavo. “Vai exigir bastante do audiovisual e do Iecine, no sentido de desenvolver política pública para execução da lei no Estado". Além disso, a gestora pensará em como dar continuidade nas políticas públicas já existentes, e buscar novas formas de transversalidade e inovação.

As ferramentas necessárias para que a gestão seja profícua, Sofia tem. “Acredito que está alicerçado no poder da escuta, poder contar com uma equipe atuante e dedicada, cercada de lideranças femininas e movida por paixão. Acho que essas são as ferramentas que me sustentam”.

* Supervisão de Luiz G. Lopes


Mais Lidas

Guia de Programação: a grade dos canais da TV aberta desta quarta-feira, dia 1 de maio de 2024

As informações são repassadas pelas emissoras de televisão e podem sofrer alteração sem aviso prévio

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895